Taça de Portugal. Beira-Mar renascido e mais sete insurretos

Taça de Portugal. Beira-Mar renascido e mais sete insurretos


A primeira eliminatória da prova-rainha do futebol português reservou oito surpresas, com históricos a sorrir… e outros a cair


Passou quase despercebido, com o foco mediático apontado para outros acontecimentos – de maior ou menor importância, isso já fica ao critério de cada um –, mas jogou-se este fim de semana a primeira eliminatória da Taça de Portugal. Em campo estiveram, para já, apenas equipas do terceiro escalão nacional (Campeonato de Portugal) e das várias divisões distritais, mas nem assim deixou de haver surpresas. E grandes, nalguns casos.

Uma das maiores chegou de Viseu, mais propriamente de Vildemoinhos, onde mora um Lusitano que nos últimos anos tem assumido a candidatura à subida à II Liga – na época passada só caiu nos quartos-de-final da fase de subida do Campeonato de Portugal, perante a União de Leiria. Pois bem: este domingo, a jogar em casa, a equipa viseense chegou ao intervalo a perder por incríveis 4-0 com um adversário proveniente da distrital de Aveiro. É preciso dizer, claro, que esse adversário dá pelo nome de Beira-Mar, um clube histórico do futebol nacional e que tem o ponto mais alto do seu palmarés precisamente nesta competição: a conquista da Taça em 98/99, curiosamente uma temporada em que até desceu para a II Liga.

O atual Beira-Mar, todavia, está longe de deter tal estatuto. O clube aveirense amarga nos escalões distritais desde 2015, para onde caiu diretamente da II Liga por questões financeiras, perseguindo esta época mais uma vez o objetivo de subir ao terceiro escalão do futebol nacional. No plantel, poucos são os nomes que dirão alguma coisa ao comum adepto do futebol nacional: além de Diego Tavares, central brasileiro que ficou marcado pelo envolvimento, enquanto jogador do Oriental, no escândalo de corrupção conhecido como Jogo Duplo, destacam-se o capitão e lateral-direito Pedro Moreira e o médio ofensivo Artur, ambos com enorme passado na I Liga (grande parte dele ao serviço do clube auri-negro) e já com 34 anos. Artur, de resto, foi mesmo o autor do quarto golo do Beira-Mar neste encontro, mostrando ainda ter argumentos para brilhar na prova-rainha do futebol português.

 

Algarve foi palco de duas surpresas Ao todo, foram oito os conjuntos que conseguiram eliminar equipas do escalão superior (pode ver o quadro completo dos “tomba-gigantes” aqui à direita). Merecem, porém, menção especial os feitos de Lusitano de Évora e Silves, ambos conseguidos debaixo do abrasador sol algarvio. Em Albufeira, o Ferreiras, que se estreia esta temporada nos campeonatos nacionais, foi surpreendido com um golo no último fôlego do encontro… e apontado por um central: Pedro Amendoeira, de 25 anos, natural de Évora e a cumprir o primeiro ano no Lusitano, depois de ter jogado toda a vida (à exceção de um ano no Canaviais)… no rival Juventude.

Com 14 presenças na I Divisão, a última das quais no já longínquo ano de 1965/66, o Lusitano vai acalentando ano após ano a esperança de regressar aos campeonatos nacionais, onde não marca presença desde 2009/10 (III Divisão). Ostenta orgulhosamente as chegadas às meias-finais em 1953 e 1959 como os pontos mais altos da sua história na Taça de Portugal. Para já, certamente não ambicionará igualar tal cenário, mas a caminhada 2018/19 ainda agora começou…

Em Olhão, um choque imenso para os adeptos de um clube que ainda há cinco anos militava na I Liga. Mergulhado numa grave crise financeira e a atravessar provavelmente o período mais negro da sua história, o Olhanense foi afastado nas grandes penalidades pelo bem mais modesto Silves, depois do 0-0 no fim do tempo regulamentar. Ao i, André Matias, provavelmente o elemento mais cotado do plantel silvense – regista passagens por Belenenses (formação), Portimonense, Farense, Atlético e o próprio Olhanense –, descreve os momentos de alegria vividos no plantel após a histórica vitória.

“É um orgulho enorme, uma sensação difícil de descrever. Acreditámos sempre que era possível conquistar a passagem e preparámo-nos bem para o tipo de futebol que íamos encontrar, mais direto. Se o Olhanense tivesse optado por um futebol diferente, mais ofensivo, teríamos tido mais dificuldades, porque aí ia notar-se mais a diferença de andamento. No prolongamento ainda tivemos a melhor oportunidade do jogo, uma bola ao poste, e nos penáltis fomos mais competentes: os executantes não tremeram e o nosso guarda redes [André Pereira] esteve a um grande nível. Foi uma vitória justa”, refere o avançado, garantindo que as ambições do Silves, em pleno ano de centenário, passam claramente por subir de divisão (o motivo que o fez aceitar descer um patamar, apesar dos inúmeros convites para permanecer no Campeonato de Portugal).

Na Taça, é continuar a desfrutar mas sempre com o pensamento em chegar mais além… mesmo que o sorteio dite uma ida ao mítico Estádio S. Luís, casa dos leões de Faro. “Seria especial para mim ter a oportunidade de voltar a pisar o ‘inferno’ onde fui tão feliz e onde tenho muitos amigos. Mas iria para ganhar”, sentencia Matias.

 

Gil, Felgueiras e o outro Chaves Nos restantes encontros, destaque para o triunfo do Gil Vicente (em trânsito para a I Liga, ainda no âmbito do famigerado Caso Mateus) no reduto do Vianense e para a goleada da equipa satélite do Chaves (que tem precisamente o mesmo nome do conjunto primodivisionário, mas que a FPF não considera equipa B) em casa do Vinhais: 1-6. O maior triunfo do dia pertenceu, porém, ao Felgueiras: 9-0 na receção ao Vila Flor.