G20. Tudo à espera do possível cessar-fogo entre EUA e China

G20. Tudo à espera do possível cessar-fogo entre EUA e China


A cimeira do G20, que hoje e amanhã se realiza em Buenos Aires, pode ser a última grande oportunidade para Washington e Pequim evitarem uma ainda maior escalada na guerra comercial que ameaça a economia mundial


O encontro entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, na cimeira do G20 é vista como a última grande oportunidade para evitar uma escalada na guerra comercial entre as duas potências. Se não se chegar a acordo, o mais provável é Trump avançar com um novo aumento das taxas alfandegárias aos produtos chineses, já previstas para entrarem em vigor no início de 2019  – passarão de 10% para 25% (de 250 mil milhões para mais de 550 mil milhões de dólares). E se isso acontecer, Pequim irá retaliar, ameaçando a economia mundial. Os cálculos apontam para uma diminuição de 0,2% no crescimento previsto da economia mundial, ficando-se pelos 3,5%. Se o confronto continuar poderá descer para valores próximos aos dos anos imediatos à crise económico-financeira de 2007/8.  

O breve encontro entre os dois líderes mundiais não deverá resultar num acordo final, até porque não estarão reunidos tempo suficiente para discutir pormenores e, como já se sabe, Trump não é um líder atento aos pormenores. Ao invés, os analistas esperam que se chegue a um cessar-fogo que trave a escalada e permita o avançar do diálogo.

“O momento favorece agora um cessar-fogo, seguida por uma fase de intensas negociações”, explicou Michael Pillsbury, diretor do Instituto Hudson de Estratégia Chinesa, ao “Washington Post”. Na política dos bastidores, explica o jornal norte-americano, as instituições financeiras estão a pressionar Trump e uma parte da elite chinesa Xi Jinping para que ambos cheguem a um entendimento. Todavia, o descansar das armas, apenas deverá apenas interromper o processo de deterioração das relações entre os dois países e não reverter a tendência. 

Se há quem pense que um acordo pode estar no horizonte depois de meses de negociações, a Casa Branca não tem deixado de fazer declarações ora conciliatórias ora ameaçadoras, numa já conhecida estratégia de mostrar forçar para obrigar o adversário a sentar-se à mesa das negociações e, assim, obter o melhor resultado possível. 

Em entrevista ao “Wall Street Journal”, publicada no início desta semana, Trump considerou ser “altamente improvável” que Washington aceite o pedido chinês para travar a imposição de novas tarifas  e garantiu saber “melhor do que qualquer pessoa” o que está a fazer – Trump repete muitas vezes que é um “grande negociador”. Por sua vez, Lary Kudlow, diretor do Conselho Económico Nacional, veio a público dizer que “há boas hipóteses de se chegar a um acordo”, mas avisou a China para não ficar à espera que os EUA avancem com o diálogo, sugerindo que a economia chinesa não é tão resiliente como a norte-americana. “Espero que o percebam”, disse. 

Kudlow refere-se à necessidade de Pequim  mostrar vontade e apresentar propostas para se ultrapassar o que Washington considera ser uma relação económica desigual entre os dois países. A Casa Branca acusa a China de promover um défice a seu favor na relação bilateral, subsidiar indústrias chinesas e de roubar tecnologia às empresas norte-americanas. Acusações que a China tem negado, ao mesmo tempo que acusa os EUA de estarem a tentar conter a China no palco internacional. 

Já do lado chinês, as declarações têm  sido de esperança. “Espero que os EUA e a China possam avançar em direção um ao outro e trabalhar para se alcançarem resultados positivos”, disse o porta-voz do governo chinês, Gao Feng. 

A guerra comercial tem vindo a escalar desde que Trump decidiu impor taxas alfandegárias aos produtos chineses na ordem dos 250 mil milhões de dólares. Pequim retaliou com taxas de 110 mil milhões de dólares aos produtos norte-americanos. Trump reagiu com a ameaça de novas taxas e, provavelmente, a China responderá com uma segunda vaga se os EUA avançarem. Mas a guerra comercial extravasa em muito a economia, assumindo-se como um confronto estratégico pela hegemonia na política internacional. 

Um dos sinais mais importantes desta guerra aconteceu na cimeira do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), na Papua-Nova Guiné, em meados deste mês. Pela primeira vez em 29 anos de existência da organização, a cimeira não teve comunicado final, por causa das divergências entre EUA e China. por diferenças na política económica. O ficou marcado pelos fortes ataques à China de Mike Pence, vice-presidente dos EUA, acusando Pequim de ser uma potência expansionista na Ásia-Pacífico. “Fiquem sabendo que os EUA oferecem uma opção melhor. Não afundamos os nossos parceiros num mar de dívidas, não coagimos, não comprometemos a sua independência”, disse.