TVE. Administração diz que governo não dá ordens e rejeita ideia  de purgas na estação

TVE. Administração diz que governo não dá ordens e rejeita ideia de purgas na estação


Rosa María Mateo, que assumiu em julho o cargo de administradora, responde às críticas que lhe apontam a responsabilidade de afastar estrategicamente alguns trabalhadores e reafirma “independência”


Rosa María Mateo continua a negar purgas na RTVE e defende que o jornalismo deve e tem de ser independente. Mas são poucos os que se deixam convencer com o discurso da administradora da televisão pública espanhola. De acordo com o El País, Rosa María Mateo voltou ontem a rejeitar a ideia de que existam outras razões para as mudanças que têm sido feitas que não sejam critérios meramente profissionais e que já terão levado a mais de 77 saídas. Sempre com a tónica de que não foram tomadas decisões com base na “raça, ideologia ou crença”, foi ainda usado o argumento de que todas as decisões têm como objetivo “a independência, a pluralidade e o profissionalismo”.

Face às acusações que se multiplicaram e às vozes que falam de despedimentos estratégicos e até de saneamento, Rosa María Mateo salienta que a TVE não é nenhum meio para manipulação, porque “esse tempo já passou”. Muito embora todas as alterações feitas no seio da empresa tenham criado uma verdadeira guerra política, a administradora provisória explicou que purga é sinónimo de “abuso de poder” e não é este o caminho que tem sido percorrido pela TVE. A administradora, que entrou em funções em julho, diz que ninguém pode dizer que foi afastado por ter sido usado o critério “da ideologia, por não importa em quem votam os profissionais nem de quem são amigos”.

Ainda que nem todos vejam com bons olhos ou acreditem nos argumentos de Rosa María Mateo e continuem a falar de purga, a administradora defende que é de lamentar que a televisão pública só interesse a alguns grupos quando a controlam. “As denúncias dizem que aqui respondeu-se a um critério que não era o da informação. Mas asseguro que comigo isto não vai acontecer. Quem sabe, os que me acusam de fazer isto não o pensam porque sabem que foi isto que aconteceu em algumas alturas?, questionou Rosa María, recordando que José Antonio Álvarez Gundín, ex-diretor de informação da estação, acumulou centenas de denúncias de manipulação de informação. É de recordar que a nova administradora tem contado com um coro de críticas do PP e Cidadãos, mas também com o apoio do PSOE e do Podemos.

No discurso que usou para explicar tudo o que tem vindo a ser feito e o caminho que pretende fazer nas estação pública espanhola, a administradora aproveitou ainda para evidenciar que o foco devia ser outro. Mais que falar de alterações que possam estar relacionadas com questões políticas, Rosa María Mateo explica que é importante falar de tópicos como a falta de igualdade de oportunidades que continua a existir. A administradora sublinha que em toda a história da estação existiram apenas três mulheres na liderança: Pilar Miró, Mónica Ridruejo e Carmen Caffarel. Sendo que o mesmo aconteceu ainda na rádio com María Jesús Chao e Paloma Zuriaga, que ocupa atualmente o cargo.

“Os meios de comunicação são um termómetro que mede a temperatura da igualdade e nós temos obrigação de estar atentos porque devemos ser uma referência que ajude a eliminar a discriminação que ainda existe neste campo”, salienta ainda.

De acordo com o El País, a administradora tem ainda defendido que não recebeu ordens do governo: “Isso nunca aconteceu e nunca acontecerá. Sou independente e ninguém me dará ordens”.

Recorde-se que já antes de alguns nomes serem afastados, havia polémica em torno do que se passava dentro da estação pública espanhola. Em maio deste ano, já havia guerra, com muitos trabalhadores da RTVE a acusarem manipulação da informação. Na verdade, pode mesmo dizer-se que uma verdadeira campanha contra a alegada manipulação invadiu as redes sociais. A intenção era fazer com que todos denunciassem casos de manipulação.

A ideia partiu de um grupo de trabalhadores da televisão e rádio públicas de Espanha que acusava o governo do Partido Popular de querer controlar a informação deste grupo. A campanha #AsíSeManipula surgiu nas redes sociais com o objetivo de dar a conhecer vários exemplos. “Nós não somos cúmplices e recusamo-nos a aceitá-lo. Exemplos claros e reais, já denunciados pelos conselhos de imprensa da TVE, RNE e RTVE.es, de como a direção atual manipula e impede que os cidadãos tenham informações gerais”, afirmavam os trabalhadores. O assunto chegou mesmo a ser discutido em Bruxelas.

O império dos comentadores

Afastamentos

• Entre os rostos que foram afastados estão alguns comentadores. Entre alguns dos nomes estão Javier Gállego e Carlos Cuesta. As vozes mais criticas dizem que não espaço para quem tem posições diferentes das do governo.

Política e televisão

• Há muito que são inseparáveis nos mais diversos pontos do mundo. Também em Portugal, sempre houve um império de comentadores onde quem manda muitas vezes são os políticos. Há muito que as televisões apostam em comentadores, mas quase todos são políticos, no ativo ou com funções suspensas.