Os portugueses gostam de ver televisão e há cada vez mais a pagar para o fazer. No final de junho existiam cerca de 3,9 milhões de clientes do serviço de televisão paga – mais 131 mil do que nos primeiros meses de 2017.
De acordo com a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), destes 3,9 milhões de clientes que existiam no país em junho, 96,1% tinham o serviço integrado num pacote, 38,2% recebiam o sinal por fibra ótica e 34,9% por cabo. Para o regulador, importa ainda referir que a análise vem mostrar que 78,4% tinham nesta altura acesso a uma centena de canais ou mais e que 74,4% usavam as várias funcionalidades da box, nomeadamente o acesso às gravações. Mais: cerca de 15% dos lares tinha acesso a canais premium de televisão.
No entanto, a verdade é que, mesmo com estes dados, as operadoras não sorriem tanto como gostariam. A pirataria tem um impacto enorme nas contas que devem ser feitas. O tema foi abordado, em setembro, por Filipa Carvalho, diretora de regulação da Nos, que explicou, durante um debate sobre a regulação do setor, que a pirataria custa 300 milhões de euros por ano às operadoras de telecomunicações. A isto, dizia a diretora, junta-se o facto de lesar o Estado em 100 milhões de euros.
Para Filipa Carvalho, está em causa “um flagelo que existe e que tem milhares de prevaricadores”, fazendo referência, por exemplo, aos streamings ilegais de jogos de futebol, séries e filmes.
Mas se as contas para os lesados são altas, as tentativas de combate também seguem num caminho ascendente. Há quem pense que não existem consequências para os crimes cometidos. Não é verdade. Ainda que vários especialistas expliquem que é necessário que seja aberta uma investigação, depois de dado este passo, o pior acontece quer para quem fornece o serviço, quer para quem o utiliza. Este ano, por exemplo, recorde-se o caso em que 11 pessoas que usufruíam de serviços ilegais acabaram detidas.
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Depois de a PJ de Braga desmantelar um esquema ilegal de partilha de televisão por cabo e internet, foram detidas 16 pessoas no total. Foram feitas buscas domiciliárias e apanhados 11 clientes, que pagavam 10 euros pelo serviço pirata. Os restantes detidos eram os fornecedores dos serviços, que pirateavam o contrato que tinham feito com uma das operadoras. Um dos fornecedores tinha cerca de 100 clientes.
A loucura do futebol O certo é que na lista dos canais de televisão mais pirateados estão sempre os canais desportivos – normalmente, nos primeiros lugares. O facto de o futebol ser o desporto–rei e de ter inúmeros fãs trouxe, aliás, muita polémica recentemente por causa dos direitos televisivos. A Eleven Sports, empresa que conseguiu ficar com os direitos de transmissão da Champions [Liga dos Campeões] para Portugal nas próximas três temporadas, entrou em força no mercado português. Além destes direitos, a operadora internacional conseguiu ficar também com os direitos da Liga espanhola para Portugal. Até aqui, os direitos destas duas importantes competições estavam nas mãos da Sport TV, que acabou por ser destronada na corrida para as próximas temporadas. No entanto, se a aposta de alguns era na descida de preço deste canal, que até aqui tinha quase um monopólio nos canais desportivos por subscrição, ela foi perdida. Nuno Ferreira Pires, presidente executivo do canal, garantiu desde cedo que a opção não estava em cima da mesa. “Não tenho qualquer dúvida de que qualquer português que faça as contas, olhando para as 55 mil horas de programação, as modalidades que nós damos, os 2 mil jogos que damos e tudo aquilo que é o nosso conteúdo no próximo ano, estará tão ou mais tranquilo como os nossos clientes já estavam com o valor que nós cobramos na Sport TV”, concluiu.
Contas feitas, acompanhar os vários jogos do desporto-rei nos canais premium passou a depender de mais canais e ficou mais caro. Falamos de cerca de 44 euros por mês, ou seja, mais de 520 euros por ano. Até porque é preciso ter em conta que a empresa que veio “roubar” os direitos da Champions à Sport TV adquiriu ainda as ligas espanhola, francesa, alemã, belga e escocesa, o canal oficial do Arsenal e a UEFA Youth League.
O preço a pagar para aceder aos conteúdos da Eleven Sports é de 9,99 euros por mês. A isto soma-se o facto de ser necessário pagar cerca de 10 euros por mês para assinar a BTV, caso queira assistir aos jogos do Benfica em casa para o campeonato. Para concluir estas contas é preciso não esquecer que o acesso aos conteúdos da Liga Portuguesa, Taça de Portugal e Taça da Liga, bem como as ligas inglesa, italiana e ainda a Liga Europa, depende da subscrição da Sport TV, cuja mensalidade começa nos 23,99 euros, na versão mais básica.
Sport TV gasta milhões em guerra A verdade é que a entrada de uma nova operadora no mercado inflacionou e muito o preço dos direitos desportivos. Abriu–se uma verdadeira guerra, sem precedentes em Portugal, pela aquisição de direitos desportivos. Em outubro, o “Correio da Manhã” mostrava que, depois de ter ficado sem a Liga dos Campeões e a Liga espanhola, a Sport TV renovou os direitos da Premier League por mais três épocas. Para isto, de acordo com o SportBusiness, estava previsto o pagamento de cerca de 20 milhões por temporada. O contrato anterior tinha sido feito por 10 milhões por época.