Em janeiro deste ano abriu em Nova Iorque um restaurante que tem dado que falar. A especialidade da casa são os bifes grelhados no carvão, mas o aspeto mais digno de nota, ao que parece, é o gesto amaneirado com que o proprietário, o chefe turco Nusret Gökçe, distribui o sal sobre a carne.
E há outro aspeto relevante: o preço absurdo das refeições. Os críticos gastronómicos norte-americanos não têm perdoado estas extravagâncias. O “New York Times” arrasou o restaurante e o empresário Ronn Torossian escreveu no “Observer”: “Nunca em anos e anos a comer em restaurantes de luxo tive uma experiência tão dececionante como no Salt Bae, o novo restaurante de Nusret em Nova Iorque. Foi horrível”. O título do artigo diz quase tudo: “A minha refeição dececionante no restaurante Salt Bae de Nova Iorque custou 1400 dólares”. A fotografia do talão não o deixa mentir.
Mas isso foi em janeiro. Agora a polémica é outra. Na realidade, o restaurante de Nova Iorque é uma sucursal de uma cadeia que nasceu na Turquia. Nicolás Maduro, o presidente da Venezuela, visitou esta semana a casa-mãe, em Istambul, no regresso de uma viagem à China. Comeu um bife imponente, fumou o seu charuto e tirou fotografias com o mediático chefe.
Nada haveria de imoral nisto, não fosse dar-se o caso de o seu país estar a atravessar uma crise sem precedentes: os supermercados têm as prateleiras vazias, nos hospitais faltam medicamentos. Enquanto Maduro comia à grande e à francesa em Istambul, na Venezuela morria-se literalmente de fome. A ostentação e o exibicionismo nunca são bonitos, mas quando convivem de perto com a miséria extrema tornam-se ainda mais chocantes.
Posto isto, importa dizer que a grande farra de Maduro não é caso virgem. Vem até na melhor tradição comunista de semear a pobreza pelo povo e distribuir os privilégios pelos governantes.