Familiares de detidos em Custoias preparam manifestação

Familiares de detidos em Custoias preparam manifestação


Ausência de festa de Natal revolta reclusos e familiares. Falta de tabaco agrava clima no interior da cadeia


Os familiares dos reclusos da cadeia de Custoias, em Matosinhos, estão indignados com a greve dos guardas prisionais, principalmente a sua continuação em pleno período natalício, estando marcada já uma concentração, para esta quarta-feira, dia em que deveria haver visitas aos detidos mas que, por causa das contingências grevistas, estas não se realizarão.

Ao longo deste fim de semana, o clima foi de grande tensão dentro e fora da cadeia de Custoias, conforme constatou o i, quer sábado de manhã, durante as visitas aos reclusos do pavilhão A, quer ontem, domingo, com visitantes aos detidos do pavilhão C durante a manhã e do pavilhão B de tarde, tudo a decorrer num universo com mais de mil reclusos.

A proximidade do Natal e do Ano Novo está a agravar a situação de revolta não só entre os reclusos como junto dos seus familiares, uma vez que tudo indica que não haverá este ano o habitual convívio natalício com os parentes, uma oportunidade que é aguardada durante todo o ano, até por nesse encontro poderem participar mais facilmente filhos dos reclusos.

A agravar a situação está o facto de terem sido suprimidas visitas aos reclusos, pois o reduzido número de guardas prisionais em cada turno de visitas não permite a rapidez desejada para as revistas e outros procedimentos de segurança, levando a que os encontros entre detidos e familiares nos parlatórios durem muito menos tempo que o previsto. 

Segundo parentes de reclusos que o i ouviu ontem de tarde, à porta da cadeia de Custoias, “todas as greves causam problemas”, mas “esta está a passar os limites”, porque “durante estes últimos dias nem sequer deixam entrar comida para as celas e, apesar de estarmos já próximo do Natal, desta vez nem sequer os doces tradicionais deixam entrar aqui dentro”. 

A propósito destas afirmações e lamentos, Pedro Silvério, dirigente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional (SNCGP), esclareceu ao i que “estão a ser cumpridas todas as normas legais e os reclusos têm uma visita semanal, conforme está estabelecido superiormente. É o que diz a lei e os regulamentos em vigor, pelo que está a ser, como sempre, assegurado”.

Sem tabaco já há roubos Vários familiares contactados pelo i queixam-se também de os bares estarem fechados, o que não permite aos detidos comprarem tabaco, bens alimentares e produtos de higiene para levarem para dentro das celas e camaratas, apesar de terem os cartões carregados para o efeito.

A falta de tabaco levou já ao roubo de cigarros, agravando o clima de mau ambiente que se vive agora na maior penitenciária nortenha, com um misto de reclusos preventivos e condenados, situação denunciada por familiares e amigos de detidos que, por isso mesmo, vão concentrar-se depois de amanhã, quarta-feira, à frente da entrada da cadeia de Custoias. Não poupam críticas aos efeitos da greve, pedindo a intervenção da ministra da Justiça em particular e do governo em geral “para acabar com esta situação, que não interessa a ninguém. Quem mais perde com tudo isto são os nossos familiares, porque já estão a pagar pelo que fizeram e são apanhados no meio de uma guerra que não é nada com eles”, disse ao i a mulher de um detido, pedindo anonimato, temendo eventuais represálias contra o marido.

Guardas de prevenção Depois do motim da passada terça-feira, dia em que não houve visitas por estar a decorrer um plenário do SNCGP, este fim de semana houve um reforço de segurança, devido aos rumores de possibilidade de uma nova amotinação, especialmente ontem, domingo, da parte da tarde, quando há um maior número de visitas. 

Este fim de semana estiveram no Estabelecimento Prisional do Porto (cadeia de Custoias) o seu diretor, José Júlio Carvalho, a par do comissário Sá Teixeira, responsável máximo pelo Corpo da Guarda Prisional na principal penitenciária nortenha, enquanto se ativou o grupo antimotim local, a par do Grupo de Intervenção e Segurança Prisional (GISP), cujo 2.o Esquadrão passou a estar concentrado na vizinha cadeia de Santa Cruz do Bispo.

Mãe e avó de reclusos triste mas esperançada Eva Azevedo, de Vila Nova de Gaia, que tem um filho e um neto presos na cadeia de Custoias, está triste com a iminência de este ano não haver festa de Natal, mas ainda tem esperança numa eventual reviravolta que permita nos próximos dias o convívio natalício.

Ao final da tarde de ontem, depois da visita no pavilhão B, onde estão o filho e o neto, Eva Azevedo disse que “o ambiente está aparentemente calmo, mas é uma pena se este ano não houver a festa de Natal, porque é um momento único para convivermos com eles”.

“Eles querem fumar e não têm possibilidade de comprar cigarros. Vieram calmos, eles até nunca se metem em confusões, mas esta situação é complicada para quem está preso”, diz a familiar dos dois reclusos, “sempre preocupada com o que possa acontecer.”