A nova ferramenta do Facebook permite aos utilizadores festejar o aniversário de uma forma mais solidária, mas não está limitada a estas datas: qualquer utilizador pode, em qualquer momento, criar uma angariação de fundos. A onda de solidariedade parece estar a espalhar-se por todo o mundo, tanto que a rede social de Mark Zuckerberg anunciou, em novembro, ter chegado a mais de mil milhões de dólares angariados por esta via. Nos 19 países onde esta nova forma de ajudar está disponível foram mais de 20 milhões as pessoas que criaram uma angariação ou doaram algum dinheiro para as mais de um milhão de organizações sem fins lucrativos já inscritas na ferramenta. Mas se criar uma campanha e doar é rápido, fazer parte da lista de contemplados não é um processo assim tão imediato para as associações e demais entidades.
A rede social exige, desde logo, que cada instituição se qualifique para poder receber estes donativos. No fundo, as associações têm de fornecer um conjunto de dados e documentos para atestar a sua idoneidade.
As organizações sem fins lucrativos sediadas na Europa têm de indicar a data de nascimento e endereço do diretor executivo da instituição e detalhes da conta bancária – incluindo o nome o banco, o titular da conta, uma carta ou um extrato bancário oficial com data dos últimos três meses e ainda os dados que serão usados para as transferências, como um código SWIFT e o IBAN. Têm também de apresentar documentos de registo da instituição de caridade, explica a rede social.
Além disso, a página da instituição na rede social tem de estar bem catalogada: só serão aceites entidades que estejam inscritas no Facebook como “organização sem fins lucrativos” ou “organização de caridade”.
Cumpridas estas obrigatoriedades, o administrador da página terá de iniciar sessão nos pagamentos e aceitar os termos de serviço do Facebook e os de gestor de negócio.
Perante os diferentes passos a seguir, por vezes surgem dificuldades e o processo chega a demorar meses. Essa foi, pelo menos, a experiência de algumas das associações contactadas pelo i.
A Associação Zoófila Portuguesa (AZP), começou a tentar aderir no verão, mas não conseguiu ser logo aceite. Em outubro fez uma nova tentativa, mas o Facebook parecia não querer aceitar o nome da associação, explicou ao i Bianca Santos, vice-presidente da AZP. “Tivemos de entrar em conversações com eles e tentar alterar algumas tecnicidades.” Seguidos todos os passos, começaram a receber donativos em pouco tempo.
No caso da Acreditar, o processo também levou alguns meses. “Iniciámos o processo em abril, mas demorou algum tempo porque foram necessárias muitas burocracias”, lembra Filipa Carvalho, coordenadora de comunicação da associação. O primeiro donativo aconteceu a 14 de agosto.
“Temos esta ferramenta disponível, mas não há muito tempo”, diz também Tânia Nunes, da unidade de fundraising da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. “Só no verão deste ano é que conseguimos aderir porque também houve uns processos do lado deles que demoraram um bocadinho mais”, referiu ao i.
Apesar de haver demoras, nem todos os inícios são atribulados. Paula Peres, coordenadora de angariação de fundos particulares da Operação Nariz Vermelho, explicou ao i que foram aceites já há um ano e não tem memória de ter sido muito difícil. “Fizemos o pedido ao Facebook, demos as informações necessárias para sermos uma organização de alguma forma credenciada ou autenticada e precisámos de enviar alguma documentação. Logo que o fizemos, começámos a angariar”, concluiu.
Uma boa experiência também partilhada por João Marques, do departamento de comunicação da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM). “Fomos uma das primeiras 20 instituições de solidariedade social a poder fazer este tipo de angariações. Fizemos uma submissão ao Facebook que foi aceite e, embora demorasse algum tempo a ser aprovada, em fevereiro começámos a receber estes donativos.”
Há também o caso das instituições internacionais, para as quais o processo é mais fácil e rápido. É o caso das Aldeias de Crianças SOS. “O Facebook já tem uma lista específica de organizações sem fins lucrativos que considera terem alguma popularidade e, portanto, como nós somos uma organização internacional, foi mais fácil”, explicou Filipa Santos. “Porque somos bastante conhecidos e porque já estávamos a utilizar este método noutros países”, esclareceu.
Com mais ou menos atrasos, a verdade é que todas estas associações conseguem angariar valores representativos e com peso na vida financeira da organização. E em Portugal já são cerca de 166 as organizações credenciadas na rede social.
Que impacto pode ter o Facebook? Não existem estudos, mas é possível fazer algumas contas. Portugal fechou o ano de 2017 com cerca de 6,4 milhões de utilizadores na rede social. Se cada um doasse 10 euros para uma qualquer instituição pelo menos uma vez por ano, seria possível injetar 64 milhões de euros no terceiro setor. A dividir por estas 166 associações, daria uma transferência de 385 mil euros para cada uma.
O i tentou perceber junto do Facebook quantos utilizadores portugueses já fizeram donativos e qual o montante angariado, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.