Paddy Cosgrave é o nome que está por detrás da maior cimeira tecnológica: Web Summit. Fundada em 2010 com os cofundadores Daire Hickey e David Kelly, rapidamente ganhou outras dimensões e também outro cenário. No país onde nasceu representou a criação de 150 postos de trabalho e um impacto na ordem dos 100 milhões de euros na economia irlandesa. E o que começou com uma equipa de apenas três pessoas rapidamente se transformou numa organização com mais de 150 colabores.
Mas Paddy queria mais. Por ser considerada a maior conferência de empreendedorismo, tecnologia e inovação da Europa, o fundador pediu em 2015 ao governo irlandês um “plano básico” para que Dublin continuasse a acolher este evento. E isso teria de passar por medidas de controlo de trânsito, aumento da frequência de transportes públicos, hotéis e internet de banda larga – exigências a que o governo irlandês não conseguiu dar resposta ou, pelo menos, não em tempo útil, levando o fundador a procurar outras cidades europeias que conseguissem dar as condições de que este evento precisava.
Nessa altura surgiram três cidades no radar dos irlandeses: Lisboa, Paris e Amesterdão – que já tinham mostrado interesse em receber a Web Summit. Mas o fator que Paddy Cosgrave diz ter sido decisivo para a escolha de Lisboa foi o entusiasmo da comunidade tecnológica.
E com a vitória de Lisboa rapidamente a imprensa internacional apontou Dublin como a grande derrotada. A Bloomberg chegou a escrever “Dublin perde para Lisboa a Davos para geeks”, enquanto o “Irish Independent” disse que a capital irlandesa tinha perdido “a prestigiante Web Summit para Lisboa”. Do lado governamental irlandês, as críticas não se fizeram esperar. “A Irlanda vai seguir em frente”, apesar de ter admitido que o evento “tinha sido muito bom para a Irlanda e para a sua reputação nos últimos anos”, disse, na altura, o primeiro-ministro Enda Kenny.
Do email à realidade O Turismo de Lisboa recebeu um email a perguntar se havia interesse em conversar sobre a possibilidade de Lisboa receber a conferência. O entusiasmo, como se sabe, foi grande e, na altura, o governo apostou todas as cartas para receber esta cimeira tecnológica. Ao mesmo tempo, conseguiu garantir que Portugal tinha todas as infraestruturas necessárias para receber o evento, afirmando que o verdadeiro retorno da Web Summit só se sentiria daí a cinco ou dez anos.
Em 2016, a cimeira mudou-se então para Lisboa, com uma previsão inicial de ficar três anos. No entanto, no início de outubro deste ano foi anunciado que o evento continuará a ser realizado em Lisboa por mais dez anos, ou seja, até 2028, mediante contrapartidas anuais de 11 milhões de euros e a expansão da Feira Internacional de Lisboa (FIL). A organização tinha anunciado em maio que estava a negociar com várias cidades a realização deste evento, como Valência, Madrid e Londres.
A nova FIL terá “quase duas vezes e meia a área atual”, anunciou Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, uma intervenção que vai ocorrer “em diversas fases, em diversos anos”. O projeto inclui a expansão do edifício da FIL para a Praça Sony, uma das zonas emblemáticas da Expo 98 e que agora não está em utilização.
“Num primeiro momento vamos crescer com soluções provisórias, num segundo momento vamos crescer com soluções definitivas, e procurando incorporar aqui uma resposta que fazia falta à cidade de Lisboa, que faz falta à cidade de Lisboa, e há muitos anos vem sendo discutido, que é um novo equipamento que nos permita acolher grandes congressos”, explicou o autarca no dia em que foi feito o anúncio de que o evento irá continuar na capital por mais dez anos.
O acordo prevê ainda uma cláusula de rescisão de 3,4 mil milhões de euros, o que significa que, se a Web Summit quiser sair, terá de indemnizar o Estado. Este montante corresponde ao impacto total estimado do evento, já que, segundo fonte da Câmara de Lisboa, se traduz em 340 milhões de euros por cada ano de incumprimento do acordo.
Este esforço “tem como contrapartida enormes vantagens”, garantiu, na altura, Caldeira Cabral, estimando “mais de 300 milhões de euros” de vantagens. “Só as receitas fiscais, que no último ano foram estimadas num valor superior a 30 milhões de euros, e, com o escalar deste evento para mais de 100 mil pessoas, podemos estar a falar de uma receita fiscal que paga várias vezes este apoio que estamos a dar”, explicou o ministro que, entretanto, já abandonou a pasta.