O ruído em torno da remodelação governamental lançou uma cortina de fumo que, a meu ver, não permite destacar o que de bom, efetivamente, trouxe.
Houve comentários para tudo. Desde eleitoralista e combatente para enfrentar as eleições que aí vêm, no momento em que é feita, passando por identificar antigos membros do governo de Sócrates, até trapalhada dos avanços e recuos, choveram opiniões depreciativas para todos os gostos. A verdade é que qualquer que fosse a forma de remodelação governamental que António Costa apresentasse, não serviria.
É a política. Sempre assim foi e sempre assim será.
O que me apraz ver nesta remodelação é o claro rejuvenescimento da classe dirigente. Diga-se, em bom rigor, que não é novidade, pois desde o primeiro elenco governativo de Costa, a “juventude” (ou, pelo menos, uma boa fatia de nova geração de políticos) já abundava. E é bom ver uma nova geração de homens e mulheres saltar para as linhas da frente da política portuguesa.
Portugal precisa de rejuvenescer a sua classe política e, em abono da verdade, António Costa tem gerido com mestria uma nova linhagem de dirigentes políticos. Nos últimos anos, a política nacional tem assistido um jogo de cadeiras em que os protagonistas são quase sempre os mesmos – um cenário preocupante que Costa, ao que parece, soube interpretar.
Começou por fazê-lo na autarquia de Lisboa, abrindo espaço a Fernando Medina, Duarte Cordeiro, Graça Fonseca ou Carlos Castro, e apoiou, nas juntas de freguesia, um substancial número de novos dirigentes que, com mestria, têm dado uma nova vida à cidade.
André Couto, de Campolide, Pedro Alves, do Lumiar, Inês Drummond, de Benfica, ou José Videira, de Marvila, apenas para enumerar alguns, são líderes de uma nova geração de políticos entre os 30 e os 45 anos que provaram o seu valor e nos garantem um futuro na gestão da cidade.
Hoje temos na cidade uma equipa jovem, dinâmica e, sobretudo, adequada às novas exigências, e isso vê-se nos resultados e na vivacidade que Lisboa apresenta.
No governo, na primeira equipa da geringonça, passou-se o mesmo. Foram muitos os “jovens” que aceitaram o desafio e a responsabilidade de sair da sombra e assumir pastas governativas. Miguel Prata Roque, Pedro Nuno Santos, Mariana Vieira da Silva, Graça Fonseca ou Miguel Cabrita foram alguns dos rostos do rejuvenescimento.
Veio finalmente a tão comentada e acicatada remodelação e, com ela, a mesma tendência, só que, desta feita, mais vincada e demonstrativa de que a classe política do país está a mudar e, em concreto, a do Partido Socialista.
Desta nova fornada de “jovens” dirigentes saliento três: Graça Fonseca, Ângela Ferreira e Luís Goes. A primeira chega finalmente a ministra. Consigo traz uma longa experiência e provas dadas de competência. A segunda, para muitos uma desconhecida, é uma pessoa determinada e que fez um caminho baseado na competência e dedicação à causa pública. Por fim, Luís Goes, uma aposta certa para o lugar certo. Tinha acabado de se saber o seu nome e já a imprensa o ligava facilmente ao caso dos vistos gold. Talvez fosse mais justo perceber o que fez enquanto esteve na Secretaria de Estado da Justiça e o papel preponderante que teve em todo o processo Simplex da justiça, então liderado por João Tiago Silveira.
A crítica é, porventura, sempre mais fácil. A sempre conveniente expressão dos “boys” que queimou uma geração de novos dirigentes nos governos de António Guterres virá certamente à baila. É normal: quando não se conhece o valor dos protagonistas, o mais fácil é atirar com o clientelismo e o partidarismo, procurando não o que de bom fizeram, mas eventuais rabos-de-palha.
Há muito ainda para rejuvenescer. Há muita gente nova com provas dadas no setor público e privado que espreita uma oportunidade. Uma geração, que é a mais qualificada de sempre, aguarda para colocar os seus conhecimentos ao serviço do país, com novas e diferenciadoras abordagens.
Escreve à quinta-feira