Popurinas
A propósito de “Bloom”, a excelente revista Fader titulava: “Pop Music Is Dead but Troye Sivan is still incredible”. Um perfeito exagero no geral e no particular. Nem a pop está morta, nem o australiano chegou para a salvar. Nem os singles universais de Drake são assim tão miseráveis, nem o antigo YouTuber é assim tão único. “Bloom” é um álbum de jovialidade e inocência amadurecida que corresponde aos desejos de uma minoria cada vez menos minoritária em processo de emancipação. E Troye Sivan tem o equilíbrio necessário entre fragilidade de quem sofre e a coragem de quem deixa para trás as dores de crescimento. De Sam Smith a Perfume Genius, não está só na luta e pertence a uma vaga pop sem medo de expor ao mundo a homossexualidade e de a expor como um instrumento. Se essa ferramenta é criativa, ou meramente promocional é outra questão. Em “Bloom”, o discurso é inabalável na honestidade mas daí a ser a banda sonora da salvação da Nova Zelândia à Islândia é outra cilindrada.
Falso império
“Boxer” é a prova de um império de papel construído em torno de uma das bandas mais sobrevalorizadas do século. À medida que a massa intelectualizada foi perdendo o poder de filtrar o que é válido e o que não é, foram restando poucos símbolos. Brancos, literatos e de meia-idade – o protótipo de escritores, colunistas e fabricantes de opinião. Em 2007, ano oficial da elevação do indie a categoria singular – empurrado por “For Emma, Forever Ago”, de Bon Iver, “Strawberry Jam” dos Animal Collective, ou “Cryptograms / Fluorescent Grey EP” dos Deerhunter, no dia 22 de maio saía “Boxer”, a obra-prima possível de uma banda sem poção mágica. A crítica preconceituosa levou-o ao colo e ergueu-lhe uma estátua. E os National agradeceram o louvor. Em 2017, revisitaram “Boxer” dos pés à cabeça em Bruxelas. O que estava bem, continuou bem, isto é a prosa de um Matt Berninger no pico da inspiração. E o que era cinzento, não mudou de cor – a falta de rasgo e o vazio de brilho. O tempo não corrigiu a cor.
Passaporte para a vida adulta
De Brisbane, uma das boas surpresas da estação. O trio conserva a jovialidade dos 19 anos mas já escreve canções como gente grande. “We’re Not Talking” é construído sobre bases convencionais de guitarra mas revela-se muito mais rico nos arranjos e nas histórias. Provavelmente, já ouvimos isto em qualquer lado mas não desta forma. Sobretudo, quando misturam essa vontade adolescente de rasgar os céus com as primeiras descidas aos infernos de quem perder a inocência. Tudo isto é mais espontâneo que racional mas “We’re Not Talking” tem esse gozo, para quem o escuta, de ser um boletim verdadeiro da passagem do tempo da juventude irresponsável para a vida a adulta. E é real, nada disto é encenado. Há metais, cordas e até castanholas a enriquecer vinhetas sonoras que partem de uma base pop para chegar a pontos mais complexos e elaborados. Um frenesim de energia elétrica e experimentalismo sónico a caminho de ser muito mais que a melhor banda do mundo da próxima semana. O segundo álbum blinda-os.