Leffest. À espera do sr. Lynch e de todos os outros

Leffest. À espera do sr. Lynch e de todos os outros


Entre Lisboa e Sintra, arranca na sexta-feira o 12.º Leffest, que além do ciclo “Waiting For Mr. Lynch” dedica uma grande retrospetiva a João Botelho e estreia os últimos filmes de Alfonso Cuarón, Luca Guadagnino e Lars von Trier


À primeira edição do Leffest, já lá vão 12, era ele o senhor. David Lynch, que quase não pôde marcar presença mas marcou, por fim e de rompante. Contou ao i Paulo Branco como, numa entrevista realizada no Estoril há dois anos: “De repente telefonam-me a dizer que ele, afinal, podia vir. Apareceu aqui de rompante, de easyJet de Düsseldorf, que era o único voo que havia. A única exigência era que tinha de ir pôr uma bandeira num terreno em São Domingos de Rana.” 

E veio, e fez a “sua masterclass sobre meditação transcendental, que era o que queria fazer, fez a conferência de imprensa”, e depois foi a correria para o tal lugar em São Domingos de Rana, “onde tinha adquirido uns terrenos, para espetar uma bandeira pela paz”. Um cenário descrito pelo produtor de cinema que está à frente do festival como “absolutamente surrealista”. David Lynch não faz por menos. À 12.a edição do agora Lisbon & Sintra Film Festival, que decorre entre a próxima sexta-feira e o dia 25 de novembro, volta a ser ele, David Lynch, uma das figuras no centro da programação do festival para, antes do resto, um ciclo com um título que mais sugestivo não podia ser: “Waiting For Mr. Lynch”, a incluir duas exposições. 

A primeira, “Small Stories”, que reúne um conjunto de 55 fotografias a preto--e-branco da sua autoria, e ainda “Psychogenic Fugue”. Essa do fotógrafo norte--americano Sandro Miller, que retratou John Malkovich (ambos visitam Lisboa durante o festival) na pele de várias das personagens ao longo dos anos criadas por David Lynch. “Waiting For Mr. Lynch” contará ainda com uma retrospetiva à obra do realizador, e não apenas aos trabalhos cinematográficos, mas também aos televisivos e publicitários, desde 2007. Além da apresentação e lançamento do livro “Room To Dream”, que o cineasta escreveu em conjunto com a jornalista Kristine McKenna.

Mas não é David Lynch o único grande realizador homenageado pelo festival na edição deste ano. Além de que, mesmo que sem ele, é longa a lista de convidados, e que convidados. Walter Salles, John Malkovich, Jonathan Littell, Mario Martone, Jacques Audiard, Louis Garrel, Laurie Anderson, Olivier Assayas, Chrysta Bell ou até o próprio Baltasar Garzón, para citar os nomes de apenas algumas das personalidades que acompanham João Botelho na lista de convidados deste Leffest. 

À obra do realizador português, o festival dedica, à sua 12.a edição, a maior retrospetiva alguma vez feita em torno da obra do autor de “Peregrinação”, “Os Maias” ou “Filme do Desassossego”. Aos nomes nacionais que compõem a lista de presentes no festival juntam-se ainda outros, mais políticos, como Camilo Mortágua, Otelo Saraiva de Carvalho, Francisco Fanhais ou Vitorino Salomé. 

Não largando ainda o tema retrospetivas, homenageados em ciclos que se estendem da década de 1970 até ao presente estão ainda nomes como Mike Leigh, Paul Schrader, Mario Martone e Darezhan Omirbayev. Mas vamos aos filmes, afinal o prato principal de um festival de cinema. Fora de competição são exibidos, por exemplo, “Roma”, o filme com que Alfonso Cuarón venceu neste ano o Leão de Ouro em Veneza, “Suspiria”, do realizador de “Call Me By Your Name”, Luca Guadagnino, e ainda “The House That Jack Built”, o mais recente filme de Lars von Trier. Todos eles em antestreia nacional.

Entre os filmes selecionados para competição, que tem como júri o realizador Walter Salles, a pianista Martha Argerich, o escritor e realizador Jonathan Littell, o pianista Stephen Kovacevich, a cantora e compositora Chrysta Bell e o artista visual Jorge Queiroz, contam-se “Asako i & ii”, de Ryusuke Hamaguchi, “Blaze”, de Ethan Hawke, “In My Room”, de Ulrich Köhler, “L’Homme Fidèle”, de Louis Garrel, “Long Day’s Journey Into Night”, de Bi Gan, “Ray & Liz”, de Richard Billingham, “The River”, de Emir Baigazin, e “Vox Lux”, de Brady Cobert. 

Além das retrospetivas, o festival programa ainda os ciclos temáticos “O Desejo Chamado Utopia” e “Neoliberalismo – A Semente do Populismo e dos Novos Fascismos”. Duas “jornadas de reflexão” em que um conjunto de convidados internacionais comentam uma seleção de filmes. Direito a sessões especiais terão os filmes “Caminhos Magnéticos”, de Edgar Pêra, “Ainda Tenho Um Sonho ou Dois – a História dos Pop Dell’Arte”, de Nuno Galopim e Nuno Duarte, e os projetos em desenvolvimento pelo já habitual Mathieu Amalric.