Assédio Moral. Trabalhadora castigada por ter recorrido  em tribunal de um despedimento ilegal

Assédio Moral. Trabalhadora castigada por ter recorrido em tribunal de um despedimento ilegal


Depois ter sido despedida por extinção de posto, Cristina Tavares recorreu e ganhou o processo. Agora é obrigada a carregar e descarregar as mesmas paletes dia a após dia


Cristina Tavares foi despedida por extinção de posto, recorreu no Tribunal da Relação e ganhou o processo por despedimento ilegal. No entanto a reintegração está a ser um “castigo” para a trabalhadora. A corticeira Fernando Couto – Cortiças, S.A. colocou Cristina Tavares a carregar e descarregar repetidamente uma palete com os mesmos sacos, dia após dia.

Desde maio, data em que foi readmitida, Cristina Tavares empilha e desempilha sacos de rolhas. “Todos os dias faço paletes, empilho sacos – uns em cima dos outros – e depois quando estiverem empilhados torno a desfazer, sempre no mesmo sítio”, conta a trabalhadora à TVI24. “Faço e desfaço, sempre no mesmo sítio, durante nove horas”, reforça.

O caso foi denunciado pelo Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, tendo sido partilhado na página oficial da CGTP. Para além do trabalho “completamente improdutivo”, como o caracteriza a força sindical, Cristina Tavares foi também proibida de utilizar a casa de banho dos trabalhadores e o estacionamento. “Foi-lhe atribuída em exclusivo uma casa de banho com tempo de uso controlado e sem o mínimo de privacidade, de tal modo que a trabalhadora se viu obrigada a trazer de casa um pano preto para ocultar a visibilidade para o interior”, pode ler-se no comunicado. Tudo por ter recusado “ser despedida com o falso argumento da extinção do posto de trabalho”.

Cristina acredita que a empresa pretende cansá-la até que se demita. Já sofreu insultos, humilhações e o próprio patrão chegou a perguntar-lhe se não tinha vergonha de estar a roubar. “Eu não estou a roubar nada, simplesmente estou aqui integrada porque o juiz decidiu e achou que tinha trabalho para mim”, respondeu ao empregador.

A trabalhadora afirma estar “a lutar pelo posto de trabalho porque precisa de trabalhar”. Divorciada e com um filho de 21 anos com síndrome de Asperger a seu cargo, Cristina Tavares é o único sustento da família. “Eu sei que aqui há trabalho, não me metem a trabalhar porque está outra [pessoa] no meu lugar. Mudaram de setor mas o trabalho está lá. E pergunto porque é que não vou eu para lá?”, questiona.

Ao JN, Vítor Martins, diretor financeiro da corticeira, diz que as acusações são falsas. “É tudo falso e já encaminhamos o assunto para o nosso departamento jurídico”, disse acusando Cristina Tavares de mentir. O responsável acrescenta ainda que a ACT tinha informado a empresa que o processo por assédio moral tinha sido arquivado.