António Costa: o Estado é (d)ele?


António Costa comprou novamente os bloquistas dando-lhes um dinheirinho aqui, um dinheirinho ali. E o Bloco, por sua vez, aproveita, embora prossiga os seus “berros de rua” como mera encenação política: puro teatro para enganar os portugueses.


1. António Costa é um autêntico desastre como governante: por onde quer que passe deixa um rasto de caos, de confusão, criando invariavelmente todas as condições necessárias para o desenvolvimento de um verdadeiro pântano político-administrativo que os portugueses pagam sempre. Foi assim com a passagem de António Costa pelo governo de António Guterres. Foi assim com a (curta cronologicamente, longa em irresponsabilidades) passagem de António Costa pelo Ministério da Administração Interna no governo de José Sócrates. Foi assim no consulado de António Costa como presidente da Câmara Municipal de Lisboa, onde criou uma cultura de promiscuidade entre interesse público e interesses partidários; onde cedeu poder a burocratas amigos que põem e dispõem dos seus poderes funcionais e dos recursos da edilidade, tomando decisões bizarras à luz do que deveria ser a prossecução do bem-estar coletivo dos lisboetas (sua missão fundamental); criando práticas de negociação de lugares e lugarzinhos que têm permitido ao PS dominar absolutamente a Câmara de Lisboa, com uma rigidez e inflexibilidade que provocam inveja ao comité central do Partido Comunista. Isto já para não evocar aqui a forma como o PS – de Costa e seu discípulo (marioneta?) Fernando Medina – comprou o BE, sequestrando-o, manipulando-o e chantageando-o (vide caso Robles), de acordo com as suas conveniências de cada momento. 

2. Pois bem, o que tem António Costa feito no governo? Nem mais nem menos que aplicar a sua fórmula de “poder absoluto, com absoluto desdém pelo interesse público” no governo da República Portuguesa. Procedimentos? São exatamente os mesmos que António Costa utilizou na Câmara Municipal de Lisboa – o poder depende essencialmente de relações pessoais de controlo; e o controlo, esse, depende da capacidade de concretizar as ambições de poder e de dinheiro dos interlocutores políticos. Neste sentido, António Costa percebeu que BE e PCP estavam aflitos com a perspetiva de perderem espaço, poder e influência – e que o BE (outrora Bloco, hoje Banhada de Esquerda) sonha com o exercício do poder, sendo os seus dirigentes tão (ou mais, muito mais!) burgueses que os partidos burgueses que eles tanto criticam. Donde, António Costa comprou novamente os bloquistas dando-lhes um dinheirinho aqui, um dinheirinho ali. E o Bloco, por sua vez, aproveita, embora prossiga os seus “berros de rua” como mera encenação política: puro teatro para enganar os portugueses. O BE lá vai alimentando a sua fome de poder, os seus dirigentes lá vão satisfazendo os seus interesses de “burgueses” da classe média/alta que são – enquanto protestam nas ruas, ao mesmo tempo, fingindo-se preocupados com os “portugueses mais pobres”. Enfim, o BE passou de partido trotskista para partido “trotskostista”, o partido-satélite de António Kosta (com “k”, para fingir que o BE ainda conserva alguma coisa de revolucionário…). 

3. Já o PCP foi comprado por António Costa mediante a promessa de reversão das privatizações, designadamente na área dos transportes: os comunistas sabiam que a continuidade das políticas encetados pelo governo de Pedro Passos Coelho iria conduzir à perda de poder dos sindicatos em benefício da generalidade dos portugueses. Ora, o sindicato mais importante para o PCP era o dos transportes, pelo que António Costa se limitou a explorar o desespero dos comunistas. E é assim: os recursos de todos nós estão a ser utilizados para financiar o projeto de poder pessoal de António Costa. No fundo, nós, portugueses, limitamo-nos a concretizar, pelos nossos impostos, a realização do “sonho de menino” de Costa: ser primeiro-ministro a todo o custo. Esta venalidade dos cargos públicos, esta utilização dos recursos de todos nós para satisfazer os interesses políticos do PS de António Costa faz lembrar o pior do socratismo. António Costa personifica o lado mais perverso do socratismo: se José Sócrates era um tirano em potência, António Costa é o exemplo perfeito de um tirano em democracia. Que utiliza as regras  e os procedimentos pensados para garantir o pluralismo político para se perpetuar (a si e aos seus amigos) no poder – e até para ganhar o poder mesmo quando o perde. Um jornalista da RTP confidenciou-nos que se vive naquela casa (paga por todos nós!) um verdadeiro clima de medo, de terror gerado pela ameaça constante de que o governo será implacável para com qualquer desvio à “linha oficial”. 

4. É neste contexto político que se insere a remodelação governamental do passado fim de semana. Primeiro, serviu para António Costa concentrar ainda mais o seu poder, afastando independentes e personalidades que mantinham alguma autonomia de atuação; segundo, foi útil porquanto António Costa julga que se safará de prestar esclarecimentos sobre o caso de Tancos, designadamente da sua obrigação de contar aos portugueses tudo o que sabe sobre a operação de encobrimento. E se Azeredo Lopes vier a prestar esclarecimentos perante a justiça, a investigação terá de ser alargada ao primeiro-ministro: é impossível que Azeredo Lopes não tenha obtido o beneplácito de António Costa para o que quer que tenha feito, por ação ou omissão. E quem é que Costa foi buscar para substituir Azeredo? João Gomes Cravinho, um diplomata que conhece bem os corredores e o funcionamento da NATO. Percebe-se: Portugal virou chacota internacional, com o seu prestígio militar a ser colocado seriamente em causa, pelo que se impõe alguém que fale (com bom senso e lucidez) com os nossos aliados. 

5. Mais sintomática é a escolha de Pedro Siza Vieira para a Economia – significa que António Costa preteriu um independente (que nos últimos tempos se aproximou de Mário Centeno) para ceder palco a um seu amigo de longa data e que fará o que António Costa quiser. E o que quer Costa? Meter dinheiro na economia, prometer tudo e mais alguma coisa, ter um discurso político que agrade a empresários rumo a uma “grande coligação”, uma “união nacional” em torno do seu governo que possa dar--lhe a maioria absoluta. Já a nova ministra da Saúde servirá apenas para ser uma relações públicas do executivo em ano eleitoral: tem uma boa imagem televisiva, ainda é jovem (pelo menos, respira jovialidade) e tem um rosto muito querido que lhe é imprimido por um olhar bonito. A Temido não será certamente temida. Ou seja: tudo aquilo de que António Costa precisa para, pelo menos, tentar não perder votos na saúde. Perguntar-se-á: então, mas não é competente? Dizem-nos que é. Mas isso não interessa rigorosamente nada porque a ministra nada irá fazer. Costa até obrigou Adalberto Campos Fernandes – coitadinho! – a elaborar o Orçamento, mesmo antes de ser corrido…

6. Enquanto terminamos a redação da presente prosa, começa a circular o rumor de que João Galamba (o “mordomo do socratismo”) será o próximo secretário de Estado da Energia. Se se confirmar, é um escândalo – e a prova de que António Costa adora provocar os portugueses. O seu maquiavelismo e a sua amoralidade não têm limites… O Estado é mesmo (d)ele. Nós pagaremos a fatura das suas brincadeiras. 

joaolemosesteves@gmail.com 
Escreve à terça-feira


António Costa: o Estado é (d)ele?


António Costa comprou novamente os bloquistas dando-lhes um dinheirinho aqui, um dinheirinho ali. E o Bloco, por sua vez, aproveita, embora prossiga os seus “berros de rua” como mera encenação política: puro teatro para enganar os portugueses.


1. António Costa é um autêntico desastre como governante: por onde quer que passe deixa um rasto de caos, de confusão, criando invariavelmente todas as condições necessárias para o desenvolvimento de um verdadeiro pântano político-administrativo que os portugueses pagam sempre. Foi assim com a passagem de António Costa pelo governo de António Guterres. Foi assim com a (curta cronologicamente, longa em irresponsabilidades) passagem de António Costa pelo Ministério da Administração Interna no governo de José Sócrates. Foi assim no consulado de António Costa como presidente da Câmara Municipal de Lisboa, onde criou uma cultura de promiscuidade entre interesse público e interesses partidários; onde cedeu poder a burocratas amigos que põem e dispõem dos seus poderes funcionais e dos recursos da edilidade, tomando decisões bizarras à luz do que deveria ser a prossecução do bem-estar coletivo dos lisboetas (sua missão fundamental); criando práticas de negociação de lugares e lugarzinhos que têm permitido ao PS dominar absolutamente a Câmara de Lisboa, com uma rigidez e inflexibilidade que provocam inveja ao comité central do Partido Comunista. Isto já para não evocar aqui a forma como o PS – de Costa e seu discípulo (marioneta?) Fernando Medina – comprou o BE, sequestrando-o, manipulando-o e chantageando-o (vide caso Robles), de acordo com as suas conveniências de cada momento. 

2. Pois bem, o que tem António Costa feito no governo? Nem mais nem menos que aplicar a sua fórmula de “poder absoluto, com absoluto desdém pelo interesse público” no governo da República Portuguesa. Procedimentos? São exatamente os mesmos que António Costa utilizou na Câmara Municipal de Lisboa – o poder depende essencialmente de relações pessoais de controlo; e o controlo, esse, depende da capacidade de concretizar as ambições de poder e de dinheiro dos interlocutores políticos. Neste sentido, António Costa percebeu que BE e PCP estavam aflitos com a perspetiva de perderem espaço, poder e influência – e que o BE (outrora Bloco, hoje Banhada de Esquerda) sonha com o exercício do poder, sendo os seus dirigentes tão (ou mais, muito mais!) burgueses que os partidos burgueses que eles tanto criticam. Donde, António Costa comprou novamente os bloquistas dando-lhes um dinheirinho aqui, um dinheirinho ali. E o Bloco, por sua vez, aproveita, embora prossiga os seus “berros de rua” como mera encenação política: puro teatro para enganar os portugueses. O BE lá vai alimentando a sua fome de poder, os seus dirigentes lá vão satisfazendo os seus interesses de “burgueses” da classe média/alta que são – enquanto protestam nas ruas, ao mesmo tempo, fingindo-se preocupados com os “portugueses mais pobres”. Enfim, o BE passou de partido trotskista para partido “trotskostista”, o partido-satélite de António Kosta (com “k”, para fingir que o BE ainda conserva alguma coisa de revolucionário…). 

3. Já o PCP foi comprado por António Costa mediante a promessa de reversão das privatizações, designadamente na área dos transportes: os comunistas sabiam que a continuidade das políticas encetados pelo governo de Pedro Passos Coelho iria conduzir à perda de poder dos sindicatos em benefício da generalidade dos portugueses. Ora, o sindicato mais importante para o PCP era o dos transportes, pelo que António Costa se limitou a explorar o desespero dos comunistas. E é assim: os recursos de todos nós estão a ser utilizados para financiar o projeto de poder pessoal de António Costa. No fundo, nós, portugueses, limitamo-nos a concretizar, pelos nossos impostos, a realização do “sonho de menino” de Costa: ser primeiro-ministro a todo o custo. Esta venalidade dos cargos públicos, esta utilização dos recursos de todos nós para satisfazer os interesses políticos do PS de António Costa faz lembrar o pior do socratismo. António Costa personifica o lado mais perverso do socratismo: se José Sócrates era um tirano em potência, António Costa é o exemplo perfeito de um tirano em democracia. Que utiliza as regras  e os procedimentos pensados para garantir o pluralismo político para se perpetuar (a si e aos seus amigos) no poder – e até para ganhar o poder mesmo quando o perde. Um jornalista da RTP confidenciou-nos que se vive naquela casa (paga por todos nós!) um verdadeiro clima de medo, de terror gerado pela ameaça constante de que o governo será implacável para com qualquer desvio à “linha oficial”. 

4. É neste contexto político que se insere a remodelação governamental do passado fim de semana. Primeiro, serviu para António Costa concentrar ainda mais o seu poder, afastando independentes e personalidades que mantinham alguma autonomia de atuação; segundo, foi útil porquanto António Costa julga que se safará de prestar esclarecimentos sobre o caso de Tancos, designadamente da sua obrigação de contar aos portugueses tudo o que sabe sobre a operação de encobrimento. E se Azeredo Lopes vier a prestar esclarecimentos perante a justiça, a investigação terá de ser alargada ao primeiro-ministro: é impossível que Azeredo Lopes não tenha obtido o beneplácito de António Costa para o que quer que tenha feito, por ação ou omissão. E quem é que Costa foi buscar para substituir Azeredo? João Gomes Cravinho, um diplomata que conhece bem os corredores e o funcionamento da NATO. Percebe-se: Portugal virou chacota internacional, com o seu prestígio militar a ser colocado seriamente em causa, pelo que se impõe alguém que fale (com bom senso e lucidez) com os nossos aliados. 

5. Mais sintomática é a escolha de Pedro Siza Vieira para a Economia – significa que António Costa preteriu um independente (que nos últimos tempos se aproximou de Mário Centeno) para ceder palco a um seu amigo de longa data e que fará o que António Costa quiser. E o que quer Costa? Meter dinheiro na economia, prometer tudo e mais alguma coisa, ter um discurso político que agrade a empresários rumo a uma “grande coligação”, uma “união nacional” em torno do seu governo que possa dar--lhe a maioria absoluta. Já a nova ministra da Saúde servirá apenas para ser uma relações públicas do executivo em ano eleitoral: tem uma boa imagem televisiva, ainda é jovem (pelo menos, respira jovialidade) e tem um rosto muito querido que lhe é imprimido por um olhar bonito. A Temido não será certamente temida. Ou seja: tudo aquilo de que António Costa precisa para, pelo menos, tentar não perder votos na saúde. Perguntar-se-á: então, mas não é competente? Dizem-nos que é. Mas isso não interessa rigorosamente nada porque a ministra nada irá fazer. Costa até obrigou Adalberto Campos Fernandes – coitadinho! – a elaborar o Orçamento, mesmo antes de ser corrido…

6. Enquanto terminamos a redação da presente prosa, começa a circular o rumor de que João Galamba (o “mordomo do socratismo”) será o próximo secretário de Estado da Energia. Se se confirmar, é um escândalo – e a prova de que António Costa adora provocar os portugueses. O seu maquiavelismo e a sua amoralidade não têm limites… O Estado é mesmo (d)ele. Nós pagaremos a fatura das suas brincadeiras. 

joaolemosesteves@gmail.com 
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