Espanha. Governo quer que Vaticano recuse enterro dos restos mortais de Franco em catedral

Espanha. Governo quer que Vaticano recuse enterro dos restos mortais de Franco em catedral


A família do ditador espanhol comprou uma zona de uso na catedral de La Almudena


O destino dos restos mortais do ditador espanhol Francisco Franco continua a marcar o debate político em Espanha. Depois de se terem oposto à exumação dos restos mortais do local onde ainda hoje se encontram, no monumento do Vale dos Caídos, a 40 km de Madrid, os familiares do ditador decidiram ceder e, agora, querem enterrá-lo na cripta da catedral de La Almudena, na capital espanhola, mas o governo de Pedro Sánchez não o quer. Para o impedir, decidiu contatar o Vaticano para que este impeça o enterro. 

O governo espanhol não tem qualquer possibilidade legal para impedir o enterro dos restos mortais na catedral, visto a família de Franco ter comprado "perpetuamente" uma zona de uso para os seus membros na catedral. Neste sentido, o executivo espanhol pretende sensibilizar a Igreja Católica para que convença a família a enterrar Franco num local mais discreto, como o cemitério de El Pardo, onde a mulher do ditador se encontra enterrada. 

No entanto, os contatos preliminares parecem não ter surtido os efeitos pretendidos. "Não temos nenhuma objeção a receber qualquer pessoa. É uma propriedade de Franco e, claro, como cristão, [a família] tem o direito de enterrar onde considerar apropriado", afirmou o cardeal Osoro a 1 de outubro. A Igreja já informou o governo espanhol que também não tem possibilidades para travar os intentos da família.

Mas a Igreja também tem preocupações sobre essa possibilidade, relatou o "El País". Há quem receie que caso os restos mortais de Franco sejam ali depositados muitos católicos se venham a recusar a visitar a catedral por "causa da presença do ditador". 

No final de agosto, o conselho de ministros espanhol aprovou por unanimidade a transladação dos restos mortais de Franco e, em meados do mês passado, o congresso espanhol secundou o governo e aprovou a decisão do executivo por maioria absoluta (172 votos), com 164 deputados a votarem contra. 

Francisco Franco morreu a 20 de novembro de 1975, com 82 anos, depois de décadas a governar Espanha com mão de ferro. Chegou ao poder depois de ter avançado com um golpe de Estado contra a república espanhola, em 1936, e ganho a guerra civil, em 1939.