Em 1990, a Frosinone foi apagada do mapa do futebol. A bancarrota ditou que a federação italiana afastasse a sociedade dos campeonatos nacionais. Durante quatro anos, uma nuvem escura tomou conta do céu do clube do Lácio, não longe de Roma. Depois, romperiam uns raios tímidos de sol.
Poucos adivinhariam que a terrível crise que assolou a Frosinone Calcio seria seguida de uma época de ouro, a mais extraordinária da história de uma organização fundada em 1912 sob o nome de Unione Sportiva Frusinate – uma organização que, na altura, não se preocupava grandemente com o calcio, já que só em 1928 resolveu inscrever uma equipa nas competições.
Na época de 2015-16, a Frosinone chegava finalmente à Série A. Por pouco tempo. Na época seguinte caía de novo no segundo escalão. Mas tinha-lhe ganho o gosto. Por isso está agora em vésperas de receber a Juventus e Cristiano Ronaldo.
“La Ciociara” é um romance de Alberto Moravia. Depois seria adotado ao cinema, em 1960. Passa-se durante a ii Guerra Mundial e o cerco de Roma. Cesira, a mãe, e Rosetta, a filha, fogem para a montanhosa região de Ciociara. Durante meses esperam pela chegada dos Aliados e pela libertação do país. Mas, quando ela chega, surgem também os goumiers marroquinos, que auxiliavam as tropas americanas na campanha de Itália, que as sujeitam a violação, caindo Rosetta num estupor mental.
História dura de uma terra dura.
Ciociara, que na Idade Média era conhecida por Campagna, é uma região difusa do centro de Itália que corresponde, mais quilómetro menos quilómetro, à província de Frosinone. O nome vem de cioce, um tipo de calçado muito comum usado pelos habitantes locais. Agora, esses sapatos são apenas para folclore.
Ciociari Os jogadores do Frosinone são conhecidos por ciociari (naturais de Ciociara, claro está) e o seu comandante é Moreno Longo, um jovem técnico de 42 anos que foi defesa central nos seus tempos de jogador do Torino, Chievo, Cagliari e Pro Vercelli. Aliás, seria precisamente no Pro Vercelli que assumiria o cargo de treinador principal, depois de alguns anos a trabalhar com camadas jovens. No dia 14 de junho de 2017 chegou a Frosinone. Perderia a subida automática à Série A por via de uma derrota frente ao Parma, mas conseguiu recuperar no play-off definitivo batendo o Palermo numa decisão a duas mãos.
Não se pode dizer que Longo comande uma equipa de estrelas. E a pequenina estrela que tem no plantel não passa de Joe Campbell, o costa-riquenho que surgiu como grande promessa no Arsenal mas passou os últimos sete anos de empréstimo em empréstimo, do Lorient ao Bétis, do Olympiacos ao Villareal e até ao nosso Sporting, casa na qual parece não ter deixado saudades. O médio esquerdo Emil Hallfredsson, natural da Islândia, também teve uma curta experiência no futebol inglês, no Tottenham, mas está radicado em Itália desde 2010, tendo jogado pelo Verona e pela Udinese. O contingente italiano do Frosinone é dominante no grupo. Mas os avançados Andrea Pinamonti, emprestado pelo Inter, Fredrico Dionisi, Daniel Ciofani (o capitão) e Luca Paganini parecem estar tão em negação como Joe Campbell: zero golos marcados em quatro jornadas!
E se as coisas se complicam lá na frente, o que dizer da retaguarda? O início de campeonato do próximo adversário da pluricampeã Juventus tem sido, no mínimo, desgraçado: Atalanta, fora – 0-4; Bolonha, casa – 0-0; Lazio, fora – 0-1; Sampdória, casa – 0-5. Não há forma de se dissipar do horizonte a ameaça terrível da Velha Senhora e da sua impressionante frente de ataque, com Dybala, Mandzukic e Cuadrado a apoiarem o faminto Ronaldo, já que Douglas Costa está a contas com o inevitável castigo ao seu gesto imundo de cuspir na cara de um adversário na última jornada.
Saliva à parte, o domingo será de festa no Estádio Benito Stirpe que, depois de anos a sofrer atrasos na sua construção (os adeptos da Frosinone chegaram a pô–lo à venda no e-bay por um euro, só por chalaça), parece ter substituído definitivamente o velhinho Comunal, carinhosamente tratado por Matusa. Sim, de Matusalém, o avô de Noé, o homem mais velho da Bíblia. Dizem que viveu 969 anos.