A Suécia aguentou o embate da crise mantendo a economia intacta, o Estado-providência relativamente bem de saúde e a tradição (e orgulho) de receber de braços abertos exilados e refugiados. Aliás, para a robustez da sua política social muito contribuem os estrangeiros, que pagam os impostos em vez dos nacionais – já que há mais suecos a reformar-se que a entrar no mercado de trabalho.
Se, além disso, a grande vaga de migrantes que cruzavam o Mediterrâneo para chegar à Europa decresceu consideravelmente, havendo muito menos estrangeiros à procura de se instalar na Suécia, porque tem o tema tanta importância na sociedade sueca e por que razão há um partido (Democratas Suecos) que vai aumentando o seu peso político com base sobretudo no tema da imigração?
De acordo com um estudo da Universidade de Estocolmo, citado pelo The Local, uma grande percentagem dos apoiantes da extrema-direita representada pelo DS viu a sua situação económica piorar desde 2006. O estudo, intitulado “Perdedores Económicos e Vencedores Políticos: a Direita Política Sueca”, mostra que o mercado de trabalho e a distribuição da riqueza explicam melhor o crescimento do apoio à extrema-direita que a questão da imigração.
“Ouve-se frequentemente que o sucesso do DS vem da política de imigração sueca. A nossa análise não encontra nenhuma razão empírica entre a percentagem de voto do DS – quer nos municípios quer nos distritos – e uma série de medidas para a imigração a nível local”, referiu ao The Local uma das coautoras do estudo, Johanna Rickne, professora de Economia da Universidade de Estocolmo e professora visitante na Universidade de Yale.
“A melhoria da economia sueca é um benefício dos imigrantes que chegaram há algum tempo – aqueles que chegaram crianças ou foram educados na Suécia. Estão a dar-se melhor no mercado de trabalho que os recém–chegados”, explica Patrick Joyce, do think tank Ratio, à revista “The Atlantic”. “De certa forma, estão a ajudar a economia a crescer”, acrescenta.
O DS concentra-se muito na questão da imigração porque o partido está a capitalizar o descontentamento da Suécia rural, onde há muitos que se sentem ameaçados na sua cultura e tradição, e a ficar para trás.
Matts Seijboldt, vereador do DS em Lindesberg, duas horas de carro a noroeste de Estocolmo, adotou para si nas eleições locais a frase de Donald Trump na versão sueca: “Tornar a Suécia grande outra vez.” Em Lindesberg como noutras pequenas cidades do interior da Suécia, a população envelhece a ritmo mais elevado que a média nacional e o número de idosos que temem perder as suas reformas por causa do impacto da chegada dos imigrantes é maior.
Mas o presidente da Câmara de Lindesberg, Bengt Storbacka – que pertence ao partido social–democrata, dominador da política do país há um século -, limita-se a dizer que tudo deriva da “perspetiva errada” que os eleitores do DS têm da realidade.