Teve ontem início, e logo com um Alemanha-França, um daqueles jogos que é sempre do quilé, como gostava de dizer o grande Assis Pacheco, a primeira edição da nova competição posta em marcha pela UEFA e que se destaca por ser disputada em moldes bem diferentes daqueles a que estamos habituados. Deste mês de Setembro, ainda a gatinhar num final de Verão que promete o calor que não surgiu em Maio, até Novembro, as 55 seleções filiadas no organismo irão bater-se na fase de grupos, estando agendada uma fase final para Junho de 2019.
Foi no dia 4 de Dezembro de 2014 que a Liga das Nações, nome que remete para a velhinha Taça das Nações, predecessora do atual Campeonato da Europa, surgiu no panorama das provas continentais. O Comité Executivo da UEFA decidiu levar a cabo a ideia de Yngve Hallén, presidente da Federação Norueguesa de Futebol: um prova bianual que permitisse reduzir o número de jogos particulares, muitos deles só para cumprir o calendário estabelecido pela FIFA, aumentando a competitividade das seleções. E, assim sendo, o projeto estabeleceu que se dividiriam as equipas em quatro grupos, ou ligas, segundo o critério do ranking publicado imediatamente após a fase eliminatória para o Campeonato do Mundo da Rússia. Assim: 12 seleções na Liga A; 12 na Liga B; 15 na Liga C; 16 na Liga D.
Debrucemo-nos mais demoradamente sobre a Liga A, afinal aquela que nos diz respeito devido à presença portuguesa. Fazem parte dela, por ordem classificativa, a Alemanha, Portugal, Bélgica, Espanha, França, Inglaterra, Suíça, Itália, Polónia, Islândia, Croácia e Holanda. A seleção nacional ficou a saber, no dia 24 de Janeiro deste ano, no sorteio de Lausanne, que seria integrada no Grupo 3, com a Itália (primeiro jogo no dia 10 no Estádio da Luz) e com a Polónia.
Como está bem de ver, só as 12 equipas da Liga A estão capacitadas para ganhar o troféu de sete quilos e meio de prata maciça que mede 71 centímetros de altura e pretende representar a união entre todos os países da Europa. Os vencedores dos quatro grupos de três equipas – jogos casa e fora – serão apurados para a a tal fase final (meias-finais e final) cujo país organizador será conhecido em dezembro. O pior classificado de cada grupo desce de divisão para a Liga inferior – e isto acontece em todas as Ligas exceto na D, por motivos óbvios. Nas ligas B, C e D, o primeiro de cada grupo sobe de divisão. Acresce que há quatro lugares em aberto na fase final do Campeonato da Europa de 2020 que podem vir a ser ocupados por equipas vindas da Liga das Nações que não se tenham apurado através da fase de qualificação. Uma espécie de segunda hipótese atribuída com recurso a play-offs entre as mais bem pontuadas das não classificadas.
Críticas. Claro que uma decisão como a tomada pela UEFA, e baseada na ideia de que é mais interessante substituir os vulgares amigáveis por jogos com um sentido de competição, levantou várias críticas, até porque os jogos das ligas C e D não parecem basicamente entusiasmantes, apesar de poderem dar ainda esperança de qualificação para a fase final do Europeu: afinal é expectável que as equipas das ligas A e B cumpram a obrigação de se apurarem na fase eliminatória.
No futebol de hoje, uma prova com estas características e com esta dimensão não podia ficar a leste dos prémios monetários. Estabeleceu a UEFA que um bolo de 76,250 milhões de euros estarão em jogo: 1,5 para cada seleção na Liga A; 1 na Liga B; 750 mil euros na Liga C; 500 mil na Liga D. Os vencedores de cada grupo dobram o prémio. O vencedor da primeira Liga das Nações receberá um prémio de 4 milhões e 500 mil euros; o finalista arrecadará 3 milhões e meio; o terceiro classificado terá direito a 2,5 milhões e, finalmente, o quarto classificado 1,5 milhões. Nada despiciendo, como se constata, mas ainda assim provocando maiores dicotomias entre países ricos e remediados (em termos de futebol, claro está), pois só os melhores do ranking podem sonhar com os bónus gordos.
Toda a competição foi construída com base nas habituais estratégias de marketing que se utilizam nas outras grandes provas internacionais. A bola, por exemplo, fabricada pela Adidas, pretende ser marcante, embora não pareça absolutamente original. O hino tem letra em latim cantada por um coro acompanhado por uma orquestra filarmónica e foi composto num estilo que mistura a música clássica com a música eletrónica. Será que é suficiente para emocionar jogadores e espetadores aquando da entrada em campo? Poderão tirar dúvidas aqueles que na próxima segunda-feira se deslocarem ao Estádio da Luz para verem frente a frente Portugal e Itália, mesmo que sem o agora “italiano” Ronaldo. A verdade é que dá a sensação de que o futebol já não passa sem estes pormenores circundantes. Mas o povo quer mesmo é a alegria do golo.