Política de algibeira


O Bloco tem destas coisas. Tão depressa nos espanta com propostas fundamentadas e construtivas como nos desaponta com propostas inócuas


Tentar compreender a equação política nacional nos tempos que correm é um exercício penoso e pode ter como resultado uma valente dor de cabeça.

A fórmula governativa criada por António Costa, em relação à qual inicialmente tive grandes reservas, está ao nível da hipótese de Riemann. E à medida que nos aproximamos das eleições, mais complicado se torna compreendê-la. Estou em crer que dos parceiros que compõem a gerigonça, o Bloco é o que anda mais confuso.

Não estou por dentro da proposta e não estive em Portugal durante a crise Robles, mas confesso que não me cheira bem esta encenação bloquista em torno da taxa Robles!

Desde logo o nome… é só caricato! Designar uma taxa com o nome de um camarada de estrutura que, ao que parece, beneficiou da antítese do que a presente proposta pretende travar é uma encenação que não tem ponta por onde se lhe pegue.

A fundamentar esta encenação estão as declarações do PS e do PCP. O primeiro diz que não tinha conhecimento de nada, contrariando assim a posição bloquista de ser um processo de meses em negociação. O segundo não comenta a proposta porque não há nada de concreto e lembra que ele, sim, está a discutir com o governo propostas nesta área.

Confusos? Eu também!

A ideia que fica é que, claramente, o BE recorre ao marketing para limpar a imagem da metamorfose de Robin Hood para Xerife de Nottingham do vereador Robles. Bem, em bom rigor não propriamente a imagem de Robles, uma vez que este desapareceu de cena e não mais voltará, mas sim do próprio Bloco. 

Mas a vida dos portugueses e da economia nacional (porque, em última análise, é aqui que a taxa Robles terá impacto) não se coaduna com iniciativas de penitência nem com políticas de algibeira para repor a integridade imaculada do partido dos justiceiros sociais.

O que Robles fez – e dentro da legalidade, deve ressalvar-se – fizeram, fazem e virão a fazer muitos investidores. O que Robles fez não foi mais que aproveitar uma oportunidade que é fruto de se viver numa economia de mercado livre, aberta e concorrencial. Não é crime e, neste caso concreto, só peca porque contraria o discurso moralista do Bloco. Um discurso que é, em primeiro lugar, dirigido aos imorais investidores e especuladores imobiliários, e só depois dirigido a arrendatários que são alvo de despejos.

Desculpem-me, mas não é credível nem sensato fazer política assim.

Há um problema? Sim, há claramente um problema. Revitalizar uma cidade e recuperá-la dos escombros em que estava, garantindo um equilíbrio que não afaste as pessoas e as atire para fora da cidade, não é fácil! Nem aqui nem em nenhum lugar do planeta!

A solução é criar uma taxa de penalização da especulação imobiliária que sirva simultaneamente para limpar o bom nome de justiceiros do Bloco? Não creio!

Se recuarmos uns anos e nos lembrarmos de como era a cidade, degradada, com prédios devolutos ou em ruínas, e a compararmos com a cidade de hoje, percebemos que a especulação imobiliária não é o fim do mundo. A par de todo este face lifting que a cidade sofreu estão milhares de PME do setor da construção que viram a luz ao fundo do túnel e, com elas, milhares de trabalhadores que voltaram a ter emprego.

Nem tudo é mau neste processo e, por isso, atirar para o ar uma taxa de penalização, a meu ver, só teria um resultado imediato: refrear o investimento imobiliário, porque a especulação continuaria. Mas, por outro lado, que impacto teria na economia? O que aconteceria aos milhares de trabalhadores do setor da construção? E às empresas? E os inquilinos? Ficariam melhores? E o turismo continuaria a crescer? 

O Bloco tem destas coisas. Tão depressa nos espanta com propostas fundamentadas e construtivas como nos desaponta com propostas inócuas numa tentativa de não bastar ser, mas parecer moralista!

Não deve ser esse o caminho. O caminho é encontrar um equilíbrio entre o investimento e a defesa dos mais desfavorecidos. É encontrar mecanismos que permitam aos investidores continuar a criar valor na cidade mas, ao mesmo tempo, assegurar o bem-estar daqueles que não podem acompanhar os preços mobiliários.

Não tenho a solução! Nem me compete ter! Mas mais uma taxa não me parece que vá impedir despejos. Em última análise, ou refreará o investimento ou criará formas para contornar este imposto. Qualquer uma das duas não resolve o verdadeiro problema.

 

Escreve à quinta-feira

Política de algibeira


O Bloco tem destas coisas. Tão depressa nos espanta com propostas fundamentadas e construtivas como nos desaponta com propostas inócuas


Tentar compreender a equação política nacional nos tempos que correm é um exercício penoso e pode ter como resultado uma valente dor de cabeça.

A fórmula governativa criada por António Costa, em relação à qual inicialmente tive grandes reservas, está ao nível da hipótese de Riemann. E à medida que nos aproximamos das eleições, mais complicado se torna compreendê-la. Estou em crer que dos parceiros que compõem a gerigonça, o Bloco é o que anda mais confuso.

Não estou por dentro da proposta e não estive em Portugal durante a crise Robles, mas confesso que não me cheira bem esta encenação bloquista em torno da taxa Robles!

Desde logo o nome… é só caricato! Designar uma taxa com o nome de um camarada de estrutura que, ao que parece, beneficiou da antítese do que a presente proposta pretende travar é uma encenação que não tem ponta por onde se lhe pegue.

A fundamentar esta encenação estão as declarações do PS e do PCP. O primeiro diz que não tinha conhecimento de nada, contrariando assim a posição bloquista de ser um processo de meses em negociação. O segundo não comenta a proposta porque não há nada de concreto e lembra que ele, sim, está a discutir com o governo propostas nesta área.

Confusos? Eu também!

A ideia que fica é que, claramente, o BE recorre ao marketing para limpar a imagem da metamorfose de Robin Hood para Xerife de Nottingham do vereador Robles. Bem, em bom rigor não propriamente a imagem de Robles, uma vez que este desapareceu de cena e não mais voltará, mas sim do próprio Bloco. 

Mas a vida dos portugueses e da economia nacional (porque, em última análise, é aqui que a taxa Robles terá impacto) não se coaduna com iniciativas de penitência nem com políticas de algibeira para repor a integridade imaculada do partido dos justiceiros sociais.

O que Robles fez – e dentro da legalidade, deve ressalvar-se – fizeram, fazem e virão a fazer muitos investidores. O que Robles fez não foi mais que aproveitar uma oportunidade que é fruto de se viver numa economia de mercado livre, aberta e concorrencial. Não é crime e, neste caso concreto, só peca porque contraria o discurso moralista do Bloco. Um discurso que é, em primeiro lugar, dirigido aos imorais investidores e especuladores imobiliários, e só depois dirigido a arrendatários que são alvo de despejos.

Desculpem-me, mas não é credível nem sensato fazer política assim.

Há um problema? Sim, há claramente um problema. Revitalizar uma cidade e recuperá-la dos escombros em que estava, garantindo um equilíbrio que não afaste as pessoas e as atire para fora da cidade, não é fácil! Nem aqui nem em nenhum lugar do planeta!

A solução é criar uma taxa de penalização da especulação imobiliária que sirva simultaneamente para limpar o bom nome de justiceiros do Bloco? Não creio!

Se recuarmos uns anos e nos lembrarmos de como era a cidade, degradada, com prédios devolutos ou em ruínas, e a compararmos com a cidade de hoje, percebemos que a especulação imobiliária não é o fim do mundo. A par de todo este face lifting que a cidade sofreu estão milhares de PME do setor da construção que viram a luz ao fundo do túnel e, com elas, milhares de trabalhadores que voltaram a ter emprego.

Nem tudo é mau neste processo e, por isso, atirar para o ar uma taxa de penalização, a meu ver, só teria um resultado imediato: refrear o investimento imobiliário, porque a especulação continuaria. Mas, por outro lado, que impacto teria na economia? O que aconteceria aos milhares de trabalhadores do setor da construção? E às empresas? E os inquilinos? Ficariam melhores? E o turismo continuaria a crescer? 

O Bloco tem destas coisas. Tão depressa nos espanta com propostas fundamentadas e construtivas como nos desaponta com propostas inócuas numa tentativa de não bastar ser, mas parecer moralista!

Não deve ser esse o caminho. O caminho é encontrar um equilíbrio entre o investimento e a defesa dos mais desfavorecidos. É encontrar mecanismos que permitam aos investidores continuar a criar valor na cidade mas, ao mesmo tempo, assegurar o bem-estar daqueles que não podem acompanhar os preços mobiliários.

Não tenho a solução! Nem me compete ter! Mas mais uma taxa não me parece que vá impedir despejos. Em última análise, ou refreará o investimento ou criará formas para contornar este imposto. Qualquer uma das duas não resolve o verdadeiro problema.

 

Escreve à quinta-feira