Já aqui teci rasgados elogios ao povo português e continuo a achar que é do melhor que existe por este planeta fora. Somos humildes, solidários, simpáticos, trabalhadores e inovadores. Cantamos o fado mas, a cada geração que passa, o fado é cada vez mais, e apenas, um estilo de música. Somos poucos, mas bons.
O mesmo não se poderá dizer perante os factos que ultimamente se evidenciaram no nosso país. Um pontual, o outro mais ou menos duradouro e, sobretudo, sazonal.
Vamos ao pontual. A visita de Xi Jinping, provavelmente o segundo homem mais poderoso do mundo. O homem que detém o controlo sobre grande parte das infraestruturas críticas do nosso país e, seguramente, o homem menos impressionável do planeta.
À boa maneira chinesa, veio a Portugal com uma agenda muito própria, legítima e, claro está, a defender os interesses chineses. Interesses que não se focam apenas em Portugal, mas têm o nosso país como plataforma estratégica e miradouro para África (pelo menos, a lusófona) e para a Europa, onde não tem uma posição tão efetiva como em Portugal.
Respeita-nos como, naturalmente, a sapiência chinesa manda, e como respeita todas as grandes nações atuais, ou passadas, como foi a nossa. Se há coisa que a China sempre fez foi respeitar e aprender com os grandes povos de outrora.
Na terça-feira, enquanto o presidente chinês deambulava entre o Palácio de Belém, da Ajuda e o Hotel Ritz, as autoridades portuguesas fizeram o favor de evaporar os lisboetas das ruas por onde a comitiva passava. Não compreendo esta necessidade e é sinónimo de um provincianismo bacoco. Não me recordo de ter acontecido o mesmo com Putin ou Obama. Parecia que Dom Pedro estava a regressar à metrópole, onde o provincianismo impera.
Agora, o episódio sazonal e mais ou menos duradouro. Regista-se em vésperas de eleições, e não, não se trata de inaugurações e intervenções espalhafatosas dos governantes. Diga-se de passagem que este ano até estão bastante comedidos e não se têm visto ações de propaganda deste governo. Refiro-me à gripe da contestação que por estes dias ataca a maioria dos sindicalistas.
Não sei se já se deram conta mas, nos últimos meses e à medida que nos aproximamos de eleições, parece que vivemos uma pandemia sindicalista. Não há classe nem setor em que, por norma, os sindicatos afetos à CGTP não apareçam na televisão e nas ruas a reivindicar qualquer coisa.
Lá aparecem os Mários Nogueiras desta vida esbracejando e reivindicando a torto e a direito. Não importa como nem se incomoda a maioria da população, que nada tem a ver com o assunto, e essas ações apenas trazem animosidade para com as suas causas.
Dá-se um pontapé numa pedra e lá aparece um sindicato do qual nunca se ouviu falar e do qual, numa avaliação mais cuidada, se conclui que tem mais dirigentes que associados.
O último episódio é por demais caricato. A Cristina Ferreira dos sindicatos, entenda-se Mário Nogueira, acusa o governo de não querer dialogar. Expõe e verbaliza com propriedade que este governo é arrogante e mentiroso. Protesta-se a bom som: os malvados destes governantes recusam-se a sentar-se à mesa com os sindicatos. Pois no dia em que o Ministério da Educação convoca para a mesa das negociações, a resposta é duvidosa, escondendo-se por trás de um procedimento administrativo segundo o qual a convocatória tem de ser feita com cinco dias de antecedência… Por amor da santa, ou não sabe o que anda a defender ou deve ter necessidade de preparação. Só me ocorre uma palavra: oportunismo.
Portugal merece melhor que isto. Por um lado, afirmação das suas capacidades de receber um dos homens mais poderosos do mundo sem que tenha de pôr em causa o bem-estar da sua população.
Por outro, o bravo e grandioso povo português merecia melhores sindicalistas. Que estivessem verdadeiramente empenhados em diariamente defenderem os interesses dos trabalhadores, e não uma classe dirigente que vive de sazonalidade, a qual lhe vai dando balões de oxigénio para sobreviver, fazendo a única coisa que efetivamente sabe – protestar por protestar.
Escreve à quinta-feira