O livro é sobre a criação da RTP Internacional e a afirmação de Portugal no mundo, mas Luís Marques Mendes não perde a oportunidade para refletir sobre a atualidade política e o futuro do país. Com prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa e posfácios de Jorge Sampaio e Cavaco Silva, “Afirmar Portugal no Mundo” conta a história da televisão internacional e, a reboque desta experiência, o autor defende a necessidade de consensos políticos.
“Portugal é, nos últimos anos, um país politicamente muito crispado. É fácil divergir, é difícil convergir”, escreve o conselheiro de Estado, que considera importante refletir sobre a razão de os consensos serem hoje mais difíceis de alcançar do que no passado. A resposta de Marques Mendes é “só uma: a qualidade dos protagonistas políticos”. Para o ex-líder do PSD, nos primeiros anos da democracia, o país “teve o melhor da sociedade a fazer política”, mas “a qualidade dos protagonistas políticos baixou extraordinariamente”. E acrescenta:_“Baixou a competência na ação, a autoridade na afirmação, a coragem na decisão e a credibilidade na intervenção”.
Numa altura em que Rui Rio tem sido criticado internamente por fazer uma oposição pouco agressiva, Marques Mendes lamenta que os dirigentes políticos vejam os entendimentos entre partidos como “um sinal de fraqueza” e que seja “uma manifestação de força”, para a generalidade dos políticos, “falar alto” e “até insultar”.
O antigo presidente do PSD esclarece, no entanto, que ao defender consensos políticos em matérias essenciais não está a advogar o Bloco Central. “Não confundamos a estrada da Beira com a beira da estrada. Governos de Bloco Central são, a nosso ver, uma má solução. Limitam a oposição e a alternativa porque juntam no poder, lado a lado, quem deve ser, por natureza, alternante na governação, fomentam o poder dos extremos, à direita e à esquerda, o que nem sempre é benéfico para a saúde da democracia e nem sequer estimulam o impacto reformista da governação”, escreve Marques Mendes.
Na introdução do livro, que é hoje lançado, o conselheiro de Estado afirma ainda que “é confrangedora a quebra de qualidade que ultimamente se verificou na escolha dos responsáveis políticos”. Marques Mendes regressa ao tema dos consensos políticos quase no fim do livro, que será lançado amanhã. No capítulo a que chamou “Dar Continuidade”, o antigo líder social-democrata critica “uma certa infantilização da política” que impede o diálogo entre as forças políticas. “O problema é que se criou a ideia, algo infantil, para não dizer imbecil mesmo, de que todo aquele que firma um consenso ou estabelece um acordo é um político fraco e sem personalidade”.
Este é o terceiro livro de Marques Mendes e não deixa de ter uma leitura política. O ex-líder do PSD não se limita a escrever sobre a construção da RTP Internacional, mas deixa várias pistas para o futuro. Não é novidade que o ex-líder do PSD ainda tem ambições políticas e poderá vir a candidatar-se a Belém. Numa entrevista ao “Observador”, em agosto de 2016, Marques Mendes admitiu que poderá começar a pensar nessa hipótese daqui a seis anos. Dois anos antes de Marcelo Rebelo terminar o segundo mandato.
Marcelo, Cavaco e Sampaio
O prefácio do novo livro de Luís Marques Mendes é da autoria do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa manifesta o “devido reconhecimento” ao autor por ter liderado a criação da RTP internacional. Cavaco Silva e Jorge Sampaio também participam na obra porque estiveram envolvidos no processo de lançamento deste projeto. Cavaco Silva, que era primeiro-ministro quando foi criada a RTP Internacional, elogia “a audácia” e a “visão arrojada” do seu ministro. O antigo Presidente da República Jorge Sampaio felicita “o autor por nos disponibilizar esta crónica sobre a RTP Internacional, em que, de resto, não se pode também deixar de ouvir a voz de fundo, clara e esclarecida, do homem político que Marques Mendes é e será sempre”.