Graça Fonseca e o que é ou não é “civilizacional”


O primeiro passo para uma sociedade pouco tolerante é convencermo-nos de que somos mais civilizados que aqueles que pensam de forma diferente de nós


Antes de começar esta crónica, um pequeno ponto prévio. Nutro pela nova ministra da Cultura, Graça Fonseca, um enorme respeito. Não só pela coragem de assumir frontalmente a sua orientação sexual, mas principalmente por ter até agora exercido todos os cargos públicos por onde passou com um profissionalismo exemplar.

No entanto, admito que fiquei absolutamente chocado com a forma como maltratou todos os aficionados das corridas de touros que existem em Portugal e que estão muito longe de serem uma pequena minoria da população.

Referir que a perseguição fiscal aos profissionais e aficionados da arte tauromáquica é uma questão “civilizacional” é uma atitude cabotina e arrivista, com traços largos de mau gosto e requintes de absoluta malvadez. Antes do mais, por não ser competência de uma ministra da Cultura avaliar uma arte de cariz popular, fortemente enraizada na nossa cultura, com base nos seus gostos pessoais e preconceitos urbano- -depressivos. Depois, porque esta medida só foi incluída no Orçamento do Estado por imposição do PAN (os mesmos que defendem os copos menstruais), e não por iniciativa da própria ministra, que só agora foi empossada nesta pasta ministerial da Cultura.

Mas sobre esta questão “civilizacional” importa aprofundar um pouco mais o ridículo de toda esta situação. Façamos, pois, um paralelo: imaginemos que na próxima legislatura é empossado um governo de direita, com uma ministra da Cultura ultraconservadora e que é uma feroz ativista contra os casamentos homossexuais (que eu defendo). Imaginemos agora que esta ministra decide, com base nos seus preconceitos e na sua visão do que é ou não é “civilizacional”, retirar os apoios estatais a todas as iniciativas culturais relacionadas com os movimentos LGBT, como, por exemplo, o ciclo de cinema gay Queer, que conta atualmente com o apoio do ICA e do Ministério da Cultura. Como reagiria Graça Fonseca?

O primeiro passo para uma sociedade pouco tolerante é convencermo-nos de que somos mais civilizados que aqueles que pensam de forma diferente de nós. Por este motivo, Graça Fonseca deve um pedido de desculpa a todos aqueles que gostam de corridas de touros. Em especial, àqueles que, como eu, sempre admiraram o seu trabalho e percurso político.

 

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