O Grande Ilusionista e meninos ingénuos


Os jovens dirigentes bloquistas e comunistas vieram do Orçamento de mãos a abanar: iam buscar lã e saíram tosquiados


1. Nota prévia: Para os devidos efeitos, o cronista signatário faz saber que também nada sabia sobre o desaparecimento e achamento das munições de Tancos. Encontra-se nas mesmas condições que o Presidente da República, o primeiro-ministro, o ministro da Defesa anterior, o ex-secretário de Estado Perestrelo, o atual CEMGFA, o anterior CEME e o vice-CEME. Como era óbvio desde o início, a culpa é do sargento que está preso e da avó do ladrão, na casa da qual este escondeu os objetos furtados.

 

2. Calçada com os seus belos ténis de multinacional americana “made in” um país miserável do Oriente, a carismática Mariana, em nome do Bloco, e uns jovens turcos bem-parecidos do PCP foram discutir pensões com Vieira da Silva.

Qual gnus juniores da savana africana quando tentam chegar ao rio, foram devorados pelo crocodilo sabidão e mestre da ilusão Vieira da Silva, que tanto aprendeu no tempo socrático, no qual foi agente ativíssimo de uma falência tão vergonhosa como a de 1890.

Os negociadores foram tão bem iludidos que, depois de terem sido triturados, ainda vão achando que fizeram boa figura: chegaram a ir a televisões, defendendo pateticamente os resultados.

Mariana, especialmente, faz lembrar aqueles treinadores que levam seis a zero, mas que dizem que o jogo foi equilibrado, tendo em conta as oportunidades criadas e não concretizadas. Mete dó! Mais consistente foi o PCP que, constatada a argolada da rapaziada, se recolheu e passou a bola a Jerónimo e à CGTP, que sabe fazer contas. Provou-se que ter pinta para a fotografia não é fator que chegue para acabar com o da sustentabilidade. Vieira da Silva, que ontem dava uma entrevista em que enrolou uma jornalista do “Público” e outra da RR, fez deles o que quis. E tem a ajuda de António Costa e o beneplácito de um Presidente da República condicionado, apesar de ser constitucionalista.

O ministro que inventou em 2007 o fator de sustentabilidade teima em mantê-lo, salvo para quem tenha, a partir de janeiro, 60 anos de idade e 40 de trabalho. A criatura engoliu os anjinhos negociadores e entala quem tenha mais, como 41-62 de idade, ou 42-63, ou 43-64. Quem se reforme futuramente com 60-40 terá 38,5% de penalização, apesar de não levar a partir de janeiro com o fator de sustentabilidade. Mas quem, por exemplo, tiver em janeiro 64-43 é aviado com uma dupla penalização que ultrapassa os 20%. Se contarmos o IRS e o IVA do consumo, é certinho que cada um pagará mais de 60% de impostos. Além de muitas outras coisas, toda esta situação ignora casos muito concretos como o de pessoas exiladas que só voltaram a Portugal depois do 25 de Abril, descolonizados e muitos dos que trabalharam sem descontar numa economia que nos anos pós-revolução só estabilizou minimamente em 77/78. Vieira da Silva é, também por isso, tenebroso politicamente. Mas não só. O Montepio, que ele tutela, não é fiscalizado e está num caos, e afunda-se. Põe e dispõe de institutos onde coloca amigalhaços, como no Inatel. O seu papel na Raríssimas foi estranho e escandaloso. Tem uma teia de inimaginável influência que começa logo na família.

Salvo sobressalto do PCP e da ala não submissa do Bloco, o plano de Vieira da Silva vai manter-se. Isto porque ambos os partidos estão subordinados a uma estratégia seguidista de sobrevivência face a um PS controlador do aparelho do Estado e mediático. Como diz o povo na sua milenar sabedoria: “Manda quem pode e obedece quem deve.” Melhor ainda: “Ir buscar lã e vir tosquiado.” Ao ponto que é lícito interrogarmo-nos sobre se realmente houve alguma negociação ou apenas um encontro de amigos e uma patuscada noite fora, uma vez que o resultado final é nulo. Tristeza!

 

3. Com Siza Vieira, de quem aqui falámos a semana passada, é garantido: cada cavadela, uma minhoca. Na primeira nomeação foi apanhado a inscrever-se gerente de uma empresa que fundou com a mulher na véspera de tomar posse, numa ilegalidade brutal. Denunciado, renunciou ao cargo privado e o Tribunal Constitucional anda a estudar se ele podia ser ministro, coisa que, entretanto, continua a ser (o ridículo não se esgota em Tancos). Agora acumulou a pasta da Economia, mas não tem a Energia por nova incompatibilidade: ter sido advogado de empresas da área. Além disso, a mulher (e, pelos vistos, ex-sócia) é a presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, ainda por cima executiva. O ministro defende-se dizendo (sem se rir) que pedirá escusa quando tiver de se pronunciar sobre um caso e que a associação não tem fins lucrativos. É verdade que não tem fins diretos. É pior. Trata-se de uma organização que defende um setor, fazendo lóbi.

 

4. Ana Paula Vitorino é um temporal político. Não só pelo caos em que está toda a área que controla no Ministério do Mar, começando nas pescas e acabando nos portos. A borrasca é tão grande que atinge até o epicentro da estrutura do ministério. Ao ponto que, hoje, já lá não há ninguém que tenha entrado ao mesmo tempo que Ana Paula. Uma verdadeira Leslie. Apesar da confusão, ninguém estranhou que Costa a tenha mantido no governo. Pudera, é a mulher do superministro Eduardo Cabrita, que é essencial a Costa e manda em muitos sítios.

 

Jornalista