A cidade de Salgado


Nunca terá havido na Câmara Municipal de Lisboa um vereador com tanto poder. Ninguém tem dúvidas de que o futuro da cidade se decide no gabinete de Manuel Salgado. Prosseguindo neste rumo, Lisboa ficará irreconhecível


As recentes entrevistas do ex-vereador Nunes da Silva e do ex-cabeça de lista do PS à CML Manuel Maria Carrilho concretizam acusações de extrema gravidade que, verdadeiras ou falsas, farão com que Manuel Salgado passe os próximos anos a cuidar da sua defesa. Estas acusações não deixam de ser tristes pelo facto de virem enublar uma carreira sólida e relevante no urbanismo português dos anos 80 e 90.

Mas cinjamo-nos ao que me parece fundamental questionar nestes onze anos de mandato à frente do urbanismo de Lisboa. Se é verdade que a legislação sobre o arrendamento urbano, alojamento local ou vistos gold tiveram um profundo impacto negativo em Lisboa, o PDM de Salgado não salvaguardou a cidade. A visão tardo-liberal repetiu modelos do século passado, aprofundou as condições para a vampirização da cidade, descuidou as redes de sustentabilidade e desvalorizou a intervenção cidadã nas principais decisões. A ideia de participação do seu pelouro está ao nível da das cidades mais subdesenvolvidas confundindo-se recorrentemente participação com o momento em que arquitectos apresentam o render à população.

Como tem vindo a ser escrito, nunca terá havido na Câmara Municipal de Lisboa um vereador com tanto poder e ninguém tem dúvidas que o futuro da cidade se decide no gabinete de Salgado. Prosseguindo neste rumo não é difícil prever que não se importará de vender os oito edifícios públicos na zona da Av. da Liberdade que pretende desafectar de utilidade pública, que fará da SRU Ocidental um facilitador da especulação e que não hesitará em fechar a Feira da Ladra para salvaguardar os interesses de um hotel. Este caminho fará com que Lisboa fique irreconhecível ou com que Salgado caia com estrondo arrastando, muito provavelmente, Fernando Medina e o PS.

Obviamente há outro caminho. A contra-ciclo, a cidade tem vindo a criar massa crítica que lhe permite produzir novas respostas ao nível da sustentabilidade, ecologia, transportes, cooperativismo, fundos não especulativos, co-habitação, gestão cidadã de espaço público ou bairros. Em muitos casos, já existem projectos ou ambicionam ganhar escala, mas encontram na CML uma muralha burocrática cujas portas só estão verdadeiramente oleadas para se abrir à especulação.

Arquiteto

Escreve à segunda-feira

 


A cidade de Salgado


Nunca terá havido na Câmara Municipal de Lisboa um vereador com tanto poder. Ninguém tem dúvidas de que o futuro da cidade se decide no gabinete de Manuel Salgado. Prosseguindo neste rumo, Lisboa ficará irreconhecível


As recentes entrevistas do ex-vereador Nunes da Silva e do ex-cabeça de lista do PS à CML Manuel Maria Carrilho concretizam acusações de extrema gravidade que, verdadeiras ou falsas, farão com que Manuel Salgado passe os próximos anos a cuidar da sua defesa. Estas acusações não deixam de ser tristes pelo facto de virem enublar uma carreira sólida e relevante no urbanismo português dos anos 80 e 90.

Mas cinjamo-nos ao que me parece fundamental questionar nestes onze anos de mandato à frente do urbanismo de Lisboa. Se é verdade que a legislação sobre o arrendamento urbano, alojamento local ou vistos gold tiveram um profundo impacto negativo em Lisboa, o PDM de Salgado não salvaguardou a cidade. A visão tardo-liberal repetiu modelos do século passado, aprofundou as condições para a vampirização da cidade, descuidou as redes de sustentabilidade e desvalorizou a intervenção cidadã nas principais decisões. A ideia de participação do seu pelouro está ao nível da das cidades mais subdesenvolvidas confundindo-se recorrentemente participação com o momento em que arquitectos apresentam o render à população.

Como tem vindo a ser escrito, nunca terá havido na Câmara Municipal de Lisboa um vereador com tanto poder e ninguém tem dúvidas que o futuro da cidade se decide no gabinete de Salgado. Prosseguindo neste rumo não é difícil prever que não se importará de vender os oito edifícios públicos na zona da Av. da Liberdade que pretende desafectar de utilidade pública, que fará da SRU Ocidental um facilitador da especulação e que não hesitará em fechar a Feira da Ladra para salvaguardar os interesses de um hotel. Este caminho fará com que Lisboa fique irreconhecível ou com que Salgado caia com estrondo arrastando, muito provavelmente, Fernando Medina e o PS.

Obviamente há outro caminho. A contra-ciclo, a cidade tem vindo a criar massa crítica que lhe permite produzir novas respostas ao nível da sustentabilidade, ecologia, transportes, cooperativismo, fundos não especulativos, co-habitação, gestão cidadã de espaço público ou bairros. Em muitos casos, já existem projectos ou ambicionam ganhar escala, mas encontram na CML uma muralha burocrática cujas portas só estão verdadeiramente oleadas para se abrir à especulação.

Arquiteto

Escreve à segunda-feira