Por que razão são esperadas 70 mil pessoas – entre oradores, startups, jornalistas e investidores – de 170 países na Web Summit? Além de ser o maior evento de tecnologia do mundo, é também um acontecimento que junta algumas das figuras mais proeminentes de diversas áreas.
A “estrela” da abertura será António Guterres. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) terá esta tarde, durante a cerimónia de inauguração, uma intervenção de 15 minutos na qual falará sobre a importância de fomentar um futuro digital que seja “seguro e que beneficie todos”, lê-se na descrição da conferência. O primeiro-ministro, António Costa, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, também estarão presentes no arranque do evento, acompanhados pelo fundador e CEO da Web Summit, Paddy Cosgrave.
No primeiro dia, os participantes vão também poder ouvir dois “gigantes” da tecnologia: Tim Berners-Lee, fundador da World Wide Web, e Lisa Jackson, vice-presidente da Apple.
Os dois dias seguintes contarão com intervenções muito diferentes – do desporto à política, passando (obviamente) pela tecnologia, há conferências para todos os gostos. O comissário europeu Carlos Moedas, a comissária europeia para a concorrência, Margrethe Vestager, o futebolista brasileiro Luisão, o treinador André Villas-Boas, o agente Jorge Mendes, o presidente da Samsung, Young Sohn, e os responsáveis das redes sociais Pinterest e Tinder também estão em Lisboa para falar sobre o futuro das suas profissões e da sociedade como um todo.
A Web Summit encerra nomes como Nadja Swarovski, da administração da conhecida empresa de cristais, Ben van Beurden, CEO da Shell, Alan Schaaf, fundador da plataforma Imgur, e o produtor musical Christopher Leacock. A cerimónia de encerramento fica a cargo de Paddy Cosgrave e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair também aparece na lista dos oradores. No entanto, fazendo uma busca na agenda do evento, não é possível perceber em que dia ou em que conferência irá participar.
De que se vai falar
A Web Summit tem tantas conferências a acontecer ao mesmo tempo que é quase impossível não se falar um pouco sobre tudo – só para se ter uma noção, na última edição foram contabilizados 1200 oradores, 2000 start-ups e 1400 investidores.
Além do palco central, onde irão decorrer as conferências das “estrelas”, o evento tem ainda palcos dedicados a outros temas: Forum, Forum Rostra, Pandaconf, Healthconf, Moneyconf, Planet: tech e Auto, Tech e Talkrobot são alguns dos “minieventos” dentro da Web Summit, onde serão abordados diferentes assuntos, como questões relacionadas com dinheiro, ambiente, inteligência artificial, educação, sustentabilidade, relações humanas, moda, música, televisão, transportes… Tudo o que possa imaginar.
Se vai à Web Summit e não sabe como planear o seu dia, a organização disponibiliza uma ferramenta útil: na agenda das conferências – disponível no site – pode procurar as conferências por temas, selecionando filtros como direitos humanos, segurança, filantropia e bem social ou gaming.
E este ano há novidades: existem três novos palcos. No Deeptech irá falar-se sobre o impacto da computação no quotidiano; na Cryptoconfe discutem-se as novidades no mundo das moedas digitais; já o Unboxed é o espaço onde os críticos analisam os novos produtos tecnológicos.
A par das conferências existem espaços onde as empresas expõem os seus produtos e serviços. Há ainda a Night Summit – evento noturno que se prolonga por todos os dias do evento e irá decorrer em várias zonas da cidade: no Parque das Nações, na Rua Cor de Rosa (Cais do Sodré), no LX Factory (Alcântara) e na Casa Independente (Largo do Intendente) – e a Surf Summit, uma iniciativa que arrancou no sábado, na Ericeira, e que serve como aperitivo para quem vai participar no evento e gosta de desportos como surf, paddle surf e BTT.
Última polémica Ronaldinho Gaúcho também era para estar presente, mas vai faltar à edição deste ano por ter o passaporte apreendido pela justiça brasileira. A informação foi avançada pela própria organização. “Sem passaporte, não há Web Summit para o Ronaldinho, infelizmente. Haverá sempre o próximo ano”, escreveu o presidente executivo do evento, Paddy Cosgrave, na sua conta oficial da rede social Twitter. E deixou uma garantia: “Vamos sentir a sua falta no palco do desporto [da cimeira].”
Segundo avançou a edição brasileira da cadeia de televisão Entertainment and Sports Programming Network (ESPN), Ronaldinho e o irmão, Roberto Assis Moreira, têm os passaportes apreendidos “devido à falta de pagamento de uma dívida referente a um processo por danos ambientais”. Em causa está uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, tendo por base a construção e licenciamento ambiental de um cais na orla do rio Guaíba, uma zona protegida.
A sentença determina o pagamento de uma multa e outras medidas, que não foram cumpridas até ao momento, desde a condenação do caso em 19 de fevereiro de 2015. As indemnizações ascendem a mais de 8,5 milhões de reais (cerca de dois milhões de euros). A apreensão dos passaportes justifica-se, assim, pela “dificuldade comprovada” de intimar Ronaldinho e o irmão, “fotografados rotineiramente em diferentes lugares do mundo”, segundo a sentença divulgada pelo canal de televisão.
Convite polémico
Paddy Cosgrave e a organização da Web Summit prometeram “a maior e melhor” edição de sempre, mas ainda faltavam vários meses para o arranque do evento e a lista de oradores já estava a gerar polémica: a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, tinha sido convidada para vir a Lisboa e participar nas conferências, mas o convite não caiu bem a muitas pessoas, que usaram as redes sociais para criticar a organização do evento.
O impacto deste convite foi tal que, em meados de agosto, Cosgrave teve de retirar o convite. “É agora claro para mim que a decisão correta para a Web Summit é retirar o convite a Marine Le Pen”, escreveu no Twitter. O governo português também teve de se chegar à frente e esclarecer que não tinha qualquer intervenção na escolha dos oradores que participam no evento.
Jantar ao lado de Amália e Eusébio
Uma das maiores polémicas do ano passado foi o jantar de encerramento. A organização costuma realizar um jantar para os F.ounders – trata-se de um evento à porta fechada, apenas para grandes líderes tecnológicos. Em 2017, o local escolhido foi o Panteão Nacional, destinado a perpetuar a memória de figuras míticas portuguesas como Amália Rodrigues, Eusébio, Sophia de Mello Breyner e Teófilo Braga.
Uma fotografia do jantar foi parar às redes sociais e a polémica instalou-se. “Quem terá sido o ministro, ou o secretário de Estado, que autorizou o evento?” e “Se a Web Summit se realizar num mês quente, faz-se isto num almoço ao ar livre no Cemitério dos Prazeres” foram alguns dos comentários que começaram a circular na internet.
Apesar da onda de indignação que se gerou, soube-se que aquele não era nem o primeiro nem o segundo jantar que se realizava no Panteão Nacional: desde 2014 que era possível utilizar certos monumentos para eventos privados, mediante pagamento.
Em março deste ano foram publicadas novas regras em Diário da República. “No Panteão Nacional, instalado na Igreja de Santa Engrácia, só podem ser autorizados eventos de natureza cultural, criteriosamente selecionados e enquadrados com a dignidade dos espaços”, define o revisto Regulamento de Cedência de Espaços.