ESCREVI NESTE ESPAÇO que Frederico Varandas poderia ser um bom presidente para o Sporting. Mas a demissão de José Peseiro aponta no sentido contrário: mostra imaturidade e precipitação
Aquilo de que o Sporting mais precisava este ano era de estabilidade. Após o terrível episódio de Alcochete e as diatribes subsequentes, o Sporting necessitava, como de pão para a boca, de tranquilidade, de tempo para assentar a poeira e sarar as feridas. Ora a demissão de Peseiro veio reabrir desgraçadamente a instabilidade no clube. Era tudo aquilo de que o Sporting não precisava neste momento.
UM PRESIDENTE AFIRMA-SE, também, por saber resistir à pressão dos adeptos. Luís Filipe Vieira ganhou prestígio quando resistiu à onda benfiquista e aguentou Jorge Jesus. Ora Varandas deu toda a impressão de ir atrás dos lenços brancos de Alvalade. E isso é sinal de um líder com pouca personalidade.
Até porque este era o pior momento para demitir o treinador. A Taça da Liga é uma prova propícia à rotação do plantel. Mais importante do que os resultados, é experimentar os jogadores menos utilizados, dar-lhes tempo de competição. Uma equipa tem 23 futebolistas no plantel, e estes jogos servem exatamente para os pôr a jogar, para os motivar, para lhes dar utilidade. Claro que isso comporta alguns riscos. Mas devem ser assumidos – e quando as coisas correm mal devem ser relativizados.
POR OUTRO LADO, esta época sempre foi dada como perdida. O objetivo não era conseguir grandes feitos – era colar os cacos, estabilizar as coisas, preparar o terreno para os anos futuros. Criar a ideia de que o Sporting podia ganhar muitos troféus nesta época era um erro crasso. Era alimentar ilusões. Ora, também nesta perspetiva a decisão de mudar o treinador não faz sentido. E cria expectativas para o futuro próximo que são totalmente deslocadas.
Em último lugar, esta demissão obriga a contratar um treinador à pressa, entre os que estão disponíveis nesta altura da época. Ora, se Peseiro ficasse até ao fim da temporada, como deveria ser, daria tempo à direção para preparar as coisas, entabular negociações e contratar o treinador desejado e não um treinador de recurso.
E ISTO PARA NÃO falar da indemnização a que Peseiro teve direito – e que foi dinheiro deitado à rua numa altura em que o Sporting enfrenta muitas dificuldades financeiras.
Por tudo isto, a demissão de Peseiro foi um erro tremendo. Que já por si só seria um facto muito negativo – mas que ainda o é mais por pôr a nu as debilidades e a impreparação de um presidente em que se depositavam muitas esperanças.