“Sorrindo, as quindas no chão, laranjas e peixe, maboque docinho,
A esperança nos olhos, a certeza nas mãos,
Mana Rosa peixeira, quitandeira Maria, Zefa mulata,
– os panos pintados garridos, caídos, mostraram o coração:
– Luanda está aqui!”
Luandino Vieira
Falar com distância de Angola é, para mim, sempre difícil.
Angola é a minha segunda pátria. Ali vivi durante 11 anos, antes, durante e depois da sua independência. Ali conservo grandes amigos, companheiros de várias décadas, numa amizade nascida nos bancos do liceu.
É, como escrevi acima, difícil distanciar-me suficientemente do país para poder escrever uma análise fria sobre a atual situação de Angola e do estado das relações com Portugal.
Resolvi, então, deixar também falar o coração.
A nova situação política nascida com a eleição do presidente João Lourenço, que está agora a completar o seu primeiro ano de mandato, abriu perspetivas muito animadoras e parece ter dado uma nova esperança aos angolanos e a todos os que gostam de Angola.
Não me esqueço de uma mensagem que um amigo me enviou, poucos dias depois da posse do novo presidente, que realçava o facto de a comitiva de João Lourenço, em trânsito na cidade de Luanda, ter parado num sinal vermelho, aguardando tranquilamente que o sinal verde abrisse.
Talvez os inúmeros “especialistas” de assuntos angolanos que por cá habitam achem ridículo realçar aquele acontecimento. Mas aquele e muitos outros sinais que João Lourenço vem dando foram importantes para fazerem os angolanos acreditar na mudança.
Na verdade, Angola respira outro ar.
E os grandes problemas sociais de Angola vão ser resolvidos? São uma prioridade real deste novo governo?
As respostas terão de chegar de forma clara, mas a tarefa é gigantesca. A febre do petróleo arrastou a economia do país para um buraco profundo e vão ser necessárias décadas para a levantar.
No entanto, para manter a esperança torna-se necessário que os sinais se convertam em obras concretas.
O primeiro-ministro António Costa visita Angola já no início da próxima semana. O presidente angolano visitará Portugal em finais de novembro. Bons sinais, sem dúvida, do normalizar de relações que esfriaram nos últimos tempos.
Porque tenho esperança e acredito que Angola vai encontrar o caminho do progresso e da justiça social?
Por uma razão simples. Porque acredito que são sempre as pessoas que fazem a diferença. Dois meus velhos amigos estão hoje no governo angolano. São pessoas preparadas e, sobretudo, muito sérias. E acreditaram nesta mudança.
E isso faz toda a diferença.
Jornalista