As preocupações com os animais têm vindo a aumentar e o número de negócios relacionados com os companheiros de estimação também. Além de todas as despesas que sempre foram óbvias, como a saúde e a alimentação, começam a surgir novas áreas de negócio. Há funerais de luxo, psicólogos para ajudar a superar o luto, seguros cada vez mais completos, creches, escolas de treino e canais de televisão dedicados aos animais, entre muitas outras ofertas.
Só no caso da comida, pode mesmo dizer-se que se trata de um mercado que não para de crescer. De acordo com um estudo recente da Nielsen, no espaço de um ano – entre setembro de 2016 e setembro de 2017 –, o mercado de comida para cão cresceu 2%, para 107,7 milhões de euros. Já no caso da comida para gatos, houve um crescimento de 7%, para 97,1 milhões de euros. Feitas as contas, dá uma média de 200 milhões por ano.
A verdade é que este aumento é fácil de explicar. De acordo com o estudo da GfK, estima-se que globalmente, e em média, os gastos com os animais de estimação rondem 12% do total do orçamento familiar dos portugueses com animais de estimação em casa, sendo a alimentação e a saúde as principais preocupações dos donos.
Segundo a mesma análise, mais de dois milhões de lares portugueses (56%) têm pelo menos um animal de estimação, o que reflete um crescimento de 11 pontos percentuais face a 2011.
A verdade é que, além de estar a ganhar espaço o amor pelos animais e o número de lares com cães e gatos, está a aumentar também a atenção que muitos têm com eles. De acordo com Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, “hoje em dia, a medicina é muito barata, mas é evidente que é muito dinheiro. As coisas não se podem confundir. As pessoas acham caro porque se habituaram a ir ao Serviço Nacional de Saúde e não sabem o que não estão a pagar. Pagam uma taxa moderadora e fazem-lhes tudo. Se as pessoas soubessem quanto é que custou aquela ida ao hospital, os exames que fizeram, já achavam que a medicina veterinária era baratíssima. Todos os aparelhos são caros e há alguns que são mais caros do que na medicina humana”. Até porque, explica, “uma consulta custa, em média, entre 20 e 30 euros. Tirando o IVA, uma consulta no veterinário fica mais barata do que noutro médico qualquer. Aliás, não há profissão nenhuma que tenha os preços tão baratos como acontece com os médicos veterinários”.
Ainda assim, nem sempre é fácil fazer face às despesas que possam surgir para garantir a saúde dos animais. “Também acontece as pessoas gastarem muito dinheiro porque os animais precisam de muita coisa.”
A verdade é que quem lida de perto com os animais partilha a ideia de que se tem vindo a mudar um hábito antigo: não se pode continuar com uma visão utilitária dos animais. “Não é preciso recuar muitos anos para chegar a uma altura em que havia uma percentagem muito reduzida de pessoas que gastavam dinheiro com os seus animais, quer a nível de medicina, quer a nível de alimentação. Havia muita gente a dar restos de comida aos animais. Se um animal estava doente, dava-se uma mezinha qualquer. A esperança de vida dos animais também era menor. Temos vindo a acompanhar a Europa, onde algumas raças até são sinal de status. As pessoas estão muito mais informadas e tratam os seus animais de uma forma muito diferente. No entanto, é preciso não esquecer o Portugal profundo, onde nem sempre se entende que se gastem determinadas quantias com um animal”, acrescenta ainda o bastonário desta ordem.
Opções para todas as carteiras Além de ter aumentado o número de hospitais e clínicas especializadas em animais, algumas delas com serviços de 24 horas, tem crescido também o número de opções quando o assunto é fazer um seguro. A idade e a raça são alguns dos critérios que podem penalizar o preço do seguro para animais domésticos. Dependendo da seguradora, pode ser exigida uma idade mínima ou máxima para a subscrição deste produto. A verdade é que ter um animal de estimação como um cão ou um gato pode custar, em média, 900 euros por ano, contabilizando vacinas, alimentação, higiene e outros gastos. O levantamento foi feito pela Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor. No entanto, contratar um seguro de animais domésticos poderá dar uma boa ajuda para contornar estas despesas.
Uma outra tendência é o aparecimento de novas profissões no mundo animal. Prova disso é o facto de o Instituto do Animal ter alargado, este mês, a oferta formativa para abarcar as vocações emergentes na área de cuidados para animais de companhia. Há apoios na formação de dog walkers, para passear diariamente os cães; pet sitters, para tomar conta de cães e gatos nos seus próprios lares ou em casa destes; treinadores para lhes ensinar boas maneiras; groomers para pentear, tosquiar e dar banho; e pet táxis para as idas ao médico ou à escola.
Funerais de luxo Uma outra tendência dos últimos tempos é o aparecimento de empresas que oferecem serviços especiais na hora de despedida dos animais de estimação, com rituais próprios e a possibilidade de cremação e embalsamamento. Falamos de um negócio próspero que traduz uma tendência, reconhecida pelos especialistas: as pessoas estão desiludidas com as relações e tratam os animais como humanos.
Os preços dependem de vários fatores, como o peso do animal ou a distância a que está da empresa. O facto de algumas pessoas terem vínculos com os animais mais fortes do que com qualquer pessoa faz com que o luto seja difícil e existem cada vez mais psicólogos disponíveis para ajudar a fazer terapia de forma a mitigar a dor. Ainda assim, ainda há muito a mudar. De acordo com um estudo, publicado no “Canadian Veterinary Journal”, 50% das pessoas que perderam o animal de estimação dizem que a sociedade não avalia estas mortes como sendo dignas de um processo de luto.