Das bofetadas aos jornais. As frases mais polémicas dos políticos

Das bofetadas aos jornais. As frases mais polémicas dos políticos


Graça Fonseca disse que não ler jornais portugueses é “uma coisa ótima”, à semelhança de Cavaco Silva, que ficou conhecido como o “político que não lia jornais”. Mas há mais frases polémicas ditas por políticos: como o incentivo à emigração de Passos Coelho ou as “bofetadas” prometidas por João Soares


A ministra da Cultura afirmou no sábado, no México, que “uma coisa ótima de estar em Guadalajara” é que não vê “jornais portugueses há quatro dias”. A declaração caiu mal, até porque Graça Fonseca detém a tutela da comunicação social. Mas um governante que diz não ler jornais não é novidade em Portugal.

Em 1994, quando era ainda primeiro–ministro, Cavaco Silva afirmou, durante a inauguração da Escola Superior de Comunicação Social, que dedicava apenas “cinco minutos de manhã e cinco minutos à tarde a ler os jornais”. Em 2011, já como Presidente da República, Cavaco voltou a referir que não acompanhava “o dia-a-dia da comunicação social” e que “quase” não via televisão nem lia jornais “há muito tempo”. Alimentada por estas declarações, cresceu a ideia de que Cavaco era o “político que não lia jornais”.

Os casos de Graça Fonseca e Cavaco Silva são apenas dois num vasto conjunto de comentários polémicos feitos por políticos portugueses. Por exemplo, Passos Coelho era especialista em dizer frases que geravam indignação. Algumas ainda hoje são faladas, como quando o na altura primeiro-ministro sugeriu, em entrevista ao “Correio da Manhã”, que os professores que não conseguiam colocação em Portugal emigrassem para países de língua portuguesa, como Angola ou o Brasil.

A bola de neve cresceu e Passos Coelho chegou a ser acusado de incentivar os portugueses a emigrar. Por causa disso, o social-democrata viu-se obrigado a dar uma justificação. Num debate quinzenal no parlamento, Passos sublinhou que “ainda ninguém” tinha encontrado uma frase sua “em que tivesse convidado os jovens a emigrar”. “Não há”, prosseguiu o então governante, declarando que apenas existia uma situação específica em torno dos professores. “É preciso uma grande boa vontade e imaginação para ver nisto um convite ao país para emigrar”, salientou.

Outra das declarações de Passos Coelho que foram alvo de duras críticas ocorreu em fevereiro de 2012. Numa escola em Odivelas, o então primeiro-ministro pediu aos portugueses que fossem menos “piegas” porque só com “persistência” e “intransigência” é que o país teria “credibilidade”. “Devemos persistir, ser exigentes, não sermos piegas e ter pena dos alunos, coitadinhos, que sofrem tanto para aprender. Temos de ser ambiciosos e exigentes com o ensino, com a investigação e o saber, com as empresas”, explicou.

Ainda em 2012, mas meses mais tarde, em maio, o antigo primeiro-ministro voltou a meter a pata na poça. Durante a tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Passos Coelho defendeu que “estar desempregado” não podia ser “um sinal negativo” e que “despedir-se ou ser despedido” tem de representar “também uma oportunidade para mudar de vida”. A ideia, justificou Passos, era estimular “um maior dinamismo e uma cultura de risco” na população. Mas as críticas foram imediatas e levaram o social-democrata a dizer, no dia seguinte, que estava “cansado da tentativa de distorcer e de aproveitar qualquer coisa para querer fazer uma tensão enorme no país”.

Para Passos Coelho, as declarações polémicas valeram-lhe apenas uma onda de críticas. Mas, no caso de João Soares, a língua afiada custou-lhe o cargo de ministro da Cultura. O socialista demitiu-se em 2016, depois de ter prometido, através de uma publicação no Facebook, “bofetadas” a dois colunistas do “Público”. Tudo começou quando Augusto M. Seabra escreveu um texto onde criticava a nomeação de João Soares para o cargo de ministro da Cultura. O governante não gostou e desabafou na rede social: “Estou a ver que tenho de o procurar, a ele e já agora ao Vasco Pulido Valente”, para umas “salutares bofetadas.”

Todos os partidos condenaram as declarações de Soares, mas as críticas vieram também do próprio primeiro-ministro. Na altura, António Costa lembrou que os governantes “nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do governo”, muito menos nos “novos espaços comunicacionais”, como as redes sociais. João Soares acabou por pedir a demissão, que foi aceite por Costa.

Ainda do lado dos socialistas, Mário Lino, antigo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, causou polémica ao comparar a Margem Sul a um “deserto”. Há 11 anos já se discutia a construção de um novo aeroporto e, na altura, Mário Lino não concordava que a infraestrutura fosse feita a sul do Tejo. “Construir um aeroporto na Margem Sul, jamais, jamais”, declarou.

A esta frase, Mário Lino juntou a explicação: “Fazer um aeroporto na Margem Sul seria um projeto megalómano e faraónico porque, além das questões ambientais, não há gente, não há hospitais, não há escolas, não há hotéis, não há comércio, pelo que seria preciso levar para lá milhões de pessoas.”

As declarações não caíram bem nos partidos da oposição, que exigiram um pedido de desculpas do então ministro das Obras Públicas. Mas Mário Lino recusou desculpar-se. “As pessoas, quando não têm argumentos, deturpam a realidade. Estávamos a discutir as localizações do aeroporto. Sei muito bem que Almada, Montijo e Setúbal têm gente”, disse o governante, acrescentando que se referia apenas às zonas de Poceirão, Rio Frio e Faias.