As 24 horas de Bruno de Carvalho na cela

As 24 horas de Bruno de Carvalho na cela


Ex-presidente do Sporting é suspeito de crimes de terrorismo, sequestro e ameaça agravada


Bruno de Carvalho foi detido, no último domingo, conjuntamente com o líder da Juventude Leonina Nuno Mendes, mais conhecido por Mustafá, no âmbito do processo de investigação ao ataque à Academia de Alcochete.

Ao que o i apurou, o antigo presidente do Sporting pôde pedir para sair da cela quando precisasse – nem que fosse para fumar – e desde que houvesse condições, nomeadamente elementos que o pudessem acompanhar em segurança.

Além das saídas a pedido, o detido saiu da cela para ir almoçar e jantar a uma sala comum. O i sabe que nessas circunstâncias os detidos têm acesso a televisões, podendo assistir enquanto almoçam ou jantam.

Dentro da cela, Bruno de Carvalho teve direito a uma cama, que durante o dia se transforma em sofá, e a uma casa de banho – com todas as medidas de segurança e que se consideram necessárias para um qualquer detido. Mas, apesar de estarem a ser tratados como quaisquer outros detidos, a verdade é que Bruno de Carvalho e Mustafá levaram as autoridades a adotar medidas de segurança mais rígidas durante as operações do último domingo e também nas imediações dos postos de GNR de Alcochete e do Montijo.

Recorde-se que Bruno Carvalho tentou evitar a todo o custo ser detido, comparecendo voluntariamente no Ministério Público. E não escondeu ter informação de que poderia estar iminente um mandado. Questionado sobre se teria medo de ser preso, Bruno de Carvalho respondeu com uma pergunta a um jornalista: “Você gostava de passar uma noite no calabouço?”

Os crimes por que vai responder Bruno de Carvalho O ex-presidente do Sporting está  a ser ouvido esta terça-feira no tribunal do Barreiro. Após ser identificado pelo juiz de instrução criminal – e uma vez que é arguido – o ex-presidente do Sporting pode remeter-se ao silêncio e não responder a nada do que lhe for perguntado. Mas tendo em conta as suas declarações recentes e a sua ida voluntária ao Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa para colaborar e evitar ser detido, é provável que queira responder às perguntas. Bruno de Carvalho está indiciado de 56 crimes. Segundo a TVI, em causa estão dois crimes de dano com violência, 20 de sequestro, um de terrorismo (um crime cuja pena pode chegar aos 20 anos de prisão), 12 de ofensa à integridade física qualificada, um de detenção de arma proibida e 20 de ameaça agravada.

Dada a gravidade dos crimes, a força dos indícios e os riscos associados, o juiz poderá determinar que ambos fiquem em prisão preventiva, até porque foi esse o entendimento que o magistrado teve em relação aos restantes suspeitos envolvidos. Ontem o advogado de Bruno de Carvalho, José Preto, preferiu não falar com os jornalistas que estiveram em Alcochete, dizendo que foram “desleais”

 Alexandra Carvalho, irmã do ex-presidente do Sporting, também foi ontem a Alcochete. Mostrando-se mais emotiva, disse que o irmão está a reagir bem, mas que é uma situação complicada para a família. Acrescentou ainda aos jornalistas que tudo o que está a acontecer é uma “palhaçada”.

As mensagens comprometedoras Para a investigação, quando entraram no centro de estágios, a 15 de maio, seria mesmo intenção dos elementos da Juve Leo agredir os jogadores e os elementos da equipa técnica do Sporting na sequência dos resultados desportivos negativos. Segundo o “CM”, há várias conversas de WhatsApp que deixaram claro às autoridades que o objetivo era usar violência: “Nunca mais se levantam” e “Vão levar no focinho”, são algumas das expressões.

Os arguidos que aceitaram falar em tribunal nos últimos meses negaram sempre essa intenção, referindo que o objetivo seria conversar. Mas essa teoria nunca convenceu os investigadores, que chegaram mesmo a encontrar num telemóvel de um dos elementos da Juve Leo uma mensagem que previa tudo o que aconteceu: “Malta o melhor é academia!!! Chegar carregar no treino e acabou… Invadimos aquilo”.

Além disso, terão ainda discutido sobre quem é que ficava com quem e delineado uma entrada que tinha de ser rápida para que a polícia não chegasse a tempo de os apanhar. Quase tudo correu como previsto, mas logo de imediato a GNR deteve 23 dos elementos.

No sábado seguinte, o semanário “SOL” deu conta de que tudo teria sido feito com o aval de Bruno de Carvalho, que havia dado carta branca à Juve Leo para fazer “o que entendesse”. As indicações terão sido dadas em abril à claque após a derrota por 2-0 frente ao Atlético de Madrid. Após as agressões, Bruno de Carvalho foi criticado pela forma como reagiu aos incidentes: “Isto foi chato, mas o crime faz parte do dia-a-dia”.