Mexeu com uma, mexeu com todos


Independentemente do contexto social ou físico, as crianças do sexo feminino vão aprendendo mecanismos de auto-defesa no espaço público das quais as do sexo masculino estão dispensadas


É rara a semana que não tomo conhecimento de uma nova história de assédio a mulheres no espaço público cirurgicamente tolerados pelos diferentes níveis da justiça misógina a que estamos sujeitos. Segundo dados revelados esta semana pelo “Expresso”, num vídeo conduzido por Carolina Reis, a violação é o único crime violento que aumentou em Portugal. Para se obter números definitivos não será irrelevante a pressão pública para o seu silenciamento que, de alguma forma, tem vindo a ser contrariada com a expressão internacional que obteve a partir da luta de diversos movimentos feministas ao longo dos anos. Se é certo que actualmente poderá haver um ou outro fenómeno de oportunismo ou mentira ele não deve, de nenhum modo, fazer-nos esquecer que ainda há um muro de silenciamento por derrubar.

Independentemente do contexto social ou físico, as crianças do sexo feminino vão aprendendo mecanismos de auto-defesa no espaço público das quais as do sexo masculino estão dispensadas. A ideia de que a maioria das mulheres já se sentiram assediadas e que todas são preparadas para que um dia aconteça é algo que também deve intranquilizar os homens. Sei o que é ser assaltado na rua de forma mais ou menos violenta, mas tenho dificuldades em perceber o que alguém possa sentir ao ver o seu corpo objectualizado e violado. Como pai isto é algo que me aterroriza pela incapacidade de prevenção sem recorrer ao medo ou sem educar para preservar a desigualdade.

Uma das maiores dificuldades na discussão política sobre o assédio é o entendimento dos seus limites. Tenho vindo a perceber que eles serão diferentes entre um homem e uma mulher tal como entre uma mulher machista e uma não machista mas a sua definição é fundamental para que não se higienize as relações de afecto ou sedução e para que se concentre a luta no que é essencial.

Chegados aqui, o poder dominante até parece estar disposto a adoptar algumas medidas sobre esta matéria desde que não abalem o sistema de relações sociais existentes dando visibilidade a quem almeje criminalizar comportamentos em que a vítima é duma classe social acima. Para as forças progressistas esta tem de ser uma batalha central em todas os momentos e que deve, sobretudo, estar continuamente na cabeça de todos os homens progressistas. Não há projecto emancipador que não implique o fim da exploração da mulher pelo homem.

 

Escreve à segunda-feira
 


Mexeu com uma, mexeu com todos


Independentemente do contexto social ou físico, as crianças do sexo feminino vão aprendendo mecanismos de auto-defesa no espaço público das quais as do sexo masculino estão dispensadas


É rara a semana que não tomo conhecimento de uma nova história de assédio a mulheres no espaço público cirurgicamente tolerados pelos diferentes níveis da justiça misógina a que estamos sujeitos. Segundo dados revelados esta semana pelo “Expresso”, num vídeo conduzido por Carolina Reis, a violação é o único crime violento que aumentou em Portugal. Para se obter números definitivos não será irrelevante a pressão pública para o seu silenciamento que, de alguma forma, tem vindo a ser contrariada com a expressão internacional que obteve a partir da luta de diversos movimentos feministas ao longo dos anos. Se é certo que actualmente poderá haver um ou outro fenómeno de oportunismo ou mentira ele não deve, de nenhum modo, fazer-nos esquecer que ainda há um muro de silenciamento por derrubar.

Independentemente do contexto social ou físico, as crianças do sexo feminino vão aprendendo mecanismos de auto-defesa no espaço público das quais as do sexo masculino estão dispensadas. A ideia de que a maioria das mulheres já se sentiram assediadas e que todas são preparadas para que um dia aconteça é algo que também deve intranquilizar os homens. Sei o que é ser assaltado na rua de forma mais ou menos violenta, mas tenho dificuldades em perceber o que alguém possa sentir ao ver o seu corpo objectualizado e violado. Como pai isto é algo que me aterroriza pela incapacidade de prevenção sem recorrer ao medo ou sem educar para preservar a desigualdade.

Uma das maiores dificuldades na discussão política sobre o assédio é o entendimento dos seus limites. Tenho vindo a perceber que eles serão diferentes entre um homem e uma mulher tal como entre uma mulher machista e uma não machista mas a sua definição é fundamental para que não se higienize as relações de afecto ou sedução e para que se concentre a luta no que é essencial.

Chegados aqui, o poder dominante até parece estar disposto a adoptar algumas medidas sobre esta matéria desde que não abalem o sistema de relações sociais existentes dando visibilidade a quem almeje criminalizar comportamentos em que a vítima é duma classe social acima. Para as forças progressistas esta tem de ser uma batalha central em todas os momentos e que deve, sobretudo, estar continuamente na cabeça de todos os homens progressistas. Não há projecto emancipador que não implique o fim da exploração da mulher pelo homem.

 

Escreve à segunda-feira