Parece-me cada vez mais claro que, durante o período de vida da maioria dos cidadãos que lê este escrito, nos confrontaremos com uma nova vaga de fascismo global que ameaçará princípios humanistas básicos que julgávamos irrevogáveis.
Só quem tem pouco contacto com uma realidade social alargada é que poderá pensar que Portugal está a passar alheio a este fenómeno. Ainda que as forças fascistas tenham baixíssima expressão eleitoral, comparado com outros países da Europa, bastaria ouvir o que se diz nos locais de discussão política informal deste país para perceber que o clima antipartidos, contra a corrupção ou contra os refugiados tem criado uma massa de gente transversal à sociedade que poderá, de um momento para o outro, fazer emergir uma força eleitoral adormecida.
Para tal suceder precisa da construção de uma personagem líder que ainda não surgiu e que, estou em crer, poderá aparecer do campo judicial ou da televisão. No primeiro caso, não é difícil de imaginar que se constituirá como um figura austera e cinzenta, qual Salazar, e emergirá pela luta contra o sistema político, caracterizando-o como corrupto, e pela reposição dos “valores da família”. No segundo caso deverá ser uma figura mais colorida e com propensão para conseguir banalizar dislates. Será alguém entre a versão xenófoba de André Ventura e a marialva de Raquel Varela, que se consiga projetar publicamente sem filiação ideológica e apanhe a onda no momento certo. Tal como noutros países, o projeto político deverá ser construído por oposição, criando inimigos e ódio. Para todos os problemas deve ter respostas simplistas e imediatistas, no sentido do que a maioria quer ouvir.
A estratégia de ignorar os neofascismos para não lhes dar visibilidade ou a de não colocar como um problema político a corrupção e políticos corruptos para não “fulanizar” é suicida. Abre caminho para que a sua ascensão se faça a partir da ideia de que são todos iguais e se protegem.
A única resposta de fundo, que exige medidas rápidas para resultados a médio–longo prazo, é uma aposta estrutural na cultura, educação e informação. Somente sociedades informadas, com acesso generalizado à cultura e à educação, poderão combater esta nova vaga de fascismo que vive da propagação do medo do desconhecido e da produção de informação falsa.
Escreve à segunda-feira