A comunicação política mudou mais nos três ou quatro últimos anos que nas duas ou três últimas décadas. Mas se fôssemos perder tempo a avaliar exaustivamente todos os fatores que levaram a estas transformações, esta crónica não teria fim. No entanto, há três fatores-chave que importa referir: a decadência financeira dos jornais; o advento das redes sociais; e o absoluto desgaste dos modelos político-partidários ainda vigentes.
Na verdade, não foi só a comunicação política que mudou. O mundo mudou, as empresas mudaram, a forma de consumir informação alterou-se radicalmente e os modelos de comunicação entre as pessoas tornaram-se mais próximos, presentes e instantâneos. Logo, já há muito tempo, os políticos e os partidos deveriam ter alterado também radicalmente a forma como tentam chegar aos seus eleitores. Para isso, bastava terem olhado para os novos modelos como as empresas e os empresários estavam a fazer a sua comunicação.
Esta foi a semana da Web Summit. Pela Altice Arena desfilaram empresários e gestores de todo o mundo, vestidos com t-shirts ou em mangas de camisa, falando com headsets colocados às bochechas e sempre em estilo descontraído. No LinkedIn, ou através da app do evento, eram feitas aproximações de networking ou para futuros negócios. O registo, a linguagem, o aspeto e os tipos de abordagem mudaram radicalmente relativamente àquilo a que, há uns anos, nós chamávamos “homens de negócios”. Aliás, quem via os nossos grandes gestores presentes no evento, como António Mexia ou Alexandre Fonseca, percebia que também eles perceberam que a era da gravata e do tratamento por “doutor” já tem os dias contados.
Ao que parece, quase toda gente já percebeu que o mundo mudou – toda a gente menos os responsáveis partidários. Aliás, arrisco-me a dizer que a reconfiguração política que já estamos a viver em todo o mundo, e que inevitavelmente vai chegar também a Portugal, irá revolucionar completamente quer os protagonistas políticos, quer a forma como os partidos comunicam, e também o próprio mapa político de representação parlamentar.
O político cinzento, revestido de formalidade comunicacional, que evita dizer o que realmente pensa e fala numa linguagem robótica e distante, está a morrer. Aliás, o próprio Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, inaugurou uma nova forma de fazer política – com sorrisos, abraços e uma linguagem simples e popular. Foi este estilo, esta forma de comunicar, que o elegeram de forma tão estrondosa e que o vão fazer ser reeleito praticamente sem oposição, quer à esquerda quer à direita.
Mas não pensem que esta transformação irá ficar-se só pela Presidência da República. Em 2019 temos eleições para o Parlamento Europeu e, depois, eleições legislativas. Em ambas, temos três novas forças políticas que, pela forma como estão a comunicar, irão baralhar absolutamente as contas dos partidos tradicionais: tenho poucas dúvidas de que a Aliança (se tiver um bom cabeça- -de-lista) e o Chega de André Ventura irão conseguir representação parlamentar europeia; tal como não tenho dúvida que ambos, mais a Iniciativa Liberal, conseguirão também uma forte representação na nova Assembleia da República. O que irá resultar daqui? Uma geringonça de direita? Uma geringonça de centro? Ainda é muito cedo para sabermos o que vai mudar, mas temos a certeza que nada vai ficar na mesma.
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