Sporting. O leão rugiu, valente, no Maracanã, com o sonho de ser campeão do Mundo

Sporting. O leão rugiu, valente, no Maracanã, com o sonho de ser campeão do Mundo


Os adeptos do Palmeiras sempre encheram a boca com tamanha conquista. E, em 2017, a FIFA reconheceu a Copa Rio de 1951 como “primeiro torneio oficial entre clubes europeus e sul-americanos”


A viver um momento de inusitada alegria na sua existência recente, o Palmeiras, agora comandado por Luiz Felipe Scolari, está bem encaminhado para conquistar o título de campeão brasileiro e já se qualificou para as meias-finais da Taça Libertadores. Mas, se investigarmos um pouco da sua história, não podemos fugir ao ano de 1951. O motivo parece banal – vitória na Copa Rio – mas deixa de o ser à medida que deparamos com as várias e pomposas designações desse torneio para a maior parte de nós desconhecido. Ora vejam a vaidade: Torneio Internacional de Clubes Campeões – Copa Rio; Campeonato Mundial de Futebol; Torneio Mundial de Campeões; Torneio Internacional de Campeões. Que exagero!, exclamará o prezado leitor e com alguma dose de razão. Mas, em seguida, surge o facto que se sobrepõe à opinião. 

Desde o dia 22 de julho de 1951, quando perante mais de 100 mil espetadores no Maracanã, o Palmeiras empatou com a Juventus (2-2) na segunda mão da final dessa Copa Rio – tinha ganho 1-0 quatro dias antes -, os seus dirigentes e adeptos encheram a boca: Campeões do Mundo! E não sossegaram até que a FIFA fizesse, em 2017, um reconhecimento oficial de que o clube era o vencedor do “primeiro torneio entre europeus e sul-americanos a nível mundial”. Na base da decisão, o caráter oficial da prova, organizada pela Confederação Brasileira de Desportos com beneplácito da FIFA e patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro.

A alegria foi tanta que valeu, de imediato, uma nova estrela sobre o escudo, vermelha-gritante, assinalando aquele que considera o maior triunfo palmeirense de todos os tempos. Que lhes faça bom proveito, não podemos deixar de suspirar, mas há, pelo caminho, mais um facto que se sobrepõe aos suspiros, e esse facto liga-se profundamente ao futebol português.

Vejamos quais os oito clubes (de início estavam programados 16) que, de 30 de junho a 22 de julho, participaram nessa maratona de jogos, dividida em dois grupos, um disputado no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. Grupo A (Rio): Vasco da Gama (campeão carioca de 1950), Sporting (campeão português de 1950-51), Áustria Viena (por impossibilidade do Rapid, campeão austríaco de 1950-51, e do Tottenham, campeão inglês, que declinou o convite por motivos financeiros) e Nacional Montevidéu (campeão uruguaio de 1950); Grupo B (São Paulo): Palmeiras (campeão paulista de 1950), Juventus (no lugar do Milan que preferiu preparar-se para disputar a Taça Latina), Estrela Vermelha (campeão jugoslavo de 1950-51) e Nice (campeão francês que surgiu no lugar do Atlético de Madrid que apresentou a mesma desculpa dos milaneses).

Sporting reforçado O Palmeiras sofreu uma forte desilusão ao ver-se goleado pela Juventus na primeira fase (0-4), mas já vimos que saiu vencedor em ombros, com direito a rabos e orelhas como nas touradas. Já o Sporting não pode orgulhar-se muito mais do que ter sido um honroso participante de uma competição única, e só isso já merece o maior destaque.

No dia 1 de julho subiu ao relvado do Maracanã (92 mil pessoas) para enfrentar o Vasco da Gama, que tinha à época gente como o guarda-redes Barbosa, o ponta Tesourinha e o avançado Friaça. Já os leões não fizeram por menos: não lhes bastava o grande Azevedo, o divino Travassos, os violinos Jesus Correia e Albano, os competentes Juvenal, Canário e Juca. Levou para o Brasil, por empréstimo, a estrela cabo-verdiana do Atlético, Ben David, e o goleador emérito de O Elvas, Domingos Demétrio, ou melhor, Patalino.

As coisas não correram bem, decididamente. Friaça e Tesourinha levaram um 2-0 para o intervalo. Ipojucan fez 3-0 no primeiro minuto do segundo tempo e, pouco depois repetiu a dose. Patalino reduziu, mas Djair consumou a goleada: 5-1. O golo de Patalino foi uma obra de arte: em corrida, bola por cima da cabeça de Barbosa, remate para a baliza deserta. Seguia-se o campeão uruguaio.

Já se sabe que as equipas do Uruguai não são boas de assoar. Patalino fez 1-0, aos 12 minutos, mas Bermudez empatou logo a seguir. O confronto tornou-se rijo. Jesus Correia marcou o 2-1 e as coisas azedaram. As canelas dos portugueses passaram a ser mais pontapeadas do que a bola. Nervos à solta, um árbitro pusilânime, o italiano Galleati, Juca em refregas constantes, Travassos com a classe de sempre. Azevedo largou uma bola fácil e o empate tornou-se inevitável. Veríssimo e Bermudez são expulsos,  o Maracanã torna-se uma fornalha, o público brasileiro ainda tem a faca do Mundial perdido para os uruguaios cravada no coração. Oportunidades desperdiçadas de parte a parte e uma derrota serôdia por 2-3. 

O último jogo, face ao Áustria de Viena, não aquecia nem arrefecia para os lisboetas, mas carregou os austríacos até à meia final, depois perdida para a Juventus (3-3 e 1-3). O cansaço já prendia as pernas dos jogadores do Sporting e Travassos baixou muito de qualidade, algo que se refletiu no conjunto. O golo decisivo (1-2) surgiu a quatro minutos do Fim. Dia 7 de julho: os aplausos carinhosos do Maracanã apaziguavam as mágoas.