A doença de Luís Filipe Vieira não será grave, mas o problema judicial pode ser um caso sério. Não desportivamente, pois não envolve a corrupção de árbitros ou de jogadores adversários para adulterar resultados, mas institucionalmente – dado que mancha o nome do clube, implicando-o em situações obscuras e jogos de poder duvidosos.
É certo que paulo gonçalves, o principal suspeito, não representa o clube, mas foi contratado pelo Benfica exatamente para estes jogos fora das quatro linhas. Não foi por acaso que o Benfica o foi buscar ao Boavista, quase como se comprasse um jogador. Paulo Gonçalves teria a seu cargo as jogadas não propriamente ilegais, fora da lei, mas duvidosas. A sua especialidade era movimentar-se em águas turvas. E certamente não o faria em proveito próprio mas a favor do clube – e, muito provavelmente, com o beneplácito do presidente.
E é aqui que tudo se joga. Vieira foi ou não o mandante? Tinha ou não conhecimento? Os benfiquistas acreditam que não – e escandalizam-se pelo facto de o seu clube ainda não se ter demarcado de Paulo Gonçalves, atirando-o as feras. Para os benfiquistas, Paulo Gonçalves é hoje um ativo tóxico. E como tal, o Benfica já deveria ter-se livrado dele.
Não concordo totalmente.
A marginalização de Gonçalves significaria, da parte do Benfica, um reconhecimento da sua culpabilidade. Um reconhecimento de que praticou ações condenáveis, ilegais – e, sendo essas ações em benefício do Benfica, o clube também ficaria comprometido.
Por outro lado, o afastamento de Paulo Gonçalves não afastaria o problema. Os atos praticados por ele (e alvo da acusação) pertencem ao passado – e, nessa altura, Gonçalves era funcionário do Benfica. Mesmo que o dispensasse agora, o Benfica não apagaria essa ligação.
E ficaria como um clube ingrato, que às primeiras dificuldades se dessolidariza dos seus servidores.
Os crimes praticados por Paulo Gonçalves envolvem irremediavelmente o Benfica, e o clube já não se livrará deles. Poderá ser absolvido em tribunal, mas não pode limpar o que se passou. E o despedimento de Gonçalves não resolveria nada.
Não acredito que o benfica venha a ser castigado desportivamente neste caso, pois isso seria adulterar a verdade desportiva. Aparentemente, o Benfica não ganhou jogos por obra e graça de Paulo Gonçalves. Mas a instituição Benfica deveria ser severamente punida, porque a corrupção de funcionários judiciais para obter informação reservada é um crime grave.