O empresário bracarense Domingos Correia tem julgamento marcado para 13 de dezembro por quatro crimes de perseguição à família de António Salvador, incluindo à filha do presidente do Sporting Clube de Braga, que teve de se refugiar numa estação de serviço e de receber apoio psicológico.
Domingos Ferreira Correia, de 42 anos, agora radicado nos Açores, terá pessoalmente ido atrás da filha de António Salvador quando a jovem, então com 18 anos, se dirigia de carro para o Porto, tendo a jovem parado na BP de Nogueira, em Braga, ocasião em que o seu perseguidor a terá “olhado de uma forma fixa”, levando-a desde então a ter “receio e medo” de Domingos Correia – acusações que este desmentiu, logo aquando do seu interrogatório.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), na origem das perseguições, que Domingos Correia só assumiu enquanto mentor e um dos executores do chamado “camião do fraque” ao colocar-se atrás de António Salvador, da mulher deste e dos dois filhos do casal, com cartazes difamatórios, estará uma alegada dívida, de um milhão e 200 mil euros, que tem vindo a reclamar ao presidente do Sporting Clube de Braga, por negócios em Portugal e Moçambique, mas que António Salvador afirma num processo cível não ter para com ele.
As desinteligências não têm a ver com o clube bracarense, mas Domingos Correia nunca escondeu e até assumiu, numa entrevista ao “Correio da Manhã”, ter sido o responsável pelo estacionamento de um camião, em setembro de 2015, junto das bilheteiras do clube, momentos antes de um jogo com o Marítimo, onde se liam os dizeres: “Paga o que deves, Senhor Presidente do Sporting Clube de Braga”, assim como, depois, junto ao Hotel Meliá.
Na mesma ocasião, um camião idêntico foi colocado já à porta da residência de António Salvador, em Nogueiró, a mesma freguesia de Braga onde tem o domicílio permanente o próprio Domingos Correia, levando a que a GNR do Sameiro tenha intervindo e removido o veículo pesado, multando o “dono do camião do fraque” por estar a obstruir o trânsito.
Patrão e empregado a “perseguir” A par de Domingos Correia será julgado no Tribunal Criminal de Braga o seu empregado José Francisco Vilaça de Oliveira, de 48 anos, da empresa Arlizco, residente na freguesia de Cunha, em Braga, funcionário que terá sido instigado pelo seu patrão a perseguir o empresário António Salvador e familiares, mulher e dois filhos, com camiões e carrinhas, existindo no processo criminal 16 testemunhas que atestam as “perseguições reiteradas”.
O colégio privado onde estudou a filha de António Salvador e a empresa onde o filho começava a dar os primeiros passos profissionais também terão sido “visitados” pelo “dono do camião do fraque” e pelo seu empregado, segundo refere a acusação do MP.
Uma dessas 16 testemunhas é Armando Marques, um vice-presidente do rival Vitória de Guimarães, segundo o qual em meados de setembro de 2015 pediu, numa reunião prévia com a PSP, o reforço do policiamento no jogo com o Sporting de Braga, em Guimarães, por ter informações de que as claques vitorianas estariam a ser pagas para no dia do jogo, no Estádio do Guimarães, exibirem nas bancadas faixas idênticas, visando António Salvador.
Receio pela integridade física O Ministério Público refere no seu despacho de acusação, ao qual o i teve acesso, que os dois arguidos “atuaram de uma forma livre e concertada, em comunhão de esforços, com o propósito reiterado de, através dessa conduta”, ao casal Salvador e aos seus dois filhos, “provocar–lhes medo e de prejudicá-los nos seus movimentos, bem sabendo que desse modo [os] lesavam (…), nas suas vidas particulares, como pretendiam e conseguiram”, acusando-os de quatro crimes de perseguição, um por cada uma das suas quatro vítimas. Lê-se ainda que “a família de António Salvador foi obrigada a mudar os seus hábitos, por recearem pela sua integridade física”, durante várias semanas consecutivas, e “tais consequências (…) ainda hoje se fazem sentir” na vida dos quatro familiares lesados.
Domingos Correia foi recentemente condenado, pelo Tribunal da Relação de Guimarães, ao ter afirmado que outro empresário de Braga, António Feliz, da Serralharia “O Feliz”, “estava habituado a roubar”, depois de desentendimentos por obras de construção civil.
Salvador refere ser “perseguido” pelo “dono do camião do fraque” O presidente do Sporting de Braga, António Salvador, depositou 300 mil euros, à ordem de um tribunal judicial, apesar de dizer “nada dever”, mas só para evitar “mais vexames” de que “tem vindo a ser alvo na praça pública”, apurou o i junto de fontes ligadas ao processo.
António Salvador estava a ser referido publicamente como destinatário de uma penhora na sua residência, em Braga, o que afinal nunca se realizou, pois o juiz do processo teve confirmação da transferência bancária de 300 mil euros, evitando-se a “instrumentalização” das forças policiais e de outros meios que “coagiam” António Salvador e seus familiares, com agitações permanentes, até de madrugada, em redor da moradia familiar de António Salvador, situada em Nogueiró, nos arredores de Braga, próximo do Monte do Bom Jesus.
A penhora foi solicitada pelo empresário Domingos Correia, “dono do camião do fraque” (ver caixa), ao Tribunal de Vila Nova de Famalicão, mas ficou sem efeito devido ao facto de terem sido depositados os 300 mil euros à ordem daquele mesmo processo judicial – o que não terá impedido a tentativa frustrada de executar o ato mesmo após a transferência, chegando a “pressionar” o Comando Territorial da GNR de Braga e o Posto do Sameiro.
António Salvador denuncia “cabala” António Salvador referiu recentemente a um juiz, no Tribunal Cível de Braga, estar a ser vítima de uma “cabala” alegadamente por antigos sócios de empresas e ex-colaboradores, que se terão “aproveitado” da exposição pública do presidente do Sporting Clube de Braga, reclamando “dívidas inexistentes” ou então “quantias extrapoladas”, para supostamente chantagear o empresário, exigindo-lhe sempre “dinheiro a mais”, de acordo com fontes ligadas ao dirigente, que evita andar sempre no mesmo carro e fazer os mesmos percursos.
Os ataques através das redes sociais e outros meios terão aumentado quando aquele clube passou a atingir os principais patamares do futebol português e europeu, segundo apurou o i, incluindo-se até “chantagem”, por parte de um advogado de Braga a quem a cédula profissional foi cassada devido a problemas de “negócios” e que terá ainda “chantageado” outros empresários em Braga, alguns dos quais lhe pagarão, por isso, “avenças” mensais.
Ao contrário do que chegou a ser ventilado, os “ataques” contra António Salvador nunca terão partido de Pinto da Costa nem de mais ninguém ligado ao Futebol Clube do Porto, mas sim de pessoas da própria cidade de Braga que não “perdoam” os êxitos do Sporting Clube de Braga e tentam mesmo desestabilizar a equipa, que está no topo da classificação, segundo fontes ligadas à investigação.