Ronaldo. Polícia reabre caso de violação

Ronaldo. Polícia reabre caso de violação


Futebolista terá obrigado modelo americana a fazer sexo anal e pagou 375 mil euros para a calar. “Um homem é 99% bom, à exceção de 1%”, ter-lhe-á dito depois de a violar 


Não é a primeira vez que Cristiano Ronaldo se vê a braços com acusações de supostas violações. Em 2005, quando vivia em Inglaterra, chegou a ser interrogado pelas autoridades depois de uma mulher ter apresentado queixa por alegados abusos ocorridos num hotel de Londres. Mas o caso acabaria arquivado por falta de provas. 

Agora, envolvido noutro escândalo sexual, o futebolista português poderá ter de dar explicações bem mais sérias: a polícia de Las Vegas decidiu reabrir a investigação a uma queixa de violação que remonta a junho de 2009. E a revista alemã “Der Spiegel”, que recentemente revelou a identidade da alegada vítima, Kathryn Mayorga, e pormenores sombrios sobre os abusos (que terão envolvido sexo anal à força), garante ter um conjunto de documentos comprometedores. Desde exames forenses que comprovam a violação a papéis assinados pelo próprio Ronaldo e que mostram como pagou 375 mil euros pelo silêncio de Mayorga, à época com 25 anos. 

Em 2009, Kathryn era aspirante a modelo e trabalhava na discoteca do Palms Hotel and Casino em Las Vegas: as suas funções passavam por atrair clientes para a zona do bar. A 12 de junho, Cristiano Ronaldo – prestes a sair do Manchester United para o Real Madrid – estava a passar férias nos EUA com o cunhado e um primo e cruzou-se com a modelo na zona VIP da discoteca (na altura, a imprensa chegou a publicar fotografias dos dois em que Mayorga era apelidada de “a misteriosa morena”). A seguir à festa, Ronaldo tê-la-á convidado e a uma amiga para subirem até à penthouse em que estava alojado para “desfrutarem da vista”. 

Já no quarto, e num momento em que Mayorga foi à casa de banho trocar de roupa para poder entrar no jacuzzi, Ronaldo terá aberto a porta e entrado, com o pénis à mostra. “Implorou para lhe tocar por 30 segundos”, contou Mayorga às autoridades. O jogador terá depois suplicado por sexo oral, com a modelo a recusar os contactos. Terão sido entretanto interrompidos por um amigo de Ronaldo e o craque disfarçou o ambiente de tensão. Mas quando voltaram a ficar sozinhos, Ronaldo atirou–a para a cama. “Meu, isto não vai acontecer”, ter-lhe-á dito Mayorga, que garante que se enrolou “como se fosse uma bola” para se proteger. O jogador tê-la-á então agarrado pela vagina. Virou-a de costas e penetrou–a no ânus. No final, pediu-lhe desculpa. “Olhou para mim com um olhar culpado, como se se sentisse mal. Não me lembro, mas tenho a certeza que ele disse ‘desculpa’ ou ‘estás ferida?’”, contou Mayorga à “Der Spiegel”. Cristiano terá ainda acrescentado: “Um homem é 99% bom, à exceção de 1%.”
 
Ânus em ferida A revista alemã garante ter tido acesso aos registos de uma chamada para a polícia de Las Vegas, realizada às 14h16 de 13 de junho de 2009. A ocorrência foi classificada com o número 426 – referente a abusos sexuais – e o agente que atendeu o telefone registou que do outro lado da linha estava uma mulher “extremamente assustada” e que não quis revelar o nome do abusador. Referiu-se a ele como “uma figura pública” e “um atleta”. Menos de um quarto de hora depois, um carro-patrulha chegava a casa de Mayorga, que foi levada ao hospital universitário. 

Nos relatórios ficou escrito que a modelo deu informações “vagas” sobre a suposta cena do crime, tendo apenas mencionado um hotel perto de Flamingo Road (onde fica o Palms Hotel). “Eles insistiram para que eu dissesse o nome dele. Mas eu não disse por estar assustada”, tenta agora justificar Mayorga. A modelo esteve duas horas no hospital, “ansiosa, cooperativa e agradável”. Admitiu que bebia ocasionalmente e fez um teste de despiste de drogas, que deu negativo. Já as perícias comprovaram que houve “penetração anal” – o ânus estava ferido –, tendo a ejaculação ocorrido “nas mãos do agressor”. As feridas foram fotografadas e Mayorga voltou para casa, medicada com dois antibióticos. 

Pouco tempo depois, uma amiga recomendou-lhe uma advogada que a aconselhou a falar à polícia. E, duas semanas mais tarde, a modelo gravava um depoimento em que mencionava o nome de Ronaldo. “Tive de imprimir fotos dele, porque o agente não sabia quem era”, recorda. Só que o polícia com quem falou tê-la-á demovido de continuar a queixa. “Isso vai ser um problema”, terá dito várias vezes, até a levar a desistir. 

375 mil euros pelo silêncio A história viria novamente ao de cima em abril de 2017, quando a plataforma Football Leaks libertou documentos que comprometiam o jogador português. Entre eles, um contrato no valor de 375 mil euros para pagar o silêncio de uma mulher americana que se dizia vítima de abuso sexual. A história foi publicada pela “Der Spiegel” e o agente do craque português, Jorge Mendes, foi obrigado a emitir um comunicado em que garantia que o artigo não passava de “uma peça de jornalismo de ficção”, baseada em “documentos que não estão assinados e em que as partes não estão identificadas”.

Ora o acordo, de facto, não mencionava Ronaldo diretamente: o futebolista surgia com a alcunha “Topher” e Kathryn Mayorga era apelidada de “Susan K.”. Mas a revista teve acesso a outro documento, assinado pela mão do próprio Ronaldo, em que este confirmava ser a pessoa referida no acordo como “Topher”. No artigo não era, contudo, revelada a verdadeira identidade da vítima, ainda que Mayorga tenha sido procurada por jornalistas, tendo-se recusado a prestar declarações. 

O pagamento dos 375 mil euros terá ocorrido em 2010, meses depois da noite da violação, intermediado pela advogada de Mayorga, de quem partiu o primeiro contacto. Os encontros entre as duas partes começaram em 2009 e houve várias reuniões – todas documentadas pela revista. Num desses encontros, Ronaldo terá admitido: “Ela disse ‘não’ e ‘para’ várias vezes”; “fui rude, não mudámos de posição e durou cinco ou sete minutos”; “ela disse que não, mas mostrou-se recetiva”; e “não sou como os outros, pedi desculpa logo a seguir”.

A última reunião terá ocorrido a 12 de janeiro de 2010 em Las Vegas, sem a presença do jogador. E a “Der Spiegel” teve acesso a mensagens trocadas entre Ronaldo e o seu advogado, Osório de Castro, em que discutiam o valor a pagar. “Até agora, ainda não falaram de dinheiro, mas vão falar”, escreveu o advogado. Ronaldo respondeu: “Ok”. Menos de uma hora depois, nova mensagem: “950 mil dólares.” 

“É esse o valor?”

“É a primeira proposta: dá 660 mil euros. As negociações continuam.”

“Isso não é muito?”

“Acho que sim. Tem de ser menos”. 

O acordo seria fechado pelos 375 mil euros, em troca do silêncio da modelo. Por que razão Mayorga quis agora expor-se? Segundo a “Der Spiegel”, por três razões: a americana tem um novo advogado, “mais experiente”; o movimento #MeToo mudou a forma como a sociedade lida com as vítimas de abusos sexuais cometidos por famosos; e Mayorga quer uma resposta para uma dúvida que diz carregar há quase dez anos: haverá mais mulheres violadas pelo jogador português? 

O advogado de Ronaldo reagiu ontem e garante que vai processar a revista. “É um relato inadmissível que lança suspeitas do foro privado”, avisa Christian Schertz, que vai mais longe e classifica o artigo como “a mais séria violação de direitos pessoais em anos recentes”.  O craque também já abordou o assunto e, num direto no Instagram, garantiu que as acusações não passam de “fake news”. Quanto aos advogados de Mayorga – que hoje vão dar uma conferência de imprensa –, ripostaram: “Não são fake news.”