A campanha de Bolsonaro foi feita a partir da clara definição de um inimigo: o PT. Quando se ensaiava uma pergunta programática a resposta passava sempre pela oposição ao que se dizia que o PT havia feito – fosse verdadeiro ou falso.
A forma como a direita portuguesa viu a eleição de Bolsonaro dividiu-se entre o embaraço, a simpatia abstencionista e o fervor revolucionário por se imaginar noutros tempos, mas voltou a unir-se a partir da ideia que o que origina figuras como Bolsonaro é… a esquerda.
A construção desta tese tem vindo a ser desenvolvida em diversos textos do Ronaldinho da direita portuguesa, João Miguel Tavares, e de uma forma mais caceteira e metódica por vários colunistas do Observador.
“Onde estavam no tempo de Sócrates?”, pergunta Tavares, enunciando um comprometimento da esquerda com a aura de corrupção que paira sobre o governo de então. A construção da mentira só é possível ignorando factos; como os PEC’s de Sócrates aprovados com a direita e o bloqueio que a direita sempre faz a todas as iniciativas que alterem o regime de incompatibilidades e impedimentos de cargos políticos e altos cargos da administração pública ou que aflorem a criminalização do enriquecimento ilícito. Noutro texto escreve que “(…) PCP e o Bloco julgam-se os grandes representantes dos portugueses desfavorecidos, mas isso não passa de conversa (…) A massa dos trabalhadores independentes não é representada por ninguém (…) Portugal ainda resiste à onda (…) à custa dos juros baixos e da conjuntura internacional favorável ainda existe dinheiro para distribuir. No dia em que a torneira se voltar a fechar (…) O nosso Bolsonaro de bolso terá então caminho livre”.
Esta direita quer-nos fazer crer que os primeiros a serem despedidos, presos e assassinados em regimes fascistas são os responsáveis pelo seu eclodir. Repare-se que a lógica de raciocínio pouco diverge de quem culpabiliza o sistema público de saúde proposto por Obama pela vitória de Trump ou a vítima de uma violação por vestir roupas mais curtas. Ainda que esta tese pareça difícil de sustentar do ponto de vista racional, a expressão avassaladora com que ecoa na opinião de todos os meios de comunicação social começa a alimentar o monstro perante a bonomia interesseira de um centrão decadente e corrupto que vai sobrevivendo e alimentando-se na sombra destes fogachos.
Escreve à segunda-feira