PSD. As guerras internas e o “suicídio político”

PSD. As guerras internas e o “suicídio político”


Direção do PSD já admite derrota eleitoral se a guerra interna não acabar. Marques Mendes fala em “suicídio político” e Guilherme Silva alerta que o PSD não pode continuar a dar “este tipo de espetáculo” 


A possibilidade de o PSD ter um resultado fraco nos próximos atos eleitorais começa a assustar a direção do partido. José Silvano, secretário-geral do PSD, admitiu publicamente aquilo que Rui Rio já tinha dito numa reunião com militantes, ou seja, que, a continuar assim, o PSD arrisca-se a ter um mau resultado nas legislativas. 

José Silvano alertou, em entrevista ao “Diário de Notícias”,  que “se a guerrilha interna não parar, o PSD nunca poderá ter um resultado positivo”. O secretário-geral do PSD admite mesmo que “o partido está a descredibilizar-se de dia para dia e corre sérios riscos de deixar de ser um partido de poder”.

A entrevista de Silvano foi vista por vários sociais-democratas como um tiro no pé. “Estas declarações da direção do PSD parecem-me uma originalidade. É uma originalidade que conduz ao suicídio político”, disse, no seu comentário na SIC, Luís Marques Mendes. 

O ex-líder do PSD considerou que as afirmações feitas pelo secretário-geral do partido significam que a direção está a “deitar a toalha ao chão” e “a antecipar uma derrota”. As sondagens continuam a dar um fraco resultado ao PSD e o comentador considera que as pessoas não mudam de voto, porque “a oposição não se apresenta como alternativa”.   

Miguel Relvas vai mais longe e assume que o PSD corre o risco de ter “um resultado muito negativo” nas legislativas do próximo ano. “O PSD está a tornar-se irrelevante. O PSD e o seu líder começam a ser irrelevantes na vida política e na sociedade portuguesa”, afirmou, em declarações ao semanário “Sol”, o ex-ministro do PSD. Relvas não ignora as divisões no partido e defende que “um grande partido é um partido em que o líder é capaz de somar, juntar e unir e não um líder que subtrai”. 

 

“Espetáculo”

O estado do PSD a seis meses das eleições europeias e a menos de um ano das legislativas começa a preocupar seriamente alguns sociais-democratas. “É óbvio que as divisões no PSD desacreditam o partido”, diz ao i Guilherme Silva. 

O antigo líder parlamentar faz “um apelo ao bom senso” e alerta que “o PSD não pode prolongar este tipo de espetáculo que tem dado ao país”. Para o ex-deputado, que esteve ao lado de Rui Rio nas eleições internas, “quem tem responsabilidades no partido tem de ter a capacidade de unir e evitar divisões que fragilizem o partido”.

Rui Rio já assumiu, numa reunião com militantes em Lisboa, que se continuar este clima de guerrilha interna arrisca-se a ter um péssimo resultado nas eleições legislativas. O líder do partido garantiu, porém, que estará em condições de ganhar se o deixarem implementar a sua estratégia.

 

Jantar com passos e críticos

É neste clima que a JSD quer reunir os ex-líderes em Cascais. A JSD vai promover, entre 23 e 25 de novembro, o Encontro Nacional de Concelhias, em Cascais, e está previsto um jantar, no sábado, com os antigos líderes. 

Vão estar reunidas várias figuras de primeira linha. Pedro Passos Coelho não deverá faltar numa altura em que há quem admita que poderá regressar à liderança do PSD. Pedro Duarte, que já assumiu a ambição de se candidatar à liderança, também estará presente. Pedro Duarte defendeu, no início de agosto, que  o PSD tem de mudar de líder e estratégia “tão cedo quanto possível”. Hugo Soares será outro dos críticos de Rui Rio a estar presente no jantar. Soares deixou a liderança do grupo parlamentar quando Rui Rio chegou à liderança do partido. 

Os problemas internos no PS já levaram mesmo alguns sociais-democratas a admitirem o regresso de Passos Coelho à liderança. Luís Montenegro deixou claro, numa entrevista que deu recentemente à TSF, que Passos Coelho é “uma reserva do PSD” para voltar a ser primeiro-ministro. “Ele tem idade e crédito suficiente. Não é impossível que isso aconteça”, disse. 

Miguel Relvas também admitiu ao “Sol” que “se a nova geração não tiver sucesso haverá sempre uma expectativa de poder ter, em último recurso, quem possa ajudar a recuperar” o partido. 

Marques Mendes foi dos primeiros a levantar esta possibilidade. “Considera que a sua obra está inacabada”, disse o ex-líder social-democrata, em outubro, depois de Pedro Passos Coelho ter rejeitado a condecoração de Belém com o argumento de que ainda é novo. O comentador garantiu que Passos Coelho não quer ser visto “como um reformado político”, porque não afasta um regresso à liderança do PSD.