Tancos. Marcelo foi cauteloso sobre cenário de crise política

Tancos. Marcelo foi cauteloso sobre cenário de crise política


“Sei lá o que é que a investigação apura”, afirmou o Presidente da República sobre o caso. CDS insiste em ouvir António Costa


O caso do material de guerra roubado e recuperado de Tancos ganhou ontem novos contornos com uma resposta cautelosa do presidente da República sobre uma eventual crise política: “ Sei lá o que é que a investigação apura”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, à saída da Conferência do Plano Nacional de Leitura 2027 na Fundação Calouste Gulbenkian. Numa altura em que o Parlamento já tem a lista de material de guerra recuperado – e faltam cinco granadas e trinta explosivos – Marcelo sentiu necessidade de responder à pergunta, mas com uma ressalva: “Olhando para aquilo que se apurou até hoje, é prematuro estar a fazer juízos dessa natureza”.

O presidente tem insistido no apuramento da verdade – “doa a quem doer” – num processo que obrigou à demissão do ministro da Defesa, decapitou a Polícia Judiciária Militar, e tem dois inquéritos conexos no Ministério Público: um sobre o roubo, outro sobre a recuperação das armas.

No Parlamento está a ser preparada uma comissão de inquérito, que tomará posse em dezembro, mas os deputados da comissão de Defesa tiveram luz verde do Ministério Público para divulgar as listagens de material roubado e recuperado. Existem mais documentos, guardados num cofre que estão sob segredo de justiça. Os deputados do PCP consideraram, por isso, que a informação deveria ser devolvida à Procuradoria-Geral da República, uma decisão apoiada pelo PS e pelo Bloco de Esquerda. O CDS ficou isolado ao defender que os parlamentares poderiam consultar os documentos, estando abrangidos, por isso, ao segredo de justiça. 

Perante a confirmação da discrepância entre o material roubado e recuperado, os centristas voltaram ontem a insistir na audição do primeiro-ministro no inquérito parlamentar. O deputado António Carlos Monteiro considerou que “quando o senhor primeiro-ministro e o senhor ministro da Defesa garantiram à União Europeia, à Nato, e ao país , que tudo tinha sido recuperado, não estavam a falar verdade”. O PSD entregou, entretanto, uma pergunta ao governo para questionar o primeiro-ministro sobre o grau de conhecimento do caso da ministra da Justiça. Num debate quinzenal, António Costa afirmou que mantinha a confiança no seu ministro da Defesa e na ministra da Justiça, sem ter sido questionado para o efeito: “ Como é público e notório, não só mantenho o meu ministro como mantenho a ministra da Justiça. Mantenho todos os membros do Governo”.

Vasco Brazão quer colaborar O ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar, Vasco Brazão, e um dos arguidos no processo, garantiu ontem que quer colaborar com a justiça e negou qualquer tentativa de encobrimento na operação de recuperação das armas. “Nego em absoluto qualquer encobrimento (…) Trabalhámos sempre com um informador e foi essa a informação que foi passada ao gabinete do senhor ministro da Defesa”.