Guerra entre duquesas. Com vestidos e pérolas se ilude o povo?

Guerra entre duquesas. Com vestidos e pérolas se ilude o povo?


As zangas entre Meghan e Kate têm feito correr muita tinta nos jornais. Além disso, ajudaram a desviar as atenções de algo importante: o Reino Unido já chegou a acordo para sair da UE


Nem todos os contos de fadas acabam com um beijo de amor eterno ao som das 12 badaladas. Na verdade, aquilo que temos mais próximo de uma história digna de um filme da Disney assemelha-se mais a uma telenovela mexicana, com duas cunhadas zangadas, dois irmãos prestes a virar costas um ao outro e uma nação à beira de um ataque de nervos. A família real britânica passa por uma nova crise, mas será que a troca de galhardetes tem impacto no povo? Ou é apenas uma manobra de diversão para desviar atenções do que é realmente preocupante?

A luta entre as duas duquesas tem feito correr muita tinta em todo o mundo. Aparentemente, Kate Middleton e Meghan Markle não têm uma boa relação. Porquê? A imprensa britânica aponta várias razões sem ter certeza de qualquer uma. A arrogância de Markle com os empregados do palácio, as exigências que fez em relação à roupa da sobrinha Charlotte – filha de William e Kate – no dia do casamento com o príncipe Harry e o convite da rainha Isabel ii à mãe da atriz norte-americana para passar o Natal com a família real – convite esse que nunca foi feito aos pais de Kate – são algumas das razões que, segundo a imprensa britânica, levaram a duquesa de Cambridge a explodir. Dizem as fontes próximas da casa real que as discussões com Meghan eram tão agressivas que Middleton chegou mesmo a abandonar a sala em lágrimas.

Certo é que as alegadas discussões levaram a que famílias que antes partilhavam a mesma casa passassem a viver em palácios diferentes. No final de novembro, o Palácio de Kensington justificou a saída de Harry e Meghan com a chegada do primeiro filho: “Os duques de Sussex vão mudar-se para a Casa de Frogmore, em Windsor, no início do ano, preparando-se para a chegada do seu primeiro filho. O casal vive em Nottingham Cottage [no Palácio de Kensington] desde que ficaram noivos.” No entanto, muitos acreditam que esta não foi a verdadeira razão que levou Harry e Meghan a abandonar Kensington – o mal-estar entre cunhadas era tal que as famílias tiveram mesmo de se separar. 

A partir daqui, a luta entre cunhadas ganhou outras proporções. Várias publicações escreveram que a guerra tinha chegado aos príncipes: conhecidos pela sua proximidade fraternal, William e Harry estariam agora mais distantes do que nunca, com cada um a defender a sua dama. Ao ponto de nem sequer passarem o Natal juntos: várias revistas avançaram que os príncipes iriam passar o dia 25 em casa dos sogros de William, Carole e Michael Middleton, enquanto Harry e Meghan ficariam com a rainha em Sandringham, Norfolk, como já é tradição. Esta notícia foi desmentida por algumas publicações, mas a verdade é que a casa real não emitiu qualquer esclarecimento em relação a este assunto.

A gota de água surgiu no início deste mês, quando o tabloide britânico “The Sun” noticiou que, durante uma das inúmeras discussões, a mulher do príncipe William chegou mesmo a dar um estalo à cunhada. Agora, sim, era altura de reagir: o Palácio de Buckingham viu-se obrigado a pronunciar-se sobre o assunto e, através de fonte oficial citada pelo jornal “The Mirror”, a família real fez saber que tal episódio “nunca aconteceu”. A casa real escusou-se a fazer mais comentários sobre o alegado mau ambiente entre as duquesas.

Na mesma altura, Kate Middleton tentou colocar água na fervura e mostrar que, aparentemente, as coisas entre cunhadas não estão assim tão más. Questionada sobre se estaria entusiasmada com a chegada de mais um membro à família real, a duquesa de Cambridge deu uma resposta simples: “Absolutamente! Este é um momento especial para ter bebés. E vem aí um primo para o George e a Charlotte e, claro, para o Louis. Vai ser muito especial”, afirmou.

Coincidência? Mas de que forma esta guerra entre duquesas afeta o Reino Unido? Alguns acreditam que a zanga vai muito além da divisão de opiniões – há quem a caracterize como uma verdadeira manobra de diversão. 

A jornalista Suzanne Moore faz uma ligação curiosa na sua coluna de opinião no jornal “The Guardian”: esta desavença real surge precisamente na altura em que o Reino Unido “está mais dividido do que nunca, sem certezas de como será o seu futuro e perante o risco de enfrentar uma crise constitucional que o deixará ingovernável. Por isso, a imprensa mais popular tenta não nos dividir ainda mais, mas sim distrair-nos” com questões como estas, defende.

A cronista refere-se ao Brexit, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia. De facto, tudo aconteceu mais ou menos ao mesmo tempo. A 25 de novembro, o líder do Conselho Europeu, Donald Tusk, confirmou que os líderes dos 27 países-membros da União Europeia aprovaram o acordo do Brexit, assinado com a primeira-ministra britânica, Theresa May. “É um acordo que funciona para o Reino Unido e para a União Europeia”, defendeu a líder britânica na altura. “Saímos do mercado único, mas temos um acordo comercial que é melhor que o de qualquer outro país”, sublinhou, reconhecendo que, apesar dos seus esforços, “muita gente no Reino Unido” está descontente com esta decisão.

Coincidência das coincidências: as notícias relacionadas com a guerra entre cunhadas surgem na mesma altura. Aliás, o comunicado que revelava que Meghan e Harry iam mudar de casa foi emitido no dia 24, um dia antes da reunião dos países-membros da União Europeia. 

Suzanne Moore diz no seu artigo que a “autocomplacência” com que o Reino Unido recebeu uma “mulher divorciada com várias heranças culturais na família real não durou muito tempo (…) A Inglaterra deu uma palmadinha nas costas a si mesma por ter a capacidade de aceitar uma mulher lindíssima, que não é branca e tem muitas opiniões, ao mesmo tempo que nos é dito que os imigrantes que não são brancos causam algum desconforto na população em geral”, fazendo uma referência a uma das principais questões relacionadas com o Brexit: a possível saída de milhões de imigrantes que vivem e trabalham no Reino Unido. 

Ou seja, o que antes serviu para mostrar que a Inglaterra era um país que aceitava a diferença, que a família real tinha evoluído e estava preparada para lidar com os novos tempos, serve agora também para lançar areia para os olhos e desviar atenções do que realmente se está a passar: não são as duquesas que estão zangadas – existe um país dividido não por causa de vestidos ou tiaras, mas por questões políticas.