Bayern: dificilmente outro nome pode ser tão assustador para as equipas portuguesas, a despeito daquela final da Taça dos Campeões conquistada pelo FC Porto, em Viena, em 1987. Na verdade, o velho Estádio Olímpico de Munique e a atual Allianz Arena têm sido uma espécie de cemitérios para os representantes nacionais nas provas europeias, de tal forma que o Benfica já saiu de lá derrotado por 1-5, o FC Porto por 1-6 e o Sporting por 1-7. Parece um concurso de horrores, não é?
Hoje, os encarnados de Lisboa recebem a fúria vermelha da Baviera no Estádio da Luz, onde ainda há bem pouco tempo arrancaram um empate (2-2) que não serviu para anular a derrota da primeira mão em Munique (0-1) – uma eliminatória aparentemente equilibrada, algo que nunca foi real nos encontros anteriores. Mas, antes de embarcarmos nessa espécie de comboio fantasma em que se têm transformado os jogos entre ambos os clubes, vamos abrir um pequeno parêntesis para recordar uma curiosidade: o primeiro de todos os Benfica-Bayern, no dia 2 de abril de 1972.
Repare-se como o destino bate tantas vezes à porta da nossa existência: no Estádio de Colombes, em Paris, um desafio particular punha portugueses e alemães frente a frente. O Benfica tinha os olhos postos na eliminatória próxima, frente ao Ajax, para a Taça dos Campeões Europeus. Curiosa coincidência…
Havia um ambiente festivo.
Dizem as crónicas que o arranque da partida foi absolutamente sensacional: ao primeiro toque, sem arrebiques, uma vertigem absoluta do golo. Adolfo fez o 1-0, ao segundo minuto; nove minutos mais tarde foi a vez de o jovem Jordão assinar um remate violento à barra de Sepp Maier – na recarga, Vítor Baptista assinou o 2-0. Os alemães queixar-se- -iam depois que o facto de terem aterrado em Paris apenas umas horas antes do início da partida não lhes permitira estar nas suas melhores condições. Udo Lattek, treinador dos bávaros, lamentava-se: “Não queríamos vir aqui jogar, mas o compromisso estava assinado há bastante tempo. Tivemos de defrontar o Benfica e o resultado foi este. Há que dizer que o Benfica jogou muito bem, mas este não é o verdadeiro Bayern. Jordão é muito bom e Eusébio continua um perigo, embora já sem a velocidade de outros tempos.”
Roth, aos 40 minutos, fixaria o resultado final. Nada que abalasse a firme vitória benfiquista.
O “Miroir du Foot” faria a sua primeira página com Jordão: “Um jovem mágico que segue na peugada de Eusébio!!! Aquilo que ambos fizeram ontem no relvado de Colombes é digno do melhor futebol que alguma vez Paris já viu.”
Dolorosamente Passaram-se os anos No dia 5 de março de 1976, o Benfica recebeu o Bayern de Munique na primeira mão dos quartos-de-final da Taça dos Campeões. Já não havia Eusébio. Mas havia Jordão e Nené, Vítor Baptista, Toni e Shéu. Do outro lado brilhavam as estrelas de Gerd Müller, Karl-Heinz Rummenigge, Maier e Beckenbauer.
O empate (0-0) foi desolador Mas uma esperança bafejava ainda as águias na sua viagem até Munique. Não anteviam o inferno. Dietmar Cramer, treinador do Bayern, assumia publicamente as suas preocupações, Acreditava que o Benfica iria marcar pelo menos um golo e que isso podia entornar a eliminatória para o lado português.
Palavras que o vento levou. Ao 0-0 da primeira parte responderam os seis golos da segunda: Dürnberger (49 e 56’), Rummenigge (68’), Nené (70’) e Müller (72 e 80’). O Benfica marcara o seu golo adivinhável, sim senhor, mas fora varrido com violência da Taça dos Campeões. Os tempos haviam mudado. O futebol do centro da Europa mostrava-se infinitamente mais competitivo que o dos países latinos. E o Bayern de Munique arrancava na direção da sua terceira vitória consecutiva na competição.
O pesadelo não tardaria a repetir-se. Na época de 1981-82 ditou o sorteio que Benfica e Bayern se reencontrassem, desta vez nos oitavos-de-final da Taça dos Campeões. Novamente com a primeira mão a ter lugar em Lisboa. E novamente com um zero a zero muito comprometedor.
Lajos Baroti comandava uma equipa com vontade de retomar a sua velha tradição europeia e que Sven-Göran Eriksson voltaria a conduzir a uma final. Mas não chegou. Os alemães fecharam-se na Luz a sete chaves. Mesmo com Filipovic, Nené, Carlos Manuel, José Luís, Folha e Reinaldo, empurrados a partir de trás por Humberto Coelho, não houve forma de chegar ao golo. Queixaram-se os portugueses do azar, mas o futebol está-se geralmente nas tintas para essa faceta do infortúnio. A sentença ficava praticamente ditada.
Em Munique, no dia 4 de novembro de 1981, mais uma goleada: três golos de Dieter Hoeness (28, 36 e 55’) e um de Breitner (82’) a responder ao do inevitável Nené (63’). A ditadura do Bayern mantinha-se intocável. Na época de 1995-96 foi mais brutal do que nunca. Seria já Rui Vitória a contribuir para uma ligeira melhoria dos resultados há três temporadas. Agora, mesmo sabendo que o que vale são os pontos e não a eliminatória, ficamos à espera da força dessa fúria vermelha que sopra da Baviera.