#Somos Táxi?


À hora a que entreguei este artigo ainda não era possível avaliar a extensão da paralisação dos taxistas do dia de ontem. Mas, antes mesmo de saber o desfecho, a minha decisão já estava tomada: de táxi, não ando mais. E decidi com alguma mágoa, pois o meu avô foi taxista durante anos, numa Lisboa…


À hora a que entreguei este artigo ainda não era possível avaliar a extensão da paralisação dos taxistas do dia de ontem.

Mas, antes mesmo de saber o desfecho, a minha decisão já estava tomada: de táxi, não ando mais. E decidi com alguma mágoa, pois o meu avô foi taxista durante anos, numa Lisboa antiga em que a profissão de taxista era desempenhada com brio, elegância e educação.

Tenho o maior respeito pela profissão. É dura, exigente e de desgaste rápido. Mas, em contrapartida, o que se espera de quem está ao volante de um táxi é, no mínimo, profissionalismo! E, infelizmente, profissionalismo é algo que não abunda, por estes dias, na carreira.

Profissionalismo não se cinge a uma licença e a testes para se obter uma carteira profissional. Profissionalismo implica respeito, educação e serviço ao cliente. 

Não quero, obviamente, generalizar, até porque continuam a existir muitos bons profissionais, mas, infelizmente, de há uns anos a esta parte, a profissão foi-se deteriorando e expondo condutas inaceitáveis para quem tem a responsabilidade de transportar passageiros.

Carros a desfazerem-se, sem condições de segurança, indumentárias inqualificáveis, odores, conduções perigosas, álcool e drogas são alguns dos exemplos mais evidentes do que se pode apanhar num táxi nos dias que correm. Ora, se o argumento do protesto contra a entrada em vigor, a 1 de novembro, da lei que regula as quatro plataformas eletrónicas de transporte que operam em Portugal – Uber, Cabify, Taxify e Chauffeur Privé – é a ausência de rigor e carta profissional dos condutores destes veículos, talvez não fosse má ideia lembrar que muitos taxistas apenas cumprem com o requisito da licença.

A reivindicação subjacente a este protesto é pífia, cingindo-se ao pedido de suspensão da lei ou, então, a fiscalização do diploma pelo Tribunal Constitucional, por considerarem que está ferido de inconstitucionalidades sem, no entanto, esclarecerem quais.

Para mim é claro: a opção para me transportar na cidade será sempre uma das quatro plataformas. Porquê? Porque gosto de entrar num carro limpo, ser bem recebido, ter um serviço ao cliente decente, não ter de levar com más disposições, com buzinadelas e arruaça no trânsito ou, em última análise, ser enganado no trajeto escolhido. 

A resistência à mudança é uma constante. Contudo, neste como noutros setores, não há forma de a travar. As novas plataformas tecnológicas vieram preencher um vazio que foi sendo criado pelos próprios taxistas. Pelo mau serviço que prestam, pela má educação e, claro, pelos preços que praticam que, em última análise, pesam sempre na tomada de decisão.

Os táxis e uma grande parte dos taxistas também mudaram mas, infelizmente, as mudanças que observámos não foram para melhor. 

Naturalmente, concordo que para se ser motorista profissional haja critérios de maior rigor e exigência, mas então que não se fiquem pela simples perícia na condução. Que sejam incluídos critérios de segurança, de civismo, educação e, claro está, serviço ao cliente, porque em bom rigor é o que os transportes de passageiros fazem: prestam um serviço.

Não sei qual será o desfecho do dia de ontem nem tão-pouco se continuará pelos próximos dias. Mas, para mim, o impacto que teve foi apenas confirmar o que já havia decidido: transporte na cidade não será feito de táxi. Felizmente vivemos em economia de mercado, em que escolher os serviços que queremos é uma opção e, por isso, não, #não somos táxi!

Escreve à quinta-feira