Será que os robôs nos vão roubar o emprego? Esta é uma das perguntas mais recorrentes quando percebemos que os robôs já não pertencem apenas ao futuro, mas é também importante perceber que a tecnologia e a inteligência artificial vão muito para além da ideia do boneco que pensa e fala sozinho.
Nos diversos palcos da Web Summit, o futuro do trabalho esteve sob discussão e a rapidez da inovação foi debatida por alguns dos responsáveis de grandes empresas tecnológicas.
Questionado sobre a importância da inteligência artificial na sociedade, o presidente da Microsoft, Brad Smith, lembrou que esta já faz parte da nossa vida, ainda que não nos apercebamos, quando ouvimos a música ou filme que nos é sugerido com base no que ouvimos ou vimos anteriormente e que “só iremos beneficiar se reconhecermos todos os elementos da inteligência artificial e os seus benefícios”.
Para Brad Smith, a tecnologia não é inimiga da sociedade, pelo contrário, “parte da tecnologia serve para ajudar os negócios a serem mais produtivos, em todas as formas para benefício próprio” e que isso não vêm substituir a importância das pessoas e da força de trabalho. O que muda são as ferramentas e a criação de novos empregos ajustados às necessidades das empresas.
A diminuição da oferta de emprego não é um problema porque, para Brad, é preciso “pensar no que podemos fazer pelas pessoas cuja profissão está em risco” e assinalou a importância da especialização em informática, até porque “daqui a 10 anos haverá mais emprego em empresas de tecnologia”, disse.
Uma mensagem de confiança e esperança com a qual nem todos concordam. “Vamos criar mais ou menos empregos? Vamos ser mais diversificados? Não tenho uma resposta para vocês”, confessou Young Sohn, presidente da Samsung Electronics, que afirmou que o mundo está ainda a aprender a lidar com a tecnologia.
O trabalhadores têm por isso de estar preparados para as mudanças das quais ainda não se conhece o resultado, uma vez que agora o seu papel já não é só o de fazer, mas também o de criar e pensar fora da caixa.
As pequenas empresas foram também motivo de conversa por ser necessário que a inovação esteja nelas cada vez mais presente, que se reinventem e que saibam apostar nas pessoas certas.
Algo que não muda no mercado é o foco na satisfação do cliente e é cada vez mais inegável a fome de tecnologia. A conclusão chave é também bastante tradicional: o melhor mercado começa na satisfação do cliente e as empresas têm de aprender a responder o melhor possível até porque a oferta é cada vez maior.
Trabalho do futuro Na Web Summit, o i falou com os responsáveis de algumas das startups que têm como principal preocupação o mercado de trabalho. A espanhola Easy Virtual Fair quer revolucionar o recrutamento e para isso desenvolveu um software em que “recrutadores e candidatos possam falar em chats como forma de se conhecerem”, sem serem necessários downloads adicionais ou taxas ocultas, explicou Juliet, responsável pela empresa que está pela segunda vez na Web Summit.
A plataforma tem como objetivo recolher informação simples dos candidatos e que estes respondam a questões dos recrutadores em tempo real, sem que sejam necessárias trocas de email ou envios de currículos.
O produto foi criado a pensar no combate de um dos “problemas mais recorrentes das empresas que são as grandes bases de dados e perfis armazenados”.
A empresa está há dois anos no mercado e já tem 60 clientes de partes diferentes do mundo, entre escolas, universidades, empresas e eventos.
Já no que diz respeito à forma como se trabalha dentro da empresa, a Koonect é “um software empresarial para que cada empresa possa ter a sua plataforma de e-learning personalizada e para que possam criar os conteúdos, fazer upload de powerpoints ou de vídeos e a partir daí criar cursos para disponibilizar aos seus utilizadores”, diz Sérgio Cabecinhas, responsável pela empresa portuguesa ZenWebSolution, criadora do projeto. “Nas empresas, para além das pessoas, o conhecimento é o segundo ativo mais importante e a ideia é partilhar esse conhecimento com todos os utilizadores”, acrescenta.
Assim, cada empresa pode ter uma plataforma feita à medida das necessidades e o próximo passo será mesmo uma aplicação móvel com, por exemplo, “um construtor de relatórios e gamming, com objetivos definidos para cada colaborador”. “Implementados em empresas em Angola, num banco e numa petrolífera”, a empresa esteve na Web Summit para “gerar contactos” e, em termos de investimento, confessou já ter “duas ou três propostas”.
A inovação está também presente na segurança no trabalho e a inCloud Safemed quer revolucionar esse elemento laboral. A startup portuguesa que pertence à ABACO Consultores quer prevenir acidentes e complicações no trabalho através da aplicação de pequenos sensores no ambiente laboral para que seja possível ler os níveis de gases, ruído e luminância de uma sala e, através de um dispositivo móvel, interagir com os funcionários. “Este projeto permite acrescentar os dados do trabalhador em tempo real», explica José Lourenço, developer na ABACO
Este projeto divide-se em três componentes. Os sensores IOT que identificam o estado da divisão, os wearables (como smartwatch ou braceletes interativas), onde o trabalhador recebe as notificações e pode acompanhar os níveis detetados pelos sensores, e os beacons, aparelhos de localização que permitem identificar os funcionários que entram na divisão e relacionar os dados.
José Lourenço usou como exemplo “uma empresa que trabalha com químicos que quer saber se os trabalhadores estão expostos a elementos tóxicos” para explicar que, com este projeto, “quem controla o sistema pode monitorizar, por exemplo, o batimento cardíaco de um trabalhador e notificar os trabalhadores à volta para que vejam o que se passa”.
Os gastos extra com saúde são um dos problemas que esta startup quer travar, ainda que, como disse o developer da ABACO, “as empresas portuguesas não estejam muito viradas para a prevenção”.