A tribo do futebol


A crise de um clube desportivo como o Sporting é um assunto nacional


“Visto objetivamente, este é um dos padrões de comportamento mais estranhos que podemos observar em toda a sociedade moderna.” Desmond Morris

 

Um grande clube português, o Sporting, tem mobilizado, desde há vários meses, o interesse generalizado da comunicação social, pelas piores razões.

A crise gerada em maio deste ano poderá ter agora o seu fim, com as eleições de amanhã para uma nova direcção.

A crise de um clube desportivo como o Sporting Clube de Portugal é assunto nacional, obviamente, por causa do desporto nacional, o futebol.

Foi por isso que recorri ao livro de Desmond Morris, a quem “roubei” o título para esta crónica, reeditado com algumas actualizações este ano, por ocasião do Mundial de Futebol.

O livro deste zoólogo, observador atento dos seres humanos, escrito em 1981, compara o jogo e toda a sua envolvência, a um complexo ritual tribal, que é seguido atualmente em todo o mundo.

“O animal humano é uma espécie extraordinária. Entre todos os acontecimentos da história humana, aquele que atraiu a maior assistência não foi uma grande ocasião política, nem uma celebração especial de alguma proeza complexa nas artes ou ciências, mas sim um simples jogo de bola – uma partida de futebol. Calcula-se que mais de mil milhões de pessoas terão assistido a uma final do Campeonato do Mundo, quando esta foi transmitida na televisão global”, escreve Desmond Morris na introdução ao seu livro.

Ao analisar toda a envolvência do futebol, Morris debruça-se também sobre o papel dos dirigentes desportivos, a que chama o Conselho Tribal. 

E, quando há crise no dito Conselho?

“Tudo muda quando sobre o pano desse prolongado drama que é a cisão directiva. Em termos de contenção e de pensamento racional, esta apresenta todas as qualidades da expulsão do chefe de um bando de babuínos, em que os roncos e as atitudes muitas vezes passam da sala da direcção para as colunas dos jornais. Segue-se um período em que o ar se encontra repleto de ameaças de demissão e de recriminações, até que a poeira assenta e um novo presidente é entronizado como chefe tribal, ou o antigo triunfa finalmente, ferido, mas não vergado. Normalmente, segue-se um rescaldo de ressentimentos que continuam a fervilhar nos corredores tribais durante algum tempo, prontos a transbordar sempre que a sorte do clube é questionada por inglórias derrotas no campo de jogo”.

Será que Desmond Morris andou pelos lados de Alvalade?

 

Jornalista
 


A tribo do futebol


A crise de um clube desportivo como o Sporting é um assunto nacional


“Visto objetivamente, este é um dos padrões de comportamento mais estranhos que podemos observar em toda a sociedade moderna.” Desmond Morris

 

Um grande clube português, o Sporting, tem mobilizado, desde há vários meses, o interesse generalizado da comunicação social, pelas piores razões.

A crise gerada em maio deste ano poderá ter agora o seu fim, com as eleições de amanhã para uma nova direcção.

A crise de um clube desportivo como o Sporting Clube de Portugal é assunto nacional, obviamente, por causa do desporto nacional, o futebol.

Foi por isso que recorri ao livro de Desmond Morris, a quem “roubei” o título para esta crónica, reeditado com algumas actualizações este ano, por ocasião do Mundial de Futebol.

O livro deste zoólogo, observador atento dos seres humanos, escrito em 1981, compara o jogo e toda a sua envolvência, a um complexo ritual tribal, que é seguido atualmente em todo o mundo.

“O animal humano é uma espécie extraordinária. Entre todos os acontecimentos da história humana, aquele que atraiu a maior assistência não foi uma grande ocasião política, nem uma celebração especial de alguma proeza complexa nas artes ou ciências, mas sim um simples jogo de bola – uma partida de futebol. Calcula-se que mais de mil milhões de pessoas terão assistido a uma final do Campeonato do Mundo, quando esta foi transmitida na televisão global”, escreve Desmond Morris na introdução ao seu livro.

Ao analisar toda a envolvência do futebol, Morris debruça-se também sobre o papel dos dirigentes desportivos, a que chama o Conselho Tribal. 

E, quando há crise no dito Conselho?

“Tudo muda quando sobre o pano desse prolongado drama que é a cisão directiva. Em termos de contenção e de pensamento racional, esta apresenta todas as qualidades da expulsão do chefe de um bando de babuínos, em que os roncos e as atitudes muitas vezes passam da sala da direcção para as colunas dos jornais. Segue-se um período em que o ar se encontra repleto de ameaças de demissão e de recriminações, até que a poeira assenta e um novo presidente é entronizado como chefe tribal, ou o antigo triunfa finalmente, ferido, mas não vergado. Normalmente, segue-se um rescaldo de ressentimentos que continuam a fervilhar nos corredores tribais durante algum tempo, prontos a transbordar sempre que a sorte do clube é questionada por inglórias derrotas no campo de jogo”.

Será que Desmond Morris andou pelos lados de Alvalade?

 

Jornalista