O Sporting perdeu a graça


As eleições no Sporting não tiveram graça nenhuma. Não houve grupos de arruaceiros, não houve insultos, não houve ameaças, não houve tentativas de agressão. Tudo decorreu numa monótona normalidade. Até os resultados foram os previstos: Varandas ganhou, Benedito teve o maior número de votantes, Ricciardi ficou em terceiro. Tudo chato e previsível. Bem dizia Bruno…


As eleições no Sporting não tiveram graça nenhuma. Não houve grupos de arruaceiros, não houve insultos, não houve ameaças, não houve tentativas de agressão. Tudo decorreu numa monótona normalidade. Até os resultados foram os previstos: Varandas ganhou, Benedito teve o maior número de votantes, Ricciardi ficou em terceiro. Tudo chato e previsível.

Bem dizia Bruno de Carvalho que, sem ele, as televisões iam perder audiências e os jornais iam perder vendas. Bruno é que animava a malta.

Virou-se uma página na história do Sporting que deve ficar na memória de todos os adeptos. Um louco pode prometer o mundo – mas não deixa de ser louco e, no momento próprio, provoca uma catástrofe. Hitler também empolgou os alemães, teve milhões de seguidores, encheu praças gigantescas – e, por fim, conduziu gloriosamente a Alemanha para o abismo.

Os loucos, mais tarde ou mais cedo, revelam-se.

Sobre o regresso do Sporting à normalidade, deve salientar-se o extraordinário trabalho de Sousa Cintra. Já o fiz em crónica anterior, mas é justo repeti-lo: o velho leão foi buscar o Sporting ao fundo do poço e trouxe–o à superfície. Artur Torres Pereira e os outros que fizeram parte dos órgãos de transição também merecem palmas, mas Sousa Cintra foi o forcado que se atirou para os cornos do touro e não o deixou fugir.

Quanto ao futuro, julgo que os sportinguistas escolheram bem. Varandas é o candidato mais completo, o que já conhece os cantos à casa e pode dar continuidade ao que Bruno de Carvalho fez de bom, eliminando o que fez de (muito) mau.

Benedito parece um homem genuíno, bem formado, mas falta-lhe alguma maturidade. Apesar de ser um ano mais velho do que Varandas, parece seu… sobrinho.

José Maria Ricciardi é um caso à parte. Nestas eleições era um outsider. Antes, nunca estivera dentro do mundo do futebol, sempre fizera parte doutro universo, era uma espécie de banco privado a que o Sporting recorria em tempos de dificuldade.

Agora decidiu candidatar-se, atirar–se para a frente, embora reconhecendo não perceber nada de futebol. Neste sentido, foi um ato de coragem e de generosidade. E a equipa vencedora deveria aproveitar a sua experiência profissional, pois as questões financeiras são cada vez mais importantes no mundo do futebol. 

O futebol profissional, hoje, é um negócio de centenas de milhões, de milhares de milhões, e não é para amadores ou curiosos – é para profissionais. Assim, mesmo perdendo, Ricciardi deveria ficar junto dos vencedores, para bem do clube. Já não podendo auxiliar financeiramente o Sporting, como noutros tempos, Ricciardi pode ajudá-lo com a sua experiência.

O Sporting voltou à normalidade. Os telejornais vão deixar de estar pintados de verde. Uma chatice!