Um homem de 52 anos, recluso no Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, foi encontrado morto na cela no domingo, em dia de visitas. O detido estava em fim de pena, prestes a ser libertado, mas tudo aponta para que tenha sido o próprio a por fim à vida.
O episódio foi tornado público nas redes sociais pela Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso (APAR). Ao i, Vítor Ilharco, secretário-geral da associação, explica que este recluso estava já “num regime aberto, virado para o exterior, que permite que os reclusos trabalhem fora da cadeia e regressem à noite”. O homem, que tomava conta de gado, foi submetido a um teste do balão quando regressou à cadeia depois de mais um dia de trabalho. A análise acusou álcool no sangue.
Como punição, o recluso voltou ao regime anterior, sendo impedido de trabalhar e voltando a passar 22 horas na cela.
É que, se a APAR é apologista de que todos os reclusos devem trabalhar – isso é aliás, segundo Ilharco, algo que os reclusos querem, apesar de o valor recebido por hora rondar os 2 euros -, já a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) considera o trabalho uma benesse e só o permite “aos reclusos que entende”. Por isso, “perante um delito, a primeira coisa que faz é impedir que o recluso trabalhe”, lamenta o secretário-geral da APAR.
A mudança brusca da situação do homem de 52 anos, acredita Ilharco, poderá ter desencadeado um estado depressivo que esteve na base do suicídio.
Uma situação comum? Pode causar estranheza que um recluso prestes a sair da cadeia tome uma atitude destas, mas não é uma situação assim tão rara. “A saída torna as coisas mais complicadas”, nota Vítor Ilharco. O responsável da APAR diz mesmo ter conhecimento de inúmeros casos de reclusos, “especialmente com mais idade, que perante a aproximação do fim de pena não querem sair porque não têm família nem ninguém que os possa receber cá fora”.
O i tentou contactar a DGRSP para obter mais esclarecimentos, mas sem sucesso.