Não é bom os jornalistas “chamarem” as notícias


Todos nos confrontamos com os mesmos problemas e é fácil entrar em jogos perigosos para conseguir mais audiência ou leitores


O jornalismo vive momentos conturbados e a concorrência das redes sociais ajuda mais à festa. É certo que não há um único meio que não tenha sites e, por isso, é preciso acompanhar a atualidade ao segundo. Todos nos confrontamos com os mesmos problemas e é fácil entrar em jogos perigosos para conseguir mais audiência ou leitores. Para nos distinguirmos das redes sociais, o caminho não pode ser o do sensacionalismo, que foi o que vi na manhã de ontem. Por volta das oito horas, já algumas televisões faziam diretos da entrada do Estabelecimento Prisional de Lisboa, onde, na noite anterior, alguns reclusos atearam fogo a caixotes de lixo e a um colchão, segundo rezam as crónicas. A história tinha todos os condimentos para os diretos televisivos e para encher os sites, alimentada, ainda por cima, por ausência de informação oficial dos responsáveis prisionais. Às tantas, não paravam de chegar autotanques dos bombeiros e alguns repórteres de serviço tentavam relatar o que viam, mas sem qualquer enquadramento. Afinal, o fogo não devia estar extinto, pois cada vez havia mais bombeiros. Tudo isto se passava até que o diretor-geral dos Serviços Prisionais decidiu esclarecer as televisões, afirmando que não tinham sido eles a chamar os bombeiros e que tudo não passava de uma brincadeira de mau gosto. O fogo há muito que tinha sido apagado.

Voltando à manhã de ontem, as televisões começaram os tais diretos sem a presença de nenhum manifestante, leia-se familiares do detidos: “Ainda não chegou ninguém, mas é natural que tal aconteça dentro de momentos”, dizia uma das repórteres destacadas. Até que, finalmente, lá apareceu um familiar de um detido que, ainda por cima, tinha vindo de Paris… escusado será dizer que, passadas umas horas, não faltavam familiares para os vários diretos, mas nessa altura desliguei a televisão e vim para o jornal. Os jornalistas não devem nem podem provocar notícias, mas cada vez mais entram nesse jogo perigoso…