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Na história de uma nação ou da humanidade, cinco décadas é uma gota de água, mas para qualquer ser humano é uma marca de referência


Meio século. Um período de tempo e de inserções nos espaços que proporciona muitas experiências, muitas vivências e a necessidade de um permanente apuro das aprendizagens, dos filtros e de capacidades de adaptação perante as transformações.

Num contexto em que o tempo acelerou e é acelerado, pontuado por múltiplos fatores, mais ou menos evidentes, o apuro é decisivo para nunca se perder o azimute da sintonia com os valores e os princípios de referência.

Cinco décadas é mais que muitos tiveram no passado, é menos do que ambicionamos no presente e para futuro. Sobretudo num tempo em que a disponibilidade presencial dos serviços úteis é substituída por uma dimensão digital, nem sempre adequada ao nosso tempo e modo. Um tempo em que os direitos tendem a ser diferidos e os deveres a serem cada vez mais presentes, numa dinâmica em que nem sempre se dispõe de ferramentas para assegurar critérios mínimos de equidade, de senso e de sentido de justiça.

Cinco décadas ricas de experiências, de encontros e de desencontros, de cidades e de mundo rural, de tradições e de inovações, trazem o apuro de não abdicar de nenhum direito adquirido, de não prescindir de afirmar o que se pensa e de não prescindir de fazer o que dá verdadeiramente prazer, com o retorno que é merecido.

Na história de uma nação ou da humanidade, cinco décadas é uma gota de água, mas para qualquer ser humano é uma marca de referência.

Referência para se acantonar nas experiências de vida seguindo para a outra metade do século, ou para manter o adequado apuro de personalidade, de intervenção cívica e de usufruto de um país e de um mundo que têm tanto de desafiante como de exigente.

Há um manancial de experiência e de sabedoria resultante de tantas e tão ricas experiências cívicas, políticas e profissionais que não se aprende em nenhuma escola ou faculdade, sobretudo porque o sistema de ensino não está formatado para suscitar a exigência do raciocínio, da integração das fontes de conhecimento, e a predisposição para a transformação. Somos, por formatação, encarreirados para replicar o que se aprende e interioriza. No processo de crescimento, através do debitar das matérias lecionadas; na vida adulta, pela conformação com a realidade, seja ela efetiva, construída ou digital. Este é o modelo cívico que por ação ou por inação se tem construído. É o que convém às lideranças políticas e aos decisores económicos vigentes, mas não significa que seja o padrão. Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não, ainda que o proclamador faça mais fretes ao poder do sistema que o comum dos cidadãos. Não será por isso de estranhar que para balançar o padrão que se pretende, do laxismo com os Tancos da vida, com os sobressaltos éticos ou com as incomensuráveis confusões entre os negócios e a política, se impulsionem novas abordagens e traços de modernidade, da proximidade presidencial à reiterada estratégia de afirmação do apuro tecnológico quando em muitos territórios não existe o básico na saúde, na educação, na segurança ou na valorização das potencialidades tradicionais. 

Meio século de vida sustenta a intransigência na defesa da tolerância com a diversidade das expressões de individualidade ou das comunidades, das orientações sexuais ao gosto pelas tradições tauromáquicas, do combate aos fundamentalismos anacrónicos de quem quer todos os direitos para si próprio e a imposição de deveres para os outros. Há falta de capacidade para concretizar mais e melhor, para reformatar os sistemas que perpetuam os atrasos estruturais de Portugal e a existência de milhares de cidadãos fora dos beneplácitos do sistema. Os fundamentalistas associados à solução de governo, como antes os de outras soluções à direita, querem-nos impor os seus gostos, as suas verdades ou os seus sopros de exercício político de atos simbólicos, mais ou menos pejados de volatilidade. Mesmo em tempo de euforia digital com a Web Summit, este é o momento de caírem na real.

Meio século é muito tempo, o necessário para perceber as tendências, as dinâmicas e os fugazes exercícios de quem, arvorando-se de ter um património de esquerda, age como vários protagonistas do campo diametralmente oposto. São muitos os armários das nossas vidas. Com experiências e com fontes de conhecimento, permitem-nos ver mais longe que a mera sobrevivência política ou a arrogância de uma qualquer circunstância. 

A gratidão pelo meio século passado, com reconhecimentos e indiferenças, reforça algum egoísmo nas opções de futuro, sempre partilhadas com a família e com os verdadeiros amigos. Afinal, o que do ponto de vista pessoal verdadeiramente importa.

NOTAS FINAIS

Água-pé É fraco o critério presidencial de ir ao território em quase vésperas de eleições (europeias, legislativas e regionais da Madeira), sem acautelar a gestão dos equilíbrios em presença. No Porto Santo e na Madeira, a coisa não terá corrido bem.

Castanhas Entre os milhões que são enunciados de investimentos para as tecnológicas e os retornos que são brandidos como retorno do investimento na Web Summit em Lisboa, importará haver um efetivo escrutínio dos resultados obtidos. É que, por vezes, parece estarmos a assistir ao quadro de apoio do Estado aos problemas do sistema bancário. Para uns há sempre dinheiros, para outros é sempre uma dificuldade conseguir alguns milhões para setores ou territórios vitais para a nação.

Jeropiga Contrasta a euforia mediática com o Sport Lisboa e Benfica com o tumular silêncio em relação ao processo Cashball. Já se sabe que o Benfica é que vende, mas não confrontar o dr. Varandas com as vergonhas da casa só pode ser frete para lhe permitir diagnósticos alheios. Um médico que falha o diagnóstico corre o risco de ser acusado de negligência.
 
Escreve à quinta-feira


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Na história de uma nação ou da humanidade, cinco décadas é uma gota de água, mas para qualquer ser humano é uma marca de referência


Meio século. Um período de tempo e de inserções nos espaços que proporciona muitas experiências, muitas vivências e a necessidade de um permanente apuro das aprendizagens, dos filtros e de capacidades de adaptação perante as transformações.

Num contexto em que o tempo acelerou e é acelerado, pontuado por múltiplos fatores, mais ou menos evidentes, o apuro é decisivo para nunca se perder o azimute da sintonia com os valores e os princípios de referência.

Cinco décadas é mais que muitos tiveram no passado, é menos do que ambicionamos no presente e para futuro. Sobretudo num tempo em que a disponibilidade presencial dos serviços úteis é substituída por uma dimensão digital, nem sempre adequada ao nosso tempo e modo. Um tempo em que os direitos tendem a ser diferidos e os deveres a serem cada vez mais presentes, numa dinâmica em que nem sempre se dispõe de ferramentas para assegurar critérios mínimos de equidade, de senso e de sentido de justiça.

Cinco décadas ricas de experiências, de encontros e de desencontros, de cidades e de mundo rural, de tradições e de inovações, trazem o apuro de não abdicar de nenhum direito adquirido, de não prescindir de afirmar o que se pensa e de não prescindir de fazer o que dá verdadeiramente prazer, com o retorno que é merecido.

Na história de uma nação ou da humanidade, cinco décadas é uma gota de água, mas para qualquer ser humano é uma marca de referência.

Referência para se acantonar nas experiências de vida seguindo para a outra metade do século, ou para manter o adequado apuro de personalidade, de intervenção cívica e de usufruto de um país e de um mundo que têm tanto de desafiante como de exigente.

Há um manancial de experiência e de sabedoria resultante de tantas e tão ricas experiências cívicas, políticas e profissionais que não se aprende em nenhuma escola ou faculdade, sobretudo porque o sistema de ensino não está formatado para suscitar a exigência do raciocínio, da integração das fontes de conhecimento, e a predisposição para a transformação. Somos, por formatação, encarreirados para replicar o que se aprende e interioriza. No processo de crescimento, através do debitar das matérias lecionadas; na vida adulta, pela conformação com a realidade, seja ela efetiva, construída ou digital. Este é o modelo cívico que por ação ou por inação se tem construído. É o que convém às lideranças políticas e aos decisores económicos vigentes, mas não significa que seja o padrão. Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não, ainda que o proclamador faça mais fretes ao poder do sistema que o comum dos cidadãos. Não será por isso de estranhar que para balançar o padrão que se pretende, do laxismo com os Tancos da vida, com os sobressaltos éticos ou com as incomensuráveis confusões entre os negócios e a política, se impulsionem novas abordagens e traços de modernidade, da proximidade presidencial à reiterada estratégia de afirmação do apuro tecnológico quando em muitos territórios não existe o básico na saúde, na educação, na segurança ou na valorização das potencialidades tradicionais. 

Meio século de vida sustenta a intransigência na defesa da tolerância com a diversidade das expressões de individualidade ou das comunidades, das orientações sexuais ao gosto pelas tradições tauromáquicas, do combate aos fundamentalismos anacrónicos de quem quer todos os direitos para si próprio e a imposição de deveres para os outros. Há falta de capacidade para concretizar mais e melhor, para reformatar os sistemas que perpetuam os atrasos estruturais de Portugal e a existência de milhares de cidadãos fora dos beneplácitos do sistema. Os fundamentalistas associados à solução de governo, como antes os de outras soluções à direita, querem-nos impor os seus gostos, as suas verdades ou os seus sopros de exercício político de atos simbólicos, mais ou menos pejados de volatilidade. Mesmo em tempo de euforia digital com a Web Summit, este é o momento de caírem na real.

Meio século é muito tempo, o necessário para perceber as tendências, as dinâmicas e os fugazes exercícios de quem, arvorando-se de ter um património de esquerda, age como vários protagonistas do campo diametralmente oposto. São muitos os armários das nossas vidas. Com experiências e com fontes de conhecimento, permitem-nos ver mais longe que a mera sobrevivência política ou a arrogância de uma qualquer circunstância. 

A gratidão pelo meio século passado, com reconhecimentos e indiferenças, reforça algum egoísmo nas opções de futuro, sempre partilhadas com a família e com os verdadeiros amigos. Afinal, o que do ponto de vista pessoal verdadeiramente importa.

NOTAS FINAIS

Água-pé É fraco o critério presidencial de ir ao território em quase vésperas de eleições (europeias, legislativas e regionais da Madeira), sem acautelar a gestão dos equilíbrios em presença. No Porto Santo e na Madeira, a coisa não terá corrido bem.

Castanhas Entre os milhões que são enunciados de investimentos para as tecnológicas e os retornos que são brandidos como retorno do investimento na Web Summit em Lisboa, importará haver um efetivo escrutínio dos resultados obtidos. É que, por vezes, parece estarmos a assistir ao quadro de apoio do Estado aos problemas do sistema bancário. Para uns há sempre dinheiros, para outros é sempre uma dificuldade conseguir alguns milhões para setores ou territórios vitais para a nação.

Jeropiga Contrasta a euforia mediática com o Sport Lisboa e Benfica com o tumular silêncio em relação ao processo Cashball. Já se sabe que o Benfica é que vende, mas não confrontar o dr. Varandas com as vergonhas da casa só pode ser frete para lhe permitir diagnósticos alheios. Um médico que falha o diagnóstico corre o risco de ser acusado de negligência.
 
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