Alguns dias depois da fuga rocambolesca de três homens pela janela de um tribunal do Porto, a divulgação das fotografias da recaptura dos suspeitos continua a dar que falar. Os posts nas redes sociais sucedem-se, uns de apoio aos agentes da autoridade, outros a lamentar o aparecimento das imagens, consideradas indignas e aviltantes.
Que estas nunca deveriam ter vindo a lume parece-me ponto assente. Mas daí a transformar esse facto lateral na grande questão do momento vai um grande e perigoso passo. É virar tudo de pernas para o ar.
O mais importante aqui não são as imagens nem o Facebook. É sim que, primeiro, houve uma falha grave que permitiu a fuga dos homens, quase comprometendo o trabalho da polícia e a segurança pública; segundo, que os fugitivos foram localizados e neutralizados menos de 24 horas depois. Aquilo que representava uma ameaça à solta deixou de o ser.
Mas houve quem tentasse inverter os papéis e transformar os polícias nos maus da fita e os suspeitos nas vítimas. Alegou-se que estes ainda não foram julgados (pudera, se fugiram do tribunal…), por isso merecem a presunção de inocência. Esta tese tem um problema: é que se os suspeitos tentaram furtar-se à justiça isso deve querer dizer alguma coisa… E mais: quando foram apanhados tinham consigo qualquer coisa como quarenta mil euros em notas de 500. Nada mau!
Que haja quem queira desacreditar a polícia não surpreende, pois há muita gente antissistema que gosta de minar a autoridade e de promover a barafunda. O que já parece menos compreensível é que o ministro da Administração Interna tenha preferido repreender os agentes por causa da divulgação das fotos a enaltecê-los, chamando a atenção para um aspeto acessório do caso. Como pôde, também ele, ir nessa “cantiga do bandido”?
P.S. Uma nota sobre o arrendamento da casa do presidente da Câmara de Lisboa em Monsanto. Faz sentido a autarquia rentabilizar o património que tem. Só que este caso dá a impressão de que a câmara se tornou um foco de promiscuidade entre política e negociatas.