Tancos. Costa na mira da comissão de inquérito parlamentar que hoje toma posse

Tancos. Costa na mira da comissão de inquérito parlamentar que hoje toma posse


CDS diz que “parece ser imprescindível” ouvir o primeiro-ministro. Rovisco Duarte, ex-chefe do Estado- -Maior do Exército, também será chamado ao parlamento


A comissão de inquérito parlamentar sobre as consequências e responsabilidades políticas do furto do material militar em Tancos toma hoje posse com uma certeza: o primeiro-ministro será ouvido no inquérito, apesar de não constar da primeira fase de audições.

António Costa já veio dizer que está disponível para ser ouvido – responderá por escrito – e o socialista Ascenso Simões explicou ao i que “o PS corresponde à indicação do senhor primeiro-ministro de ser ouvido, por escrito, pelo que for entendido pela comissão parlamentar de inquérito”. Foi o CDS que lançou o pedido de audição dirigido ao primeiro-ministro há cerca de duas semanas e reitera a intenção de ouvir Costa, ainda que não o peça no imediato.

“O CDS mantém aquilo já disse. Tendo em atenção os factos que se conhecem, parece ser imprescindível que o primeiro–ministro venha a ser ouvido”, declarou ao i o líder parlamentar centrista, Nuno Magalhães.

Do lado do CDS, a lista não estava ontem fechada, tal como a do Bloco de Esquerda, mas seguramente serão chamados ao inquérito tanto o anterior ministro da Defesa como o atual, Azeredo Lopes e João Gomes Cravinho, respetivamente. Além de responsáveis políticos, os centristas querem ouvir também o anterior chefe do Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, bem como o seu sucessor, o tenente–general José Nunes da Fonseca. Neste ponto, o PS assume também, para já, que pretende ouvir Rovisco Duarte, o responsável do Exército que apresentou a sua demissão depois de uma conversa com o novo ministro da Defesa Nacional e invocou “circunstâncias políticas” para a sua saída numa carta interna, distribuída aos militares e civis do Exército.

Ontem, numa audição sobre o Orçamento do Estado, Gomes Cravinho foi confrontado com as razões da saída de Rovisco Duarte, dias depois da sua tomada de posse como novo ministro da Defesa Nacional, mas o governante considerou que as conversas que mantém com os chefes militares, “entre quatro paredes”, não são públicas.

Por seu turno, o Bloco de Esquerda irá pedir também um conjunto de documentação oficial sobre o paiol de Tancos e não tem “qualquer tabu sobre a audição de qualquer personalidade ou responsável político”, como frisou João Vasconcelos, deputado do BE, citado pela Lusa.

Tal como o Bloco de Esquerda, o PCP não avançou ontem com a lista de nomes que pretende ouvir, mas Jorge Machado garante que não terá nada a opor à audição de Costa ou de qualquer outra personalidade, “desde que tenha cabimento regimental e legal”. “À partida, não nos opomos à audição de ninguém”, frisou ao i o parlamentar comunista, considerando, contudo, que é “extemporâneo” estar já a admitir a audição de António Costa na primeira fase de audições no inquérito.

Cautela sobre Costa O PSD foi o único partido que mostrou maior cautela em chamar António Costa a explicar tudo o que sabe sobre o caso de Tancos. “O que pensamos é que à medida que a comissão de inquérito for decorrendo, e à medida que houver a necessidade de chamar qualquer personalidade, seja ela qual for, então nós não hesitaremos em chamá-la. Agora, à partida estar a colocar essa questão como categórica, isso não fizemos”, explicou ao i Carlos Peixoto, um dos rostos sociais–democratas no inquérito.

O PSD tenciona chamar ao inquérito o ministro da Defesa anterior, Azeredo Lopes, além de Rovisco Duarte, tal como o CDS e o PS. O ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar Vasco Brazão também será incluído na lista social-democrata, tal como no pedido de audições do CDS, que também quer chamar o antigo chefe de gabinete de Azeredo Lopes, Martins Pereira. Tanto Martins Pereira como Vasco Brazão serão cruciais para perceber o circuito, em sede de inquérito parlamentar, do polémico memorando onde se aponta a ideia de encenação da recuperação das armas, anunciada em outubro de 2017, três meses e meio depois do roubo de material de guerra.

O inquérito terá um prazo de vida de 120 dias e poderá iniciar os trabalhos, apesar de estar a decorrer a discussão do Orçamento do Estado para 2019.

A maioria dos deputados ouvidos pelo i esperam que o inquérito parlamentar não ultrapasse a atual legislatura e que se cumpram os prazos.

Sobre a hipótese de se vir a solicitar dados adicionais ao Presidente da República, após as várias explicações dadas de que não teve qualquer conhecimento da encenação da recuperação das armas, a maioria dos partidos afastaram tal hipótese.